sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Aida Mata e Maria João Costa. O Mosteiro de S. Martinho de Tibães. Dados para o Conhecimento da Recuperação de um Património. « Com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, em 1834 é encerrado e os seus bens, móveis e imóveis, vendidos em hasta pública ou integrados em colecções de museus e bibliotecas nacionais»


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O Património.
«O Mosteiro de S. Martinho de Tibães, antiga Casa Mãe da Congregação Beneditina portuguesa, situa-se na região norte de Portugal, a 6 km a noroeste de Braga, na freguesia de Mire de Tibães.

Propriedade do Estado Português e afecto ao Instituto Português do Património Arquitectónico/Ministério da Cultura, o Mosteiro de São Martinho de Tibães está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 19214, pelo decreto lei nº 33587, e protegido por uma Zona Especial de Protecção, fixada em Diário da República, I Série, nº 187 de 13-0B-1994. O cruzeiro do terreiro é Monumento Nacional desde 1910. Fundado em finais do século XI, quando o condado portucalense começava a bracejar e os homens de Cluny introduziam a regra monástica de S. Bento, arvorou-se, com o apoio real e as concessões de Cartas de Couto, num dos mais ricos e poderosos mosteiros do norte de Portugal. A crise demográfica e económica que a partir de meados do século XIV se instalou em Portugal, veio reflectir-se duramente no quotidiano monástico de Tibães, que viveu um longo período de decadência material e espiritual.



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Com o Concílio de Trento, o Mosteiro de S. Martinho de Tibães recebe a nova reforma monástica, participa na fundação da Congregação dos Monges Negros de São Bento dos Reinos de Portugal e torna-se Casa Mãe de todos os mosteiros beneditinos. Espaço monumental belíssimo, assume-se, durante os séculos XVII e XVIII, como importante centro produtor e difusor de culturas e estéticas, transformando-se num dos maiores e mais importantes conjuntos monásticos beneditinos e num lugar de excepção do pensamento e arte portugueses.

Com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, em 1834 é encerrado e os seus bens, móveis e imóveis, vendidos em hasta pública ou integrados em colecções de museus e bibliotecas nacionais. Este processo só terminaria em 1864 com a compra, por privados, de grande parte do edifício conventual. Desafectado das suas funções iniciais, com excepção das de igreja e de residência, o Mosteiro de S. Martinho de Tibães virá assistir, sobretudo a partir dos anos setenta do século passado, à delapidação do seu património nuclear, à degradação e mesmo à ruína. Desta situação é resgatado em 1986 através da compra pelo Estado Português da propriedade em uso privado, com a excepção de uma parcela da cerca - a Quinta da Ouriçosa - que continuou na posse dos antigos proprietários.



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Um novo momento começou então para o «velho» mosteiro beneditino que, apesar do estado de abandono que apresentava, era um património verdadeiramente notável, repositório de história e arte, impressionando como «Lugar e Memória». Marcava-nos o seu edificado monumental; a sua traça arquitectónica; a vastidão das suas alas conventuais com os entalhados tectos de madeira e as enormes tábuas de pinho manso dos seus soalhos, a magnificência da Sala do Capítulo; a exuberante talha dourada e a rica imaginária da Igreja e da Sacristia; a variada decoração azulejar; a organização espacial, a beleza arquitectónica, as cores, os cheiros e os sons da sua Cerca.
No Mosteiro de Tibães impunha-se, de imediato, salvaguardar, proteger e valorizar, para lhe conferir o uso e o conhecimento, para o resgatar da sua condição de perda, devolvendo-o à fruição pública e fazê-lo readquirir o seu «lugar de cultura». In Aida Mata e Maria João Costa, Mínia, nº 10, IIIª Série, 2002, ASPA, IPPAR.

(Continua)
Cortesia de Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural/JDACT