quarta-feira, 15 de abril de 2015

Poesia. Cuca. Raiz. «Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos»

jdact e pablocorralvega

Fado do Cansaço
«De tanta vida que prendo,
sobram palavras sem ideias,
é uma agitação cá dentro
um emaranhar de teias…
É como um nó na garganta,
que prende a respiração,
poeira que se levanta,
ai, dentro do meu coração.

Sê como o vento…
Liberta! Solta!
Sê como o vento,
a libertar do teu pensamento.
Vê com o olhar…
Liberta! Solta!
Vê com o olhar,
mais profundo, mais singular.

Com toda a essência que prendo,
surgem mais e mais porquês,
é uma agitação cá dentro,
desejo, saudades…, talvez.
Cansaço, sobre cansaço,
sufoco, sombrio,
à beira do meu colapso,
descanso, páro, adio…»
Poema de Cuca Roseta, in ‘Raiz


Fado da Vida
«É no monte escarpado,
que à hora sexta acontece,
morre só por ter amado
por todos abandonado,
fecha os olhos e anoitece.

Deixa o mundo vil bem cedo,
pelo chão é arrastado
soterrado num penedo,
fruto de um estranho medo
que é amar e ser amado.

Três dias de solidão,
na terra reina a maldade
laje movida do chão,
marcas no centro da mão
revelam ser verdade.

Gente incrédula esqueceu,
sua alma assim está ferida,
só tarde se percebeu
que se Cristo se perdeu
foi para se encontrar a vida».
Poema de José Avilez, in ‘Raiz

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