sábado, 4 de abril de 2015

Portugal. A Terra e o Homem. «A coragem que vence o medo tem mais elementos de grandeza que aquela que o não tem. Um começa interiormente; outra é puramente exterior. … antes de tudo, ao próprio temor dentro da sua alma»

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Painel
«Distante, no poente, esfuma-se uma nódoa
em verdes tons fluidos que palpitam
numa névoa indecisa, vaga imagem
da tristeza do mar pintada em nossos olhos.

Porto da minha infância!
A primeira impressão que me causaste
tenho-a, cheia de espanto, na memória,
cheia de bruma e de granito!
É uma impressão de Inverno,
sombra cinzenta, enorme, donde irrompe
alto cipreste empedernido
no meio de sepulcros habitados.
E vejo Trás-os-Montes.
Depois de elísios campos, os planaltos
ressecos e amarelos do restolho,
do centeio, que mata a fome aos pobres;
e quase se alimenta
de sede e poeira e até nas fragas
germina e frutifica.

Toda a escura província se alcandora
em fragarosas altitudes nuas,
queimadas pela neve, requeimadas
pela ardência do sol, nos meses infernais.
Súbito, por encanto, um vale verdejante
é riso de ironia que se finge
num rosto contraído pela dor.
E os rios são de lágrimas, correndo,
entre fragas a prumo,
como as duas paredes duma ruga…
E o Tâmega lá vai na direcção do mar,
triste de reflectir as solidões da serra,
a palidez da Lua,
e esta pobre aparência em que me sinto vivo,
e à morte condenado.
E tem cidades ermas, tão velhinhas,
que o seu aspecto denegrido
surge diante de nós, mas para além do tempo.


Vejo as terras beiroas, que recordam
O Minho e Trás-os-Montes…
São desertos planaltos amarelos,
verdes campos de milho
entre íngremes colinas de pinheiros,
onde murmura o vento o seu queixume
de cor crepuscular…
Afastadas montanhas: Caramulo
e Montemuro e a Estrela,
virgem-mãe do Mondego, em penitência,
vestindo um manto de perpétua neve.

E cidades antigas renascendo:
Lamego e o Santuário;
a Guarda vigilante, em alto miradouro;
Viseu, onde se encontra a sombra de Grão Vasco,
o pintor do Calvário e do S. Pedro,
e, como o poeta Homero, expulso da existência,
e o fantasma também de Viriato
Em frente dos romanos,
com os pés esmagando a loba, que lhe morde
os calcanhares de bronze».
Poema de Teixeira de Pascoaes, in ‘Portugal, a Terra e o Homem

A nossa juventude…
Fernando José, que estejas na Paz!

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