sábado, 9 de fevereiro de 2019

Dona Estefânia de Hohenzollern. Maria Antónia Lopes. «… o rei viúvo assumiu a regência à morte da rainha, mas já desde 16 de Setembro de 1855, ao completar 18 anos, que Pedro reinava de facto»

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Rainha que o povo amou. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen (1837-1859)
«(…) Estefânia cresceu num ambiente de grande religiosidade mas, segundo os biógrafos seus contemporâneos, sem exageros, sem demasiadas manifestações exteriores, íntima e esclarecida. Esta apreciação deve corresponder à realidade, pois é isso que as suas cartas revelam: uma jovem mulher profundamente religiosa, que procura agir em coerência com as suas crenças, que se chocou com a impreparação, preguiça e hipocrisia do clero português, que não gostava das longuíssimas cerimónias religiosas a que assistia em Lisboa, que não aceitava ser orientada por clérigos pouco esclarecidos. Em Dusseldorf, Estefânia contactou com as Ursulinas, que aí tinham um convento e se dedicavam ao tratamento de doentes e ao ensino de crianças, o que será fundamental na sua formação. Descobria o catolicismo social. É nestas mulheres, religiosas não contemplativas, que Estefânia acredita. Elas poderão regenerar a sociedade. O que a levará, já rainha de Portugal, a colocar-se indefectivelmente ao lado das Irmãs da Caridade. O que levará também Pedro V a refreá-la, não a deixando agir às claras.
A princesa envolveu-se em acções de caridade. Katharina Diez afirma que visitava os pobres em suas casas, entrando em portas onde dificilmente passava a crinolina (armação por debaixo das saias que as abriam em grande balão), tão rebelde em se dobrar. Outras vezes saía à noite disfarçada com roupas de camponesa, a socorrer as famílias necessitadas. Deixara já, pois, quando veio para Portugal, essa imagem de anjo da caridade ou ter-se-ia forjado mais tarde, com o seu destino tão ao gosto romântico. Com certeza que a fama cresceu depois da elevação a rainha e da morte prematura, mas a condessa do Lavradio testemunha em 1857 que indo com ela às terras do pai, viu que ela conhecia e falava a todos os pobres; que todos a vinham cumprimentar e que a acompanhou uma vez a um hospital (fundado pelo avô da princesa) aonde teve a prova que ela lá ia muitas vezes, pois conhecia todos os doentes e de todos era conhecida. As cartas que a rainha irá escrever de Lisboa demonstram também que em Dusseldorf se empenhara activamente em acções de beneficência.
Em finais de 1855, com 18 anos, quando em Portugal Pedro iniciava o seu reinado de facto, a mãe acompanhou Estefânia a Berlim, onde foi apresentada na corte. Tinha atingido a idade de aparecer e de lhe procurarem marido. Sob a protecção da princesa Augusta, mulher do príncipe herdeiro (futuro Guilherme I), participou em saraus, festas, bailes, etc. A jovem também viajou ao estrangeiro, pelo menos à Escócia, como a sua correspondência demonstra. Uma passagem de uma carta de 10 de Maio de 1859 revela que esteve com a mãe em casa da tia Maria na ilha de Arran, ou seja, no castelo de Brodick, mansão dos duques de Douglas-Hamilton.
Por essa altura, Napoleão III, ou talvez, por detrás dele, a tia Estefânia, avó da jovem, tentou casar a princesa de Sigmaringen com o rei da Sardenha-Piemonte Vítor Manuel II, que enviuvara em 1855, aos 35 anos, mas o soberano recusou. A princesa Estefânia poderia ter sido madrasta de Maria Pia de Saboia, então com 8 anos e sua sucessora como rainha de Portugal. O que, por certo, nenhuma das duas alguma vez soube.

De Dusseldorf para Lisboa
Negoceia-se o casamento
«(…) Em Janeiro de 1857, o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gotha, marido da rainha Vitória de Inglaterra, aconselhou Pedro V de Portugal a escolher para esposa a princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen. Pedro tinha 19 anos, como Estefânia. Era filho da rainha dona Maria II, falecida em 1853, e de Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, intitulado rei desde o nascimento do seu primogénito. Porque o filho era menor, o rei viúvo assumiu a regência à morte da rainha, mas já desde 16 de Setembro de 1855, ao completar 18 anos, que Pedro reinava de facto. Vitória e Alberto, primos direitos
entre si (Vitória era Saxe-Coburgo pela mãe), eram também primos direitos do rei-consorte de Portugal, o que explica as estreitas relações. O jovem rei Pedro de Bragança nutria uma profunda admiração por Alberto de Inglaterra, a quem tratava por tio, como era costume chamar aos primos dos pais. Alberto também admirava a seriedade e sentido de responsabilidade do sobrinho, qualidades que não encontrava no filho, o futuro Eduardo VII. Em contrapartida, Pedro e o pai possuíam personalidades muito distintas e as relações entre eles eram tensas». In Maria Antónia Lopes, Rainha que o povo amou, Dona Estefânia de Hohenzollern, Círculo de Leitores, 2011, ISBN 978-972-424-718-2.

Cortesia de CLeitores/JDACT