«Em breves palavras desejo manifestar o meu louvor e agrado pela oportuna publicação sobre o património religioso de três Igrejas de Torres Novas (Salvador, São Tiago e São Pedro). O Professor Doutor Vítor Serrão, autor da obra, além da autoridade e reconhecida competência na história da arte, é também um ribatejano que se dedica de alma e coração a investigar a memória cultural da sua região. Temos assim garantida a qualidade e interesse da presente publicação. Apresenta-se como um estudo integral. De facto, o autor, tendo presentes e apoiando-se em estudos de outros pesquisadores, procurou novas fontes de informação e integra, numa visão de conjunto, a investigação pessoal e os trabalhos anteriores que abriram o caminho ao conhecimento do património de Torres Novas. Associando áreas como a arquitectura, a iconograia, a história religiosa ou social, alcança uma perspectiva rica e esclarecedora do património artístico das três Igrejas paroquiais de Torres Novas. A leitura torna-se interessante e enriquecedora. A oportunidade da obra decorre da necessidade actual de cultivar a memória e reconhecer as nossas raízes. Assistimos, realmente, a uma perda da memória. Sem recordação não encontramos raízes nem referências. As pessoas correm hoje o risco de viver apenas para o presente e de sobrevalorizar o efémero e o provisório, permanecendo à superfície da realidade e caindo num vazio e num deserto de valores e ideais. Ora a memória religiosa evoca representações e símbolos de um mundo transcendente, marcado pela harmonia e pela estética e gerador de paz. Não é apenas uma lembrança de realidades de outros tempos. A memória cristã traz à mente e ao coração (recordar é trazer ao coração) pessoas e factos que admiramos e veneramos (santos, acontecimentos bíblicos ou da história da igreja) e com os quais nos sentimos em casa. São, portanto, como estrelas que nos orientam no caminho incerto da vida […]. In Prefácio, Bispo Emérito de Santarém, Abril de 2012
Panorama
da História e das Artes Torrejanas
«A cidade de Torres
Novas oferece aos seus visitantes a presença de um património histórico,
artístico, arquitectónico, urbanístico, arqueológico, etnográico e paisagístico de grande interesse. Impõe-se dá-lo
a conhecer melhor ao público em geral, e aos estudiosos em
particular, no que toca às suas componentes de arquitectura e de arte
religiosas, concretamente o que pertence às igrejas paroquiais de Salvador, de São
Tiago e de São Pedro, dando maior atenção às existências patrimoniais e
compelindo à sua visita.
Na realidade, o
património artístico existente em Torres Novas não se resume à existência do
velho castelo medieval, nem às colecções de escultura e lapidária do Museu
Municipal, ou à pintura do paisagista Carlos Reis (1863-1940), considerado a
maior celebridade da arte torrejana e um dos nomes de referência do naturalismo
nacional. Também as igrejas, antigos conventos, ermidas e capelas, e as peças de
arte sacra oriundas dos desafectados espaços de culto da antiga vila e
museologicamente conservados, atestam um acervo que se impõe pela quantidade,
qualidade e diversidade dos seus espécimes.
A arte sacra de que aqui falamos inclui, além da arquitectura
dos templos propriamente dita, numerosíssimas peças de vários géneros artísticos,
desde a imaginária em madeira, terracota e pedra, à pintura a óleo, a têmpera e
a fresco, ao azulejo, à paramentaria, ao mobiliário, às pratas e alfaias
litúrgicas, ao estuque, e a outras componentes. Impunha-se o seu estudo em termos históricos,
formais, estilísticos, iconográficos e artísticos, razão pela
qual se empreendeu uma análise destes acervos seguindo, como se impunha, a
metodologia da História da Arte, quer pela via da investigação dos arquivos (em
muitos casos com fundos inexplorados), quer pela via da análise laboratorial de
peças nos casos em que se verificaram
processos de conservação e restauro, quer pelo estudo estilístico
e comparativo das obras de arte de
per si. No âmbito de uma disciplina científica como a História crítica da Arte,
que visa, à luz dos seus próprios conceitos e modos de fazer, dar a conhecer melhor as obras de arte,
estimular o acto da suas leitura
na sua componente de integralidade, saber
avaliá-las como produtos específicos de conjunturas, épocas
e situações do tempo histórico (e além
do tempo histórico), foi tarefa minha, também, saber situá-las em contexto,
entendê-las como objectos vivos
dotados de fascínio duradoiro e como testemunhos estéticos dotados de carga trans-memorial, a fim
de poder justamente unir, tanto quanto foi possível, as
componentes do gestor das artes com a do historiador-crítico e com a do connoisseur de obras
artísticas, sem esquecer que muitas destas peças são, também, objectos de culto
e, por isso, mantêm incólume as suas dimensões de intermediários de fé, não deixando
por isso de ser também e sempre obras de arte». In Vítor Serrão, As
Igrejas do Salvador, São Tiago e São Pedro de Torres Novas, Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, Gráfica Almondina, 2012, Depósito Legal: 342911/12.
Cortesia de IHA/FLULisboa/GAlmondina/JDACT
JDACT, Vítor Serrão, Religião, Cultura e Conhecimento, História, Ribatejo, Torres Novas,