«(…) Naquela noite, Katherine começou a ler com grande interesse os textos antigos do irmão e logo entendeu que ele tinha razão. Os antigos possuíam um profundo conhecimento científico. A ciência actual não estava propriamente fazendo descobertas, mas sim redescobertas. Era como se a humanidade um dia tivesse compreendido a verdadeira natureza do Universo, mas a houvesse deixado escapar..., e cair no esquecimento. A física moderna pode-nos ajudar a lembrar! Essa busca havia-se tornado a missão de Katherine na vida, usar a ciência avançada para redescobrir a sabedoria perdida dos antigos. O que a mantinha motivada era mais do que o entusiasmo académico. Por baixo de tudo isso havia a sua convicção de que o mundo precisava daquela compreensão..., agora mais do que nunca.
No
fundo do laboratório, Katherine viu o jaleco branco do irmão pendurado num gancho
ao lado do seu. Por reflexo, sacou o celular para ver se havia algum recado.
Nada. Uma voz tornou a ecoar na sua lembrança. Aquilo que seu irmão
acredita que está escondido na capital..., pode ser encontrado. Às vezes uma
lenda que dura muitos séculos..., tem um motivo para durar. Não, disse Katherine em voz alta. Não é possível que seja
real. Às vezes uma lenda não passava disso, uma lenda.
O
chefe da polícia Trent Anderson voltou à Rotunda do
Capitólio pisando firme, furioso com o fracasso da sua equipe. Um de seus
homens havia acabado de encontrar, num vão próximo ao pórtico leste, uma tipoia
e um casaco militar.
Aquele desgraçado saiu daqui
na maior!
Anderson
já havia destacado equipes para examinar os vídeos externos, mas, quando
encontrassem alguma coisa, aquele suspeito já teria sumido há muito tempo. Então,
ao entrar na Rotunda para avaliar o estrago, Anderson viu que a situação havia
sido controlada da melhor forma possível. Todos os quatro acessos da Rotunda
estavam bloqueados usando o mais discreto método de controle de multidões à
disposição do serviço de segurança: um cordão de veludo, um agente para pedir
desculpas e uma placa dizendo Sala Temporariamente Fechada Para Limpeza.
Cerca de 10 testemunhas estavam sendo agrupadas na ala leste do recinto, onde
os guardas recolhiam celulares e máquinas fotográficas. A última coisa de que
Anderson precisava era que uma daquelas pessoas mandasse uma foto de celular
para a CNN.
Uma
das testemunhas detidas, um homem alto de cabelos escuros usando um casaco de
tweed, tentava afastar-se do grupo para falar com o chefe. O homem estava agora
envolvido numa acalorada discussão com os seguranças. Já vou até aí falar com
ele, disse Anderson aos seguranças. Por enquanto, por favor, mantenham todos no
saguão principal até resolvermos esta situação. Anderson voltou seu olhar para
a mão em riste no meio do recinto. Pelo amor de Deus.
Nos seus 15 anos de trabalho na segurança do Capitólio, já vira algumas coisas
estranhas. Mas nunca nada como aquilo.
É
melhor o pessoal da perícia chegar logo e tirar esta coisa do meu prédio.
Anderson
chegou mais perto e viu que o pulso ensanguentado tinha sido preso numa base de
madeira para fazer a mão ficar em pé. Madeira e carne,
pensou. Invisível
para os detectores de metal. A única peça
metálica era um anel de ouro que Anderson supôs ter passado pelo detector
manual ou ter sido casualmente retirado do dedo morto pelo suspeito, como se
fosse seu. Anderson se agachou para examinar a mão. Ela parecia ter pertencido
a um homem de uns 60 anos. O anel tinha uma espécie de brasão ornamentado com uma
ave de duas cabeças e o número 33. Anderson não o reconheceu. O que realmente
chamou sua atenção foram as pequeninas tatuagens nas pontas do polegar e do
indicador.
Que coisa de maluco.
Chefe?,
Um dos agentes se aproximou depressa, estendendo um telefone. Ligação pessoal
para o senhor. A central de segurança acabou de transferir. Anderson olhou para
o homem como se ele tivesse enlouquecido. Estou ocupado, rosnou. O rosto do
segurança estava pálido. Ele tapou o fone e sussurrou. É a CIA. Anderson não
acreditou no que estava escutando. A CIA já está sabendo disso? É o Escritório de Segurança deles. Anderson retesou os músculos.
Pu…
me… Olhou de relance, pouco à vontade,
para o telefone na mão do subordinado. No vasto oceano das agências de inteligência
de Washington, o Escritório de Segurança da CIA era uma espécie de Triângulo
das Bermudas, uma região misteriosa e traiçoeira da qual todos mantinham distância
sempre que possível». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand
Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Washington DC, Dan Brown, Literatura, Maçonaria,