Panorama da História e das Artes Torrejanas
«(…) O
património artístico das três igrejas torrejanas foi visto, assim, como uma
espécie de laboratório em aberto,
reunindo valências estéticas consideradas suficientemente atractivas e
esclarecedoras, possibilitando que fossem analisadas em moldes integrais, em
devida concatenação com outras áreas do saber, como a Conservação e Restauro, a Iconografia e a Iconologia e,
naturalmente, a História Religiosa, política, económica e
social. Em suma, fala-se de (e com) obras de arte no quadro de uma espécie de peritagem de âmbito pluridisciplinar
em que nelas possam ser
identificadas as potencialidades estilísticas e as legitimações
de estatuto artístico e determinado o grau de importância relativa que lhes
cabe tributar.
Este livro visa
cumprir, assim, um estudo sistemático da arquitectura, do urbanismo e dos
acervos artísticos das três igrejas torrejanas recém-intervencionadas segundo o programa específico, chamado Na Rota da Arte e na Promoção Social,
no âmbito de uma parceria com a Câmara Municipal de Torres Novas para a
Regeneração Urbana do Centro Histórico, integrada no mais vasto Programa
Operacional da Região Centro do QREN (Quadro de Referência Estratégico
Nacional). Foi objectivo fundamental impor e divulgar uma revisão actualizada
de conhecimentos sobre essa matéria, unindo o alargamento da pesquisa arquivística
ao da análise comparativa, valorizando conjuntos e obras de arte que jazem no
limbo do esquecimento (ou são apenas admiradas enquanto peças ligadas ao culto)
sob o ponto de vista da História da Arte, sensibilizando as pessoas para a sua
fruição, e contribuindo assim, numa palavra,
para fixar uma adequada dinamização do turismo patrimonial nesta
cidade ribatejana.
Impõe-se, portanto,
dar a conhecer melhor tais componentes nos acervos que enobrecem o património
histórico-artístico da cidade de Torres Novas e que impõe maior conhecimento e
divulgação públicas. Esta cidade, pertencente ao Distrito de Santarém, instalada
na região Centro e sub-região do Médio Tejo, situa-se junto ao Parque da Serra d’Aire
e Candeeiros e tem origens que remontam a tempos anteriores à Reconquista.
Banhada pelo rio Almonda, Torres Novas é sede de um dos mais arcanos municípios
nacionais, com cerca de 270 km² de área e uma população que ronda hoje os 40
000 habitantes distribuídos pelas dezassete freguesias do seu Concelho. O
Município é limitado a noroeste pelo concelho de Ourém, de que está separado
pelo maciço da serra como fronteira natural, a leste pelos concelhos de Tomar,
Vila Nova da Barquinha e Entroncamento, a sueste pelo da Golegã, a sul pelo de Santarém
e a oeste pelo de Alcanena. Em termos gerais, a Torres Novas medieval possuía
um termo que chegou a ter cerca de 450 km2, quase o dobro dos 278 km2 por onde
se estende o actual concelho!
Terra de pergaminhos históricos, Torres Novas remonta à
dominação romana, sendo de destacar a presença, nas proximidades da cidade, das
ruínas musealizadas de uma vila romana, a Villa Cardilium, residência senhorial muito conhecida devido
aos valiosos mosaicos que preserva. O Concelho remonta ao princípio da
Nacionalidade, já que a vila, conquistada aos mouros por dom Afonso Henriques
em 1148, recebe carta de foral em 1190 por iniciativa de dom Sancho I, sendo esse foral confirmado por outros monarcas. Além
destes diplomas, o Concelho regia-se pelos documentos denominados Foros de Torres Novas,
reguladores do seu direito consuetudinário e considerados da maior importância
para o estudo do Municipalismo português. Nascem as quatro paróquias e são
várias as confrarias e irmandades que se documentam na vila desde os séculos
XIII e XIV, estudadas por Iria Gonçalves, testemunho de um desenvolvimento
comunitário de uma vila considerada por excelência terra do pão, do vinho e
do azeite». In Vítor Serrão, As Igrejas do Salvador, São Tiago e
São Pedro de Torres Novas, Instituto de História da
Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Gráfica Almondina, 2012, Depósito
Legal: 342911/12.
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