«(…) O Padrão Real tinha sido concebido como a matriz mais actual do mapa-mundi então conhecido e era permanentemente actualizado com novas informações trazidas pelos navegadores, pilotos e cosmógrafos portugueses, ou estrangeiros ao serviço do rei de Portugal (bem como informações ou mapas completos obtidos de outros povos com quem os portugueses contactavam por via diplomática, comercial ou militar).
As mais recentes peças com
informação sobre novas terras, rios, baías, ilhas, ilhéus, cabos, promontórios,
recifes, bancos de coral e outros perigos submersos quase à superfície (abrolhos
ou, em bom português, abre bem os olhos para o perigo), costumavam chegar a
Lisboa sob a forma de portulanos, cartas de marear ou navegar desenhadas em
pergaminhos. Esses desenhos eram rigorosamente analisados e verificados e,
depois de considerados correctos, eram imediatamente copiados para o Padrão
Real para o actualizar.
O Padrão Real representava o mais
perfeito estado da arte dos mapas do mundo na época e era zelosamente mantido longe
dos olhares de estranhos e sobretudo dos mais directos competidores dos
portugueses nos mares do Atlântico, os castelhanos. Os dois primeiros
documentos referidos, o mapa de Henricus Martellus, de 1490-1491, e o globo de
Martim Behaim, de 1490, são provas directas da descoberta da América antes
daquela data, com a chegada dos portugueses à península da Florida. Esta
descoberta é poucos anos depois claramente confirmada no mapa de Cantino de
1501-1502, baseado no referido Padrão Real.
Os três documentos, considerados
ainda em conjunto com o chamado mapa de Colombo, de l490,constituem um grupo de
provas irrefutáveis de que os navegadores portugueses descobriram de facto a
América Central e do Norte no século XV antes de 1490 e antes de qualquer outro
povo europeu no início da época moderna. Todos sabemos que os povos vikings já
tinham chegado à terra firme da América do Norte nos séculos X e XI. Para melhor
compreendermos esta tese, começamos por convidar os nossos leirores a olhar em
pormenor para o primeiro mapa-múndi moderno, de Henricus Martellus, de 1490-1491.
Como dissemos, este mapa segue-se a outro do mesmo autor, feito em 1489, mas
com uma actualização referente às últimas descobertas dos portugueses no
Atlântico Ocidental, nomeadamente várias ilhas, e no Atlântico Sul, ao longo da
costa de África, incluindo a recente descoberta do cabo da Boa Esperança». In
José Gomes Ferreira, O Segredo da Descoberta Portuguesa das Américas, Oficina
do Livro, chancela LrYa, 2022, ISBN 978-989-661-557-4.
Cortesia de OdoLivro/JDACT
JDACT, José Gomes Ferreira, História, Conhecimento, Caso de Estudo, Literatura,