quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Gaspar da Gama: A sua história é fascinante. Comerciante de origem judaica, foi uma das personagens mais curiosas e exóticas da esquadra de Pedro Álvares Cabral. Apesar de não ser o único poliglota na esquadra que descobriu o Brasil, foi considerado o «língua da frota», o intérprete que traduziu as negociações comerciais entre portugueses e indianos

(1444-1510/1520)
Poznan, Polónia ou Alexandria, Egipto(?)
Cortesia de olharglobal

Gaspar da Gama foi um comerciante de origem judaica que actuou como intérprete e prestou vários serviços aos portugueses nas Índias, onde foi encontrado por Vasco da Gama. Era conhecido por falar várias línguas do Oriente e do Ocidente. Navegou com diversas esquadras portuguesas entre a Europa e as Índias, inclusive com a esquadra de Pedro Álvares Cabral. Foi certamente um dos primeiros europeus a desembarcar no Brasil e a tentar comunicar com os índios tupiniquins.

O seu nome original é desconhecido. Aparece com o nome de Gaspar da Gama ou Gaspar das Índias nas crónicas e relatos dos descobrimentos portugueses escritos por Gaspar Correia, Fernão Lopes de Castanheda, Jerónimo Osório, Damião de Góis e Álvaro Velho no entanto era conhecido pelos indianos como Mahmet. Algumas fontes mais recentes confundem-no com um navegador português que comandou um dos navios da frota que descobriu o Brasil. Outras fontes ainda o chamam de Gaspar d'Almeida face à sua amizade com Francisco de Almeida, 1º vice-rei da Índia. Existem várias versões sobre sua vida antes de encontrar Vasco da Gama nas Índias. O cronista Gaspar Correia conta que, ao ser encontrado pelos portugueses, Gaspar da Gama era capitão-mor da esquadra de Adil Xá, o sultão de Bijapur, governador árabe de Goa, na Índia. Damião de Góis afirma que Gaspar da Gama era judeu natural da cidade de Poznan, no reino da Polónia e que, nesta época, não falava espanhol, mas italiano, ou seja, a língua véneta, idioma muito utilizado nos centros comerciais do Oriente que recebiam europeus. João de Barros relata que o próprio Gaspar da Gama lhe contou que seus pais eram de Poznan na Polônia. Quando os judeus foram expulsos da cidade, seus pais emigraram para Jerusalém e depois para Alexandria, onde Gaspar da Gama nasceu.

Cortesia de gojaba
Elias Lipiner estudou a documentação dos cronistas portugueses da época das grandes navegações e considerou a versão de João de Barros como a mais fiel aos factos, sugerindo que Gaspar da Gama tenha nascido em Alexandria, Egipto por volta de 1458. Seguindo rotas comerciais conhecidas pelos judeus da época, ele deve ter chegado muito jovem às Índias onde se estabeleceu como comerciante. Já o historiador Arnold Wiznitzer acha mais provável que ele tenha mesmo nascido em Granada como conta o cronista Gaspar Correia, que morou nas Índias e é quem mais apresenta detalhes sobre Gaspar da Gama. Uma outra versão diz que Gaspar da Gama nasceu perto do ano de 1440 na região da Bósnia (talvez por confusão com o nome de Poznan), que, ainda menino, migrou para a Alexandria e, por volta de 1470, mudou-se para as Índias.

Cortesia de interklasa
Quando a primeira esquadra portuguesa chegou às Índias aportou na ilha de Angediva, no Oceano Índico, a cerca de 20 Km da costa de Goa, Gaspar da Gama, sem ser convidado, apresentou-se na nau de Vasco da Gama e pediu alegremente permissão de ir num navio seu, para visitar Espanha. Era então um homem de mais de 50 anos, idade avançada para a época, com barbas brancas, bem mais alto e claro que os indianos da região. Conforme relato do escrivão da frota portuguesa, Álvaro Velho, Gaspar da Gama disse que «trabalhava para um poderoso senhor dono de um exército com mais de 40 mil homens de cavalo, e que ao saber da chegada dos estrangeiros pediu ao patrão que fosse vê-los. Se não deixasse morreria de tristeza». Alguns comerciantes cristãos, considerados os mais confiáveis, contaram ao portugueses que Gaspar da Gama era um «espião» e que preparava um ataque de surpresa. Ao saber disto, Vasco da Gama mandou açoitar o visitante e interrogá-lo sob tortura. Depois, Gaspar da Gama contou ser judeu de Granada convertido ao cristianismo, que tinha viajada para a Turquia e Meca e depois para as Índias, e que não havia qualquer plano de atacar os portugueses. De seguida, Vasco da Gama passou a confiar mais no prisioneiro. Vasco da Gama manteve Gaspar da Gama como prisioneiro e levou-o na viagem de volta para Portugal, talvez considerando que seus conhecimentos sobre o Oriente seriam úteis nas próximas expedições. Durante o longo retorno, Gaspar da Gama acabou tornando-se amigo dos portugueses e, especialmente de Vasco da Gama. Quando foi baptizado no ano seguinte, Vasco da Gama foi seu padrinho e deu lhe o seu próprio sobrenome. O primeiro nome, Gaspar, provavelmente foi escolhido como referência às suas origens, pois é o nome de um dos três Reis Magos que vieram do Oriente para visitar Jesus.

O rei D. Manuel  gostou de Gaspar da Gama e passou a chamá-lo frequentemente à corte para ouvir suas estórias sobre as terras e costumes do Oriente. Havia ainda a desconfiança de que Gaspar da Gama fosse um espião árabe, mas os portugueses reconheciam o seu valor, pois, além de ter comerciado em alguns de seus centros comerciais das Índias, também falava latim, árabe, italiano, castelhano, português e algumas línguas das Índias. Devido a isto, o rei D. Manuel nomeou-o conselheiro e intérprete da esquadra que foi para as Índias comandada por Pedro Álvares Cabral.
Sempre com uma touca na cabeça e vestido com roupa branca de linho, Gaspar da Gama foi uma das personagens mais curiosas e exóticas da esquadra de Pedro Álvares Cabral. Apesar de não ser o único poliglota na esquadra que descobriu o Brasil, foi considerado o «língua da frota», o intérprete que traduziu as negociações comerciais entre portugueses e indianos, assim como os encontros do comandante Pedro Álvares Cabral com os rajás.

Cortesia de memoriadosdescobrimentosnaceramica
Arnold Wiznitzer e Elias Lipiner dizem que Gaspar da Gama foi o primeiro judeu a aportar no Brasil pois estava com Nicolau Coelho no primeiro bote que se aproximou das praias brasileiras e tentou comunicar com os «índios tupiniquins» utilizando as línguas da Índias, árabe e hebraico. Outro intérprete da frota que tentou falar com os locais, sem sucesso, foi Gonzalo Madeira, de Tânger, talvez um cristão-novo judeu ou muçulmano. Nas Índias, Gaspar da Gama cumpriu a sua missão sem trair os portugueses em qualquer momento. Os seus serviços de intérprete e conhecimentos de geopolítica e costumes das Índias foram importantes nos encontros comerciais de portugueses e indianos em Calecute e Cochim.

Cortesia de pedrodealbuquerque.wordpress
A mudança dos nomes de Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz para Brasil é atribuída por alguns a Gaspar da Gama e Fernão de Noronha, ambos de origem judaica. Entretanto, tal facto não têm base histórica. O que ocorreu foi devido ao intenso comércio de pau-brasil.
Participou nas Índias em expedições dos portugueses que tentaram conquistar Ormuz em 1508 e Calecute em 1510, época em que alguns supõem que ele tenha morrido. Outros consideram que ele tenha regressado a Portugal onde morreu. Alguns dizem que sua morte ocorreu entre 1510 e 1515, ou até em 1520, com quase oitenta anos de idade.
Cortesia de wikipédia/Revista Judaica/Elias Lipiner/JDACT