domingo, 10 de junho de 2018

A Armada do Papa. Gordon Urquhart. «Dizem que os fundadores do NC, Kiko Arguello e Carmen Hernandez, sentem-se perfeitamente em casa quando se encontram nos aposentos papais»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Comunhão e Libertação apareceu na Itália no início dos anos 70, como uma violenta reacção dos estudantes conservadores às desordens estudantis dos anos 60, sob a liderança de um padre milanês baixinho, Dom Giussani. Durante os últimos vinte anos, os seguidores do movimento de maior prestígio na Itália, a CL, receberam os apelidos mais estranhos, como lacaios de Wojtyla, monges de Wojtyla, Samurais de Cristo e Stalinistas de Deus. A razão desses apelidos: as actividades agressivas desses militantes em defesa da promoção das crenças e valores católicos tradicionais, bem como a sua devoção total ao papa. O movimento tem provocado uma verdadeira devastação no seio da igreja italiana, bem como no seio da política daquele país, e dispõe de uma vasta rede de operações por todas as regiões da nação e mais um certo número de publicações. Até há pouco tempo, ele dispunha até mesmo de uma ala política, o Movimento Popular, considerado por muita gente como um partido católico independente. Muito embora a visão do mundo que o povo da CL cultiva seja extremamente ligada à do papa (e esta simpatia se traduziria num apoio entusiasmado durante o início dos anos 80), as extravagâncias de alguns membros, tanto no plano religioso quanto no plano político (vale lembrar o envolvimento de bom número de figuras públicas italianas nos recentes escândalos de suborno), levaram o Vaticano a distanciar-se deles a partir de 1990.
O Neocatecumenato foi fundado na cidade de Palomeras Altas, nos arredores de Madrid, em 1964, por um artista espanhol, Kiko Arguello, que mais tarde juntou-se a Carmen Hernandez, uma ex-freira. Depois de ter constituído uma comunidade entre ciganos e nómadas na cidade das cabanas, Arguello e Hernandez decidiram aplicar aquelas técnicas rudes de recrutamento que eles haviam desenvolvido nas paróquias normais que, segundo acreditavam, exprimiam também a mesma necessidade de uma conversão radical. Nos primórdios da igreja cristã, o baptismo era precedido de um estágio de iniciação e de ensino que se chamava o catecumenato. Arguello acredita que os cristãos baptizados de hoje só não são pagãos no nome e que, por conseguinte, precisam submeter-se a um processo de iniciação análogo, embora, nesses casos, esta iniciação ocorra após o baptismo. E foi assim que nasceu o neo, ou seja, o novo catecumenato. A única grande diferença é que, enquanto na igreja primitiva o catecumenato durava três anos, na versão de Arguello ele dura mais de vinte. As diferentes séries de rituais secretos, passagens e os níveis crescentes de comprometimento com o movimento são revelados aos iniciandos de maneira muito gradual. Não é permitido a estes iniciantes fazer perguntas sobre o que vem pela frente e eles não podem revelar a ninguém detalhes do Caminho, nem mesmo a outros membros do movimento que se encontram em níveis inferiores. Depois de efectuar uma mudança estratégica para se estabelecer em Roma, em 1968, exactamente quatro anos após a sua fundação, o movimento espalhou-se rapidamente pelas paróquias da diocese da capital italiana e conheceu então uma fantástica expansão-relâmpago. Hoje, ele está presente em 786 dioceses, com 13 mil comunidades em 3.500 paróquias. O número de filiados é estimado em torno de um milhão. Sinistro nos seus métodos, o Neocatecumenato é também considerado por um bom número de teólogos católicos como herético na sua maneira de ensinar alguns pontos centrais da doutrina cristã. No entanto, paradoxalmente, entre os novos movimentos este é o que está mais estreitamente ligado ao papa, que, teologicamente, é um tradicionalista. Dizem que os fundadores do NC, Kiko Arguello e Carmen Hernandez, sentem-se perfeitamente em casa quando se encontram nos aposentos papais: consta que tomam o café da manhã com o papa, almoçam com ele e têm livre trânsito por todos as salas do palácio». In Gordon Urquhart, A Armada do Papa, tradução de Irineu Guimarães, Editora Record, 2002, ISBN 978-850-106-222-2.

Cortesia de ERecord/JDACT