sexta-feira, 29 de junho de 2018

Os Cinco Templários de Jesus. Didier Convard. «Fazia pouco tempo que as ruínas, datadas da época israelita pelos engenheiros, haviam sido restauradas. Todos os dias, centenas de trabalhadores se matavam a trabalhar cavando uma terra vermelha e dura»

Cortesia de wikipedia e jdact

A Primeira Cruz. Dezembro de 1107
«(…) Hélène não parava de gritar. Ela conseguiu chegar aos últimos degraus da escada de madeira. A mancha de luz da lamparina dançava enlouquecida. O outro, o assassino, continuava a cortar o ar com o machado logo atrás dela. O saguão. O homem estava quase em cima de Hélène. Mais três ou quatro passos e a atingiria. Ela virou-se ligeiramente e compreendeu que a sua hora chegaria se não reagisse. O matador e a sua sombra eram uma coisa só. A noite pareceu materializar-se ao criar vida na sua capa, no capuz, em toda a sua silhueta. A lâmina do machado brilhou na luz produzida pelo lampião a óleo. O lampião... Hélène jogou-o repentinamente em cima do agressor, atingindo-o na parte debaixo da capa, cujo tecido se colou à perna direita. Enquanto ele se debatia contra as chamas, a mulher conseguiu sair da casa, chegando à rua coberta de neve. Os flocos crepitavam na noite. A jovem tratou de se distanciar da sua casa. Persianas se abriram ao redor. A cabeça de um homem gordo, cheio de sono, com os cabelos desgrenhados, apareceu na janela. Hélène, é você quem está fazendo toda essa algazarra?, surpreendeu-se ele. Mais cabeças se inclinaram para a rua onde a fugitiva, descalça na neve, girava sem sair do lugar, boneca apavorada que procurava uma salvação com os olhos. Arcis foi massacrado no escritório!, proferiu ela. O assassino saiu da casa. Ele havia rasgado a opalanda em chamas e ainda a segurava nas mãos, parecendo rodá-la à sua volta como uma asa de fogo. Hélène recuou por reflexo. Discernia vagamente o olhar do demónio sob o capuz. Olhos de gato que pareciam sorrir.
O homem exibiu a mão de Arcis Brienne como um troféu e, finalmente, livrou-se da capa largando-a na neve, onde, como uma poça de sangue negro, ela acabou de se consumir. Em seguida, fugiu, deixando Hélène cheia de frio e de dor, soluçante e perdida. O seu velho amor estava morto. O seu Arcis... O seu esposo tão bom, a quem ela amava mais do que a um pai.

O rei de Jerusalém
Jerusalém, três anos antes.
Um calor húmido colava as roupas no corpo. O jovem Balduíno, rei de Jerusalém, irmão de Godofredo Bulhão, morto no ano 1100, consultava as plantas junto com os cavaleiros Bertrand e André. Grandes folhas haviam sido desenroladas numa mesa e o suserano, mal-barbeado, com o suor escorrendo pelo pescoço, deslizou um dedo preguiçoso nas linhas traçadas por um dos seus melhores arquitectos. A sala era ampla e, num dos lados, grandes ogivas davam para uma galeria externa sombreada que conservava um pouco do frescor da noite. Bandeirolas, auriflamas, bandeiras e pendões haviam sido erguidos aqui e acolá, orgulhosos sinais da presença dos cavaleiros cruzados que haviam tomado posse dos limites do Templo de Salomão, bem como das suas dependências, onde estabeleceram um reduto solidamente fortificado para fazer escavações ao pé da sede e em toda à volta da mesquita al-Aqsa.
Fazia pouco tempo que as ruínas, datadas da época israelita pelos engenheiros, haviam sido restauradas. Todos os dias, centenas de trabalhadores se matavam a trabalhar cavando uma terra vermelha e dura sob as ordens de contramestres vigilantes, atentos para que os enxadões e as pás não quebrassem uma jarra antiga nem estragassem uma estatueta de ouro... Os homens cantavam para ter coragem, com a pele nua das costas cozinhando sob o sol, as mãos que se tornavam calosas de tanto manejar ferramentas pesadas, a garganta cheia de uma poeira grossa que a água, apesar de bebida em grande quantidade, não conseguia extinguir. Mesmo assim eles cantavam, misturando os seus dialectos como os operários de Babel. O jovem Balduíno dobrou as plantas e largou-as num canto da mesa, depois pegou novamente numa missiva que já havia lido várias vezes nos últimos dias. Precisamos realmente do apoio dos champanheses?, perguntou, percorrendo de novo a mensagem com os olhos. O conde Hugues é rico demais para se  interessar por soldados do Cristo como nós! No entanto, teremos de ser simpáticos com ele, sire Balduíno, disse Bertrand, sorrindo». In Didier Convard, O Triângulo Secreto, Os Cinco Templários de Jesus, 2006, Editora Bertrand Brasil, 2013, ISBN 978-852-861-663-7.

Cortesia de EBertrandBrasil/JDACT