sábado, 30 de junho de 2018

Os Cinco Templários de Jesus. Didier Convard. «O núncio murmurou algumas palavras no ouvido do jovem rei de Jerusalém, de modo a não ser ouvido por André e Bertrand. Sorrindo, Balduíno desculpou-se com os amigos»

Cortesia de wikipedia e jdact

O rei de Jerusalém
«(…) Um quarto homem mantinha-se retraído perto de uma grossa tapeçaria e parecia não querer participar na conversa. Tratava-se do bispo Bucelin, núncio do papa Pascoal. Com o olhar ausente, ele dedicava-se a descascar uma laranja com um cuidado quase feminino e uma expressão de desdém nos lábios finos. Uma delegação aguardava-o em Ascalão há mais de uma semana, esclareceu André. O rei suspirou e deu de ombros, ironizando: temo que Hugues e os seus companheiros só venham a Jerusalém para satisfazer a vontade das pessoas que pensam agradar a Deus. Ele virá acompanhado do cavaleiro Hugues Payns, de quem já ouvi falar algumas vezes, afirmou Bertrand. Balduíno completou: eu também! E se faz um grande mistério desse singular personagem de quem, ao que parece, Hugues nunca se separa. A ponto de se dizer que são irmãos, acrescentou Bertrand. Enfim, Payns seria um bastardo do conde Thibaud, que só teria reconhecido Hugues, o conde actual, como herdeiro! É um boato persistente em Champagne, onde é público e notório que Thibaud teria cometido algumas infidelidades a Adèle Valois! Balduíno ia-se levantar. Apoiou-se na mesa e ficou assim por um momento, curvado, olhando distraidamente a missiva marcada com o selo do poderoso Hugues Champagne.
Que seja, disse ele. Faremos um acordo com essas pessoas. Afinal, o conde de Champagne é marido de Constance, filha do rei Filipe... Talvez ele nos seja útil! André pegou numa pequena garrafa e serviu-se de uma grande taça de água, levando-a aos lábios. Depois de bebê-la de um só gole e enxugar a boca com as costas da manga, ele disse, rindo: para ser sincero, se conseguirmos defender a nossa causa, podemos pedir alguns benefícios a ele! Certo, sublinhou Bertrand, passando a mão na cabeleira ruiva e desgrenhada, em busca de piolhos. A nossa guarnição sofre incessantes ataques dos bandos sarracenos; homens, armas e víveres seriam bem-vindos. Naturalmente, frisou o jovem rei. Somos o exército de Deus... Um exército como esse não deve ser miserável! No entanto, ele via as olheiras azuladas no rosto dos companheiros, as faces magras, a pele rachada, prematuramente envelhecida... Via indigentes que se achavam mestres, guerreiros recém-libertos da adolescência. Estão todos assim, pensou ele. Todos os meus cavaleiros, os meus capitães, os meus valentes. Todos os meus cruzados! Um bando de aventureiros dizimados pela febre. Sire... Balduíno virou-se para o bispo: sim, Monsenhor?
O núncio murmurou algumas palavras no ouvido do jovem rei de Jerusalém, de modo a não ser ouvido por André e Bertrand. Sorrindo, Balduíno desculpou-se com os amigos: o bispo, cuja descrição nós todos apreciamos, deseja conversar comigo em particular. Continuem a consultar os últimos levantamentos dos nossos arquitectos enquanto me esperam. O núncio e o soberano saíram da sala e seguiram pela galeria externa. Esse peristilo corria ao longo do prédio; Balduíno imediatamente apreciou o seu frescor. Seguindo logo atrás do prelado, o rei se distraía ao vê-lo pôr um pé na frente do outro, com uma atenção ridícula, como um funâmbulo andando na corda bamba acima de um abismo imaginário. Um odor apimentado de suor acompanhava o bispo. Nunca vai perder o seu ar de conspirador, Bucelin? Imagino o assunto sobre o qual quer falar-me mais uma vez. A nossa missão, sire... O canto dos trabalhadores chegava até eles. Uma voz forte dava o tom e ritmava a cadência. Os assobios dos contramestres terminavam de pontuar esse balanço envolvente. A nossa verdadeira missão!, retomou o núncio. O empreendimento secreto dissimulado pela cruzada... Faço de tudo para cumpri-la e pode relatar isso ao papa. Retomei com zelo a investigação do meu saudoso irmão Godofredo.
A galeria dava para o pátio das estrebarias. Uma escada surgiu diante dos dois homens e eles subiram, fazendo uma parada no alto. Dali, eles viam um pouco do canteiro de obras. Uma grua presa a um edifício lançava os seus braços verticais de madeira num céu quase branco. O canto dos operários fazia-se mais presente e naquele momento se podia perceber as respirações roucas que tornavam esse canto doloroso. Não tenho nenhuma crítica a vos fazer, sire. Nada transpirou da nossa operação. Liberar o Santo Sepulcro continua a ser o engodo ideal enquanto procuramos o túmulo do Impostor. Posso imaginar a sua pressa em encontrá-lo, mas os nossos operários escavam sem parar e...» In Didier Convard, O Triângulo Secreto, Os Cinco Templários de Jesus, 2006, Editora Bertrand Brasil, 2013, ISBN 978-852-861-663-7.

Cortesia de EBertrandBrasil/JDACT