terça-feira, 19 de outubro de 2010

Nicolau Tolentino: A sua obra contempla diversas composições, sonetos, odes, cartas e sátiras. Estas últimas celebrizaram-no a ponto de hoje representar, na história literária portuguesa, o papel de «o satírico»

(1740-1811)
Lisboa
Cortesia de purl

Nicolau Tolentino de Almeida foi um poeta português.
Aos vinte anos ingressou na Faculdade de Leis, em Coimbra, mas ao invés dos estudos tinha vida boémia e de poeta. No ano de 1765 tornou-se professor de retórica, numa das cátedras criadas pelo Marquês de Pombal, após a expulsão dos jesuítas.

Cortesia de wikipedia
Na época usavam-se penteados muito altos, daí Nicolau Tolentino ter questionado que lá se podiam esconder os mais variados objectos: uma arca, um colchão e até mesmo um homem. Ridiculariza as que se enfeitavam com vistosas cabeleiras, sem melhorar o juízo; as velhas que recorriam à formosura postiça; os vadios e ociosos; os maridos que apanhavam da mulher. Disse mal dos seus professores e até das suas aulas.
Apresentava-se como um espectador atento da realidade circundante, procurando matéria pitoresca para reproduzir e transfigurar, pelo que nos deixou nos seus sonetos, nos seus memoriais e, sobretudo, nas suas sátiras, crónicas de costumes que preludiavam já uma literatura percorrida por uma galeria de tipos, ao estilo da «comédia humana» que outros autores desenvolveriam mais tarde.
Escreveu as seguintes obras poéticas:
  • Miscelânea Curiosa e Proveitosa;
  • Bilhar;
  • Passeio;
  • Função;
  • Guerra;
  • Amantes.
Cortesia de arpose

http://www.gutenberg.org/ebooks/16385

Chaves na mão, melena desgrenhada
Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...

- «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...
Nicolau Tolentino

Deitando um cavalo à MargemVai, mísero cavalo lazarento,
Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.

Esta sela, teu único ornamento,
Para sinal de minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.

Morre em paz; que, em havendo algum dinheiro,
Hei de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra terra este letreiro:

— “Aqui, piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno a não morrer de fome”
Nicolau Tolentino

Cortesia de Nothingandall/JDACT