terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sttau Monteiro: Felizmente Há Luar! Esta peça histórica, que recorda a rebelião do general Gomes Freire de Andrade, foi proibida pela censura tendo sido representada no nosso país apenas em 1978. Um espírito crítico e combativo

(1926-1993)
Lisboa
Cortesia de gramaticaportuguesa

Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro foi um ficcionista, autor dramático, encenador e jornalista. Era formado em Direito.
De ascendência espanhola, viveu uma parte da adolescência em Inglaterra, onde o seu pai foi embaixador. Nos anos 70 do século XX, desenvolveu actividade como jornalista, tendo colaborado com o Diário de Notícias e com o Expresso.
Iniciou a sua carreira literária com a narrativa Um Homem Não Chora, obra saudada como uma revelação da ficção portuguesa contemporânea, a que se seguiu um romance de grande êxito, Angústia para o Jantar, onde se salientam a «ironia, o gosto pela sátira, a distanciação emocional, o cinismo [...] e, no plano estilístico, a vivacidade dos diálogos».
Cortesia de sfraa
Situado numa segunda geração neo-realista, foi sobretudo pela sua obra dramática que viria a ser consagrado, recebendo com Felizmente Há Luar!, em 1962, o Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores. Essa peça histórica, que recorda a rebelião do general Gomes Freire de Andrade, foi proibida pela censura tendo sido representada no nosso país apenas em 1978.
As suas sátiras sobre a ditadura e a Guerra Colonial, fruto do seu espírito crítico e combativo, tornaram-no objecto de perseguição política, chegando mesmo a ser preso como quando publicou A Estátua e A Guerra Santa. Embora levadas à cena por companhias estrangeiras, poucas peças de Luís de Sttau Monteiro foram representadas em Portugal antes do 25 de Abril, exceptuando-se As Mãos de Abraão Zacut, estreada em 1969 pela Companhia do Teatro Estúdio de Lisboa, sob a direcção de Luzia Maria Martins.
Homem essencialmente de teatro, Sttau Monteiro foi ainda autor de uma adaptação da novela O Barão, de Branquinho da Fonseca, e de várias traduções de autores dramáticos como Shakespeare ou Ibsen, que ele próprio levou à cena.

Cortesia de daruaonze 
Bibliografia:
  • Um Homem Não Chora, Lisboa, 1960;
  • Angústia para o Jantar, Lisboa, 1961;
  • Felizmente Há Luar!, Lisboa, 1961;
  • Todos os Anos, pela Primavera, Lisboa, 1963;
  • O Barão, Lisboa, 1964;
  • Auto da Barca do Motor fora da Borda, Lisboa, 1966;
  • A Guerra Santa, Lisboa, 1967;
  • A Estátua, Lisboa, 1967;
  • As Mãos de Abraão Zacut, Lisboa, 1968;
  • Sua Excelência, Lisboa, 1971;
  • E se For Rapariga chama-se Custódia, 1978;
  • Crónica Atribulada do Esperançoso Fagundes, Lisboa, 1981.
Cortesia de mestregratis

Felizmente Há Luar!
A obra
«A peça em dois actos Felizmente Há Luar!, de Sttau Monteiro, publicada em 1961, foi suprimida pela censura da ditadura; representada pela primeira vez em 1969, em Paris, só chegaria aos palcos portugueses em 1978, no Teatro Nacional, encenada pelo próprio autor. Esta peça tem como cenário o ambiente político dos inícios do século XIX: em 1817, uma conspiração, encabeçada pelo general Gomes Freire de Andrade, que pretendia o regresso do Brasil do rei D. João VI e que se manifestava contrária à presença inglesa, foi descoberta e reprimida com muita severidade: os conspiradores, acusados de traição à pátria, foram queimados publicamente e Lisboa foi convidada a assistir...
No entanto, esta peça marca também posição, pelo conteúdo fortemente ideológico, como denúncia da opressão que se vivia na época em que foi escrita, 1961, sob a ditadura do Estado Novo. O recurso à distanciação histórica e à descrição das injustiças praticadas no início do século XIX em que decorre a acção permitiu-lhe, assim, colocar também em destaque as injustiças do seu tempo.

Felizmente Há Luar! é um drama narrativo, dentro dos princípios do teatro épico, que descreve a «trágica apoteose» do movimento liberal oitocentista, em Portugal, e interpreta as condições da sociedade portuguesa do início do século XIX e a revolta dos mais esclarecidos, muitas vezes organizados em sociedades secretas, contra o poder absolutista e tirânico dos governadores e do generalíssimo Beresford.
Gomes Freire, amado por uns e odiado pelos que temem perder o poder, é acusado de chefe da revolta, de estrangeirado e grão-mestre da Maçonaria, por ser um soldado brilhante e idolatrado pelo povo». In Infopédia, Luís de Sttau Monteiro. Porto: Porto Editora, 2003-2006. 

Cortesia da Infopédia/JDACT