quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Salvaterra de Magos: Parte V (B). A Falcoaria. A caça, desde sempre ocupação de monarcas, foi o principal atractivo para à deslocação da Família Real a Salvaterra, aproveitando a época propícia, de Novembro ao «Entrudo»

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Com a devida vénia a Joaquim Manuel S. Correia e Natália Brito C. Guedes, «O Paço Real de Salvaterra de Magos», Livros Horizonte, 1989, ISBN 972-24-0723-6, publico algumas palavras.

No reinado de D. Sebastião, em 1569, é aprovado o «Regimento da coutada de Salvaterra». Documento da maior importância para o concelho, determina as «demarcações e da pena que haverão os que caçarem perdizes, lebres, coelhos ou montearem porcos, veados ou qualquer outra veação ou não cumprirem e fizerem o contrario do que nele se contem nos tempos defezos». A coutada confrontava a Sul com o termo da vila de Benavente, a Norte com os termos das vilas de Santarém e de Muge e do Levante com o termo da vila de Coruche.

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No início do século XVII de novo a coutada de Salvaterra é referida no «Regimento do Monteiro-mor» onde se determina não ser permitido «viver Fidalgo algum, nem residir por mais tempo que o de passagem, salvo se tivessem fazendinha de raiz mas não casa, nesses lugares».
Diz-nos João Baptista de Castro que as reais coutadas de Salvaterra e de Almeirim eram «férteis de veados, porcos e toda a espécie de caça; cómodas para as montarias de cavalo, fáceis para as caçadas de lança e de espingarda, abundantes nas voltarias, dispostas para o entretenimento das damas com tal comodidade que dos fizemos coches vêem alancear os veados, correr as lebres, apanhar os coelhos e voar as aves tão suavemente e sem fadiga que na maior distância se escusa todo o desvio, porque a fecundidade do sítio facilita os exercício a quem os vê e a quem os segue».
Caçadas que iriam motivar o aparecimento de uma literatura específica, «o romance em verso», que encontrou vários autores em Salvaterra na transição do século XVII para XVIII - Caetano Manuel Martins de Barros, Pe. Martinho Pereira, Thomas Pinto Brandão e, a darmos crédito a uma nota à margem de um manuscrito da Biblioteca Nacional, o próprio Pe. António Vieira.


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Na Idade Média dois tipos de caça eram preferidos - a montaria ou caça de perseguição utilizando armas ou armadilhas, a animais como o urso, o javali, o lobo, o cervo; e a etraria ou caça através de aves de rapina domesticadas (falcões, açores, gaviões, etc.). Encontramos na Crónica de El-Rei D. Fernando uma das mais vivas descrições de uma caçada medieval com falcão «... Era ainda el-rei D. Fernando muito caçador e monteiro, em guisa que nenhum tempo asado para ele deixara que o não uzasse. A ordenança como ele partia o ano em tais desenfadamentos, juntado tudo pelo miúdo, seria longo de ouvir, cá ele mandava chamar todos seus monteiros, no tempo para ele pertencente e não se partiam de sua casa até que os falcões saiam da muda e então, desembargados, iam-se para onde viviam e vinham os falcoeiros e outros que de fazer aves tinham cuidado. Ele trazia quarenta e cinco falcoeiros de besta, afora outros de pé e moços de caça e dizia que não havia de folgar até que povoasse em Santarém uma rua em que houvesse cem falcoeiros. Quando mandava fora da terra por aves, não lhe traziam menos de cinquenta, entre açores e falcões nevris e gerifalcos, todos primas. Com ele andavam mouros que apresavam garças e outras aves e estes nadavam os pegos e pauis se os falcões caíam neles.


Acessórios para caçar com falcão. Séc. XVII-XVIII
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«Quando el-rei ia à caça, todas as maneiras de aves e cães que se cuidar podem para tal desenfadamento todas iam em sua companhia, em guisa que nenhuma ave grande nem Pequena se levantar podia, posto que fosse grou e betarda, até o pardal e pequena folosa, que antes que suas ligeiras penas a podessem pôr em salvo primeiro era presa do seu contrário; nem as simples pombas, que a venham fazer impedimento, em semelhante caso, não eram isentas de seus inimigos. Para raposas, coelhos e lebres e outras semelhantes selvagens montezes, levava el-rei tantos cães de seguir suas pegadas e cheiro, que nenhuma arte nem multidão de covas lhes prestar podia que logo não fossem tomadas. E porém nunca el-rei ia vez nenhuma alguma à caça que sempre nela não houvesse grande sabor e desenfadamento».
Os ascendentes Hohenstaufen e Castela explicam bem esta atracção de D. Fernando pela cetrarias. Os tratados de alveitaria e cetraria de Mestre Giraldes, físico de D. Dinis, o Tratado Falcoaria de Pero Menino, falcoeiro de D. Fernando, seriam os compêndios da época, citados internacionalmente.

Afirma Diogo Fernandes Ferreira «o infante D. Luís, filho de el rei D. Manuel, irmão d'el rei D. João III, príncipe de altos pensamentos, foi um grande caçador de falcão e teve em seu serviço, oitenta caçadores assalariados, muitos deles estrangeiros, mui práticos nesta arte; e ele no paço, casa donde estava, tinha falcões e os dava em cuidado aos seus moços da câmara, dos quais eu conheci alguns muito nobres e cada caçador tinha à sua conta dois e três falcões».
«Meu Pai, Pero Ferreira (que também o servia de seu moço da câmara) foi excelente nesta arte e depois da morte deste príncipe, serviu ao Senhor D. António, prior do Crato, filho natural deste príncipe, o qual seguindo as pisadas e pensamentos do Pai teve mui redonda caça de falcões, garceiros e milhaneiros e altaneiros e Gaviões e Açores". Sobretudo a cetraria era a modalidade mais apreciada no Ribatejo: - Salvaterra tal como Muge, Almeirim, Santarém, possuíam coutadas onde a caçada com falcão era preferida, informam-nos numerosos documentos coevos. O rei encomendou com todo o empenho 20 falcões da Noruega ao feitor da Flandres.


Cruzado de prata de D. António I (Prior do Crato), 18º Monarca
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É muito provável que a seguir a Alcácer Quibir se tenha verificado um afrouxamento nas actividades de altanaria, mas por certo de curta duração. Efectivamente, na obra publicada em 1616, Diogo Fernandes Ferreira diz: «Durou este passatempo tão justo até o tempo del-rei D. Sebastião, no qual acabaram todos os senhores a esta caça afeiçoados e os homens práticos nela e a altanaria juntamente com eles»Durou este passatempo tão justo até o tempo del-rei D. Sebastião, no qual acabaram todos os senhores a esta caça afeiçoados e os homens práticos nela e a altanaria juntamente com eles»Durou este passatempo tão justo até o tempo del-rei D. Sebastião, no qual acabaram todos os senhores a esta caça afeiçoados e os homens práticos nela e a altanaria juntamente com eles»Durou este passatempo tão justo até o tempo del-rei D. Sebastião, no qual acabaram todos os senhores a esta caça afeiçoados e os homens práticos nela e a altanaria juntamente com eles»Durou este passatempo tão justo até o tempo del-rei D. Sebastião, no qual acabaram todos os senhores a esta caça afeiçoados e os homens práticos nela e a altanaria juntamente com eles»Durou este passatempo tão justo até o tempo del-rei D. Sebastião, no qual acabaram todos os senhores a esta caça afeiçoados e os homens práticos nela e a altanaria juntamente com eles»Durou este passatempo tão justo até o tempo del-rei D. Sebastião, no qual acabaram todos os senhores a esta caça afeiçoados e os homens práticos nela e a altanaria juntamente com eles»Durou este passatempo tão justo até o tempo del-rei D. Sebastião, no qual acabaram todos os senhores a esta caça afeiçoados e os homens práticos nela e a altanaria juntamente com eles». Mas, logo a seguir, acrescenta: «e por não faltarem hoje senhores desejosos de renovarem a caça e carecerem de homens que nela os soubessem servir, me Pareceu ter obrigação, assim à arte como à nobreza deste reino, fazer este trabalho»... Parece, pois, que o interesse pela arte não tinha morrido, antes se mantinha tão vivo que estimulou a obra de Diogo Ferreira.

A iconografia é única em cenas de caça com falcão, o caçador nobre do «Missal Antigo do Lorvão», os falcoeiros representados «no baixo-relevo do túmulo de Afonso Sanches e na iluminura do mês de Maio do "Livro de Horas de D. Manuel», são alguns exemplos, que reproduzimos, escolhidos de entre colecções Portuguesas.




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O falcoeiro-mor era o caçador de confiança do rei, dele dependendo directamente, a quem era concedida a mercê de terras, casas e herdades; foram reconhecidos os altos préstimos, em tempos medievos, aos falcoeiros Vicente Pires (de Torres Vedras), Rui Pires (de Arronches), João Garcia, Pedro Esteves, Luís Eanes, Geraldo Fernandes e João Gonçalves (de Santarém). 

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Cortesia da CMSalvaterra de Magos/JDACT