terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sofia Melo Breyner: «Bebido o luar, ébrios de horizontes, julgamos que viver era abraçar o rumor dos pinhais, o azul dos montes e todos os jardins verdes do mar»

Cortesia de sebentadonando

Esta Gente
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sofia de Mello Breyner Andresen, in «Geografia»

JDACT