(1898-1962)
Silves
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Bernardo Marques foi autor de uma obra vastíssima e multifacetada que lhe confere um lugar de destaque na arte portuguesa contemporânea. No percurso da sua prática artística, que abrange o período de 1920 a 1962, é possível – apesar da diversidade das suas actividades – descortinar uma evolução inteligível, cujo fio condutor é o seu meio de expressão privilegiado, o desenho.
«Bernardo Marques preferiu, na sua opção pela prática do desenho, uma aprendizagem vivencial a uma formação académica e iniciou-se através do desenho humorístico, das caricaturas, de grande riqueza gráfica e decorativa, partilhando com os artistas «novos» da sua geração o desenvolvimento do modernismo durante a década de vinte. As imagens dos magazines não coincidiam com as imagens da realidade lisboeta. Lisboa, povoada de novos-ricos, era uma pequena cidade cheia de campos e lugares híbridos que Bernardo Marques retratou com um misto de ternura e de ironia. No final da década, a elegância daria lugar a uma temática mais social, e a estilização gráfica seria substituída por um traço mais violento e expressionista.
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Uma estada em Berlim, em 1929, para além de lhe aguçar a percepção da estagnação da vida artística em Portugal, facultou-lhe novos meios de expressão. Ao nível da ilustração, a sua produção deste período confina-se quase exclusivamente à sua colaboração nas revistas de cinema. A influência que o cinema exerceu e o mimetismo que provocou foram explorados com humor, ironia e algum ridículo em inúmeros desenhos de Bernardo Marques: a acutilante série de cinéfilas não foi com certeza feita para ser publicada numa revista da especialidade.
Depois de várias viagens e experiências plásticas e humanas diversificadas, Bernardo Marques regressa a Lisboa, iniciando um percurso mais solitário e particular. Apurando-se em técnica e solidão, vai passar gradualmente da análise dos homens à análise das coisas e concentrar a sua atenção na paisagem, rural ou urbana. É assim que nasce o paisagista dos anos quarenta.
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Na década de 50 volta ao desenho como actividade autónoma, de carácter íntimo, centrando-se essencialmente na análise da paisagem urbana e rural. Esta última fase, que culminou com a sua morte em 1962, corresponde à mais íntima e é acompanhada, tecnicamente, por importantes variações de registos, cada vez mais atmosféricos. É em Lisboa, a sua cidade de eleição, que uma mudança visível do relacionamento com o que rodeia vai ter lugar. Percorreu o país de norte a sul, numa ânsia de ao mesmo tempo conhecer toda a terra portuguesa e de encontrar, quando lhe apetecia, o isolamento e a distância que procurava.
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Ignorando as formas estéticas que surgiam, Bernardo Marques assumiu uma postura simultaneamente sensível e distanciada, transferindo para a paisagem o seu espaço de intimidade. A variação dos meios técnicos utilizados, nomeadamente a aguarela de tradição paisagística e os pictóricos desenhos caligráficos a preto e branco, sugeridos pela sua atenção imediata à paisagem, tornam a obra de Bernardo Marques ambígua e original. É uma postura sincera e legítima, surgida de circunstâncias pessoais, que se ajusta ao lirismo íntimo e contemplativo que lhe convinha e que confere modernidade à sua obra». In Marina Bairrão Ruivo, Instituto Camões.
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