Cordesia de os4estarolas
A Torre da Universidade de Coimbra, ex libris da cidade, reabriu para visitas regulares após um longo período de inactividade.
As Visitas à Torre irão decorrer todos os dias úteis com entradas às 11:00 UTC e 15:00 UTC, custo de 10.00€, e uma sessão extra às 16:00 UTC para a comunidade universitária (grátis, com apresentação do cartão de identificação).
Com a devida vénia a António Filipe Pimentel.
«Na longa sucessão de sedimentos edificados que configura o Paço das Escolas, a torre setecentista que alberga o relógio e os sinos que regulam a vida académica constitui, obviamente, uma das mais jovens adições. E, não obstante, é ela, mais que nenhuma outra, a imagem icónica por excelência, não apenas da secular instituição mas, por via dela, e da ligação idiossincrática que plasmou com a cidade onde se alberga, da própria urbe, sobre a qual avulta como um farol dominando o promontório onde, de facto, morfologicamente se levanta.
A sua proto-história remonta a 1537, quando, recém-chegada a Coimbra e na iminência de alojar-se no velho Paço Régio, a Universidade insiste, junto de D. João III, justificando que «nã podia aver boa ordem sem relógio», na transferência de Lisboa do especioso instrumento e do competente sino, adquiridos em finais do século XV. Dois anos mais tarde o monarca autorizaria a sua colocação no interior do pátio, «sobre a porta da emtrada do terrro dos paços», mas o complexo esquema funcional engendrado pelo reitor Frei Diogo de Murça, de molde a albergar, a partir de 1544, o pleno das faculdades no que haviam sido os aposentos da Rainha, seria responsável pela transumância do precioso engenho (aliás de um novo, que entretanto o substituíra) para uma situação mais próxima da logística escolar que lhe competia regular:
- o cubelo voltado ao pátio, que abrigava as escadas centrais dos aposentos do Rei, alteado em virtude dessa operação e mais tarde demolido.
Problemas estruturais decorrentes da edificação, sobre essa torre, da nova casa do sino, estarão provavelmente na origem da decisão, tomada em 1561, de levar a cabo a edificação de uma torre de raiz, alojada junto ao ângulo noroeste do terreiro, cujos planos seriam cometidos a João de Ruão. Quanto à torre actual, ocupando sensivelmente o mesmo local, seria erguida entre 1728 e 1733 e para a história da sua edificação sobreviveria extensa informação.
Cortesia de almocrevedaspetas
De facto, em tal matéria, pesaria por muito tempo o enigma contido na provisão de D. João V, de 1728, dirigida ao reitor Francisco Carneiro de Figueiroa, onde, sobre as plantas para a nova torre por ele enviadas, riscadas por Gaspar Ferreira (que dirigira a edificação da Biblioteca), o monarca afirmava que «mandandose ver por Arquitectos desta corte não aprovarão a Arquetetura da d.ª Torre e pello mais perito se mandou fazer a que com esta se vos remete, com a q. enviastes, da mesma altura e grandeza, mas de milhor fabrica». Pouco mais de um ano depois, no início de 1730, determinava o Rei que, «pª satisfaçam do Arquitetto que fez a planta p.ª a torre da un.de» (cujo nome, uma vez mais, se não indicava), se despendesse da arca escolar a quantia de 48 000 rs., verba que, na verdade, produz violento contraste com os modestos 6 400 rs. que, em Março de 28, haviam sido entregues a Gaspar Ferreira para o mesmo efeito.
Cortesia de deiuc
De facto, suspensa a obra por ordem do monarca e repreendida competentemente a Escola, requisitaria este a planta e orçamento da torre, exigências que o reitor satisfaria, entre justificações, não, aliás, sem promover a realização de nova planta (a «última planta do M.e»), decerto mais cuidada, impetrando ao Rei se dignasse conceder licença para a sua prossecução «de contrario se perderia a despesa feita». Reservaria, porém, para o fim o melhor argumento: o de que o próprio soberano havia «mostrado dezejos de q. na vnd.e floreça a sciencia de Mathematica p.ª q. lhe havia S. Mag.e ordenado comprasse l.os novos, e instrumentos Mathematicos, e parecer necessário haver na Torre hum observatório por não achar o P.e D.os Capaci outro citio maes capas, e com a mayor altura e largura della se evitava a g.de despeza se se houvesse de fazer o observatório em outra p.te como reprezentara a S. Mag.e e a largura bastava ser capas p.ª vinte pessoas».
Ponderado o conturbado processo em que a obra da torre tinha convertido (uma vez consumada a demolição da antiga), e vista a traça feita pelo mestre universitário, decide-se então encarregar Lázaro Leitão Aranha de que «mostrasse a d.ª planta aos Arquitettos desta Corte». E, desaprovada esta, «se mandou fazer outra pello Arquitetto Romano António Canavari», a qual se expediria para Coimbra, a 17 de Dezembro antecedida, na véspera, da ordem para o pagamento dos 48 000 rs. «p.ª satisfação do Arquiteto». A construção da torre universitária acabaria, pois, por ser viabilizada (nessa circunstância se inscrevendo a documentação conhecida), concluindo-se em Julho de 1733.
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Mas também Gaspar Ferreira tem parte de relevo na obra final. Se o seu palmarés de entalhador, metido a Arquitecto o não habilitaria, certamente, a conceber a nova torre à altura da grandeza a que a Universidade estava habituada, essa mesma sua intuição para o rigor da execução do ornato e a ciência prática adquirida na Casa da Livraria, desde que assumira a sua direcção, não deixariam de ser reconhecidas pela Mesa, ao confiar-lhe igualmente, afinal, a direcção da nova empresa, rendendo-se como em quase tudo no controverso negócio em que a erecção da torre se havia convertido, à situação de facto entretanto criada. Pelo que a ele se deve, inquestionavelmente, essa demonstração de «saber fazer» e avulta no trabalho realizado, sem o que o risco do romano se teria fatalmente pervertido». In António Filipe Pimentel.
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Algumas expressões que utilizei/utilizo e são voz corrente na «cidade do bazófias».
Os Sinos. «O Cabrão será, entre os estudantes, tão famoso quanto a Torre da Universidade onde está instalado: é o sino cujo som, ainda hoje, desperta para as aulas. Não é difícil adivinhar por que lhe foi dada a carinhosa alcunha… Já a Cabra é o sino cujo som serve para marcar o fim do dia de aulas. Finalmente, o Balão, outro sino da Torre, só toca em doutoramentos ou ocasiões festivas».
Efe-erre-á. «Criado na Academia de Coimbra como arma de luta política (Efe-erre-á queria na verdade simbolizar FRA, Frente Republicana Académica), este grito generalizou-se a partir de meados do séc. XX, inicialmente na UC, mas depois também nas outras universidades e politécnicos. Hurra! Hurra! Hurra!».
Em nova oportunidade falarei na «Galinha», «Monumentais», «Raposa» e «República».
In Memoriam de MLAC
Cortesia da Universidade de Coimbra/JDACT
Cortesia da Universidade de Coimbra/JDACT