segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

D. Duarte: O Livro de Cavalgar. Parte II. «O livro divide-se em três partes. A primeira recebe o título de « ... que trauta da voontade», que está dividida em 4 capítulos, tratando fundamentalmente sobre a importância de se saber cavalgar na guerra e também na paz»

Cortesia de projectochrono 

Com a devida vénia a Graziela Skonieczny e ao Projecto Chronos.

O Livro de Cavalgar
«D. Duarte escreve o Livro de Cavalgar, «A Ensinança de Bem Cavalgar toda Sela» enquanto ainda era Infante. Mas infelizmente, com a coroação, não pode concluir a obra, por ter seu tempo dedicado exclusivamente aos negócios e afazeres reais. Esta atitude de saber separar o prazer da obrigação, é reflexo da educação dada ao rei desde a tenra idade.
As obras escritas por D. Duarte foram somente descobertas e estudadas a partir do século XIX. Até então, encontravam-se em arquivos, pois o desconhecimento de sua existência era total. Apenas Rui de Pina, cronista português, faz referência ao Leal Conselheiro, porém não lhe dando o devido valor, pois sequer cita a existência do Livro de Cavalgar.
As duas obras de D. Duarte foram encontradas na Biblioteca Real de Paris em 1820, porém somente publicadas em Lisboa em 1843. Desta maneira, a veia literária do rei português cresceu em importância histórica.

Cortesia de projectochronos 
O valor desta descoberta faz com que os historiadores possam compreender melhor a personalidade deste rei. Fornece também informações sobre os usos e costumes da época:
  • maneiras de pensar,
  • a vida cultural e social da corte de Avis
  • as particularidades.
Além das observações de cunho histórico, em matéria de literatura e filologia, é um campo vasto para investigações. Levando em consideração todos estes aspectos, o estudo acerca do Livro de Cavalgar,  indica-nos vários caminhos a seguir.
D. Duarte, ao escrever a obra, deixa bem claro que não tem a pretensão de substituir a experiência e influência do ambiente em que o jovem cavaleiro deve ser criado. Observava que a educação física ou moral não era aquisição de qualidades externas, mas apenas correção e desenvolvimento de condições transmitidas pela natureza. Esse duplo aspecto educativo da exposição de princípios e do incitamento à sua prática é visível no desenrolar da leitura.

Cortesia de projectochrono 
A obra é original do século XV, em português arcaico o que dificulta a leitura:
  • Dada a importância literária, histórica e filosófica do Livro de Cavalgar, e considerando as dificuldades que oferece a sua leitura, impunha-se estabelecer um texto que, ao mesmo tempo respeitasse integralmente todas as particularidades quatrocentistas da obra, fosse contudo acessível ao público culto.
O Livro de Cavalgar sempre foi publicado juntamente com o Leal Conselheiro, o que não lhe conferia muita importância. A edição é comentada por um importante filólogo, Joseph M. Piel, o que atribui à obra maior confiabilidade.
O livro é composto por um prólogo, onde D. Duarte justifica e explica o porquê da realização escrita da obra, qual seja, ensinar os que não sabem e recordar aos que já sabem. Não toma como base nenhum autor, apenas transforma a sua prática em teoria, fornecendo vários conselhos e também informações técnicas. Define o livro como um «manual do bem cavalgar».
Dá indicações como devem ler o livro, pois trata-se basicamente de um livro técnico, devendo ser lido como tal. Quem porventura achar que se trata apenas de um livro de histórias, logo se cansará da leitura e não obterá nenhum proveito desta. Por fim, sugere que se leia e retorne a ler, para ter certeza de que aprendeu.

Cortesia de projectochrono 
O livro divide-se em três partes. A primeira recebe o título de « ... que trauta da voontade», que está dividida em 4 capítulos, tratando fundamentalmente sobre a importância de se saber cavalgar na guerra e também na paz, bem como do valor que o cavaleiro possui dominando bem esta arte.
A segunda parte « ... do poder», está dividida em 2  partes, que tratam do saber governar o corpo, ou seja, manter o físico e da aquisição de bons cavalos e de os saber dominar e governar.
A terceira parte « ...em que se dam XVII avysamentos pryncypaaes ao boo cavalgador», que se divide em 7 partes e cada parte em capítulos. Estes capítulos tratam principalmente de como tratar o cavalo, no que diz respeito ao ensilhamento do cavalo, de como movimentar-se estando montado, da manutenção e de como evitar acidentes.
Ensina como bem utilizar o cavalo nas várias situações que porventura surgirem.
Com este resumo da obra, fica-se com o panorama geral das intenções de D. Duarte ao escrever o livro e quais os objetivos que gostaria de atingir». In Graziela Skonieczny.

Continua.
Cortesia de Projecto Chrono/JDACT