sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Guimarães. Os Paços ducais de Bragança: Parte II. «No seu conjunto e mesmo nos seus pormenores, esta obra resulta estranhamente deslumbrante, não tendo parceiro, perante o seu carácter artístico e as construções senhoriais do seu tempo em todo o território da Península Ibérica»

Cortesia de nonasnonas

Os Paços ducais de Guimarães
«Pouco, pouquíssimo se conhece da história destes grandes Paços ducais, construídos, segundo se crê, sobre os fundamentos do velho palácio dos reis de Leão e do Conde D. Henrique.
Que foi o conde de Barcelos, D. Afonso de Portugal, quem os mandou edificar, é ponto incontroverso.
  • Quando?
  • Que arquitecto os delineou?
  • Como era o seu risco inicial?
  • Que influências nacionais ou estrangeiras o inspiraram?
  • Quando terminaram as obras?
  • Chegaram a concluir-se?
  • Porquê e quando se arruinaram?
Perguntas a que a sombra dos séculos e a escassez da documentação conhecida não permitem dar claras respostas. Escreve Alfredo Guimarães:
  • «A disposição para construir em Guimarães um edifício de semelhantes e raras proporções adveio a D. Afonso dos conhecimentos da vida palaciana europeia. … a inferioridade da sua situação oficial entre ele e os seus irmãos, os Ínclitos Infantes e, comummente, a ambição de vir a ser… o que pudesse ser… na ordem em que a fortuna conduzisse os acontecimentos nacionais. … o mestre da traça, que podemos dizer se chamava Antom, lançou-se no delineamento de um Paço. … os Paços não são uma obra de visão normanda, mas sim a obra de um normando ou, pelo menos, de um francês. … assim, chegamos à conclusão segura de que a planta dos Paços dos duques foi executada em Guimarães entre 1420 e 1442…»
O alicerce documental das opiniões de Alfredo Guimarães é uma escritura de emprazamento de casas na rua Sapateira, feito pelo Cabido da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, em 15 de Maio de 1460, de que foi uma das testemunhas o Mestre Antom de pedraria.

Cortesia de flickr
Estranha-se o silêncio dos documentos sobre este suposto arquitecto dos paços, começados a construir quase 40 anos antes, e habitados havia 27 pela corte ducal, quando se lavrou aquela escritura de emprazamento. Mais, «que a influência do traçado é italiana, embora o estilo seja o gótico francês … já tradicional no país».
Alfredo Guimarães, mantendo a sua opinião, escreve ainda:
  • «Na traça de Mestre Antom e sob a vedoria de Joahne Steuez, o edifício começou a construir-se pela frontaria, aquela que mais tare, em 1666 os frades capuchos de Guimarães haviam de apear para a construção do seu convento. …O edifício foi erguido inteiramente, e assim deveria estar quando, em 26 de Janeiro de 1480 faleceu nele, com perfumes de santidade, a virtuosa Senhora que foi a primeira Duquesa de Bragança».
Ao confiscar a casa para a coroa, D. João II nomeou carpinteiros para as obras do Paço de Guimarães. É o que consta de uma carta de 20 de Dezembro de 1490, em que o carpinteiro João Domingos renuncia esse cargo a favor do seu genro Afonso Anes, também carpinteiro.
O certo é que os condes já viviam em Guimarães e provavelmente naqueles paços em 1433, porque aí datou D. Afonso a carta que endereçou a seu pai sobre nova empresa de África, que o infante D. Henrique então planeava.
O 1º duque de Bragança morreu em 1461 e a sua viúva continuou vivendo em Guimarães, até fim dos seus dias, em 26 de Janeiro de 1480. Não consta que a duquesa ali fizesse quaisquer obras.
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Em 1462 lavraram-se nos Paços as escrituras do casamento de D. João, filho do duque D. Fernando, com Isabel de Noronha, e em 1472 celebraram-se ali as cerimónias nupciais do duque D. Fernando II com a duquesa D. Isabel, recebidos pelo bispo de Viseu, D. João Gomes de Abreu. Também naquele ano de 1462, o duque confirmava à duquesa viúva a posse dos reguengos e rendas da vila de Guimarães, que D. Afonso dera à sua segunda mulher. A Casa de Bragança viu confiscados os seus bens com a subida ao cadafalso do duque, em 1483, e a coroa entrou na posse do Paço de Guimarães.

E dizem que o infante D. Duarte que, pelo seu casamento teve o ducado de Guimarães, entre os anos de 1537 e 1540, ali teria vivido um tempo, o que não aconteceria se os paços estivessem destruídos. O primeiro depoimento que atesta a ruína é o do Cónego Gaspar Estaço que, nas suas Várias Antiguidades de Portugal, escreveu:
  • «D. Afonso, Conde de Ourém, genro de D. Nuno Álvares Pereira, fez aquele sumptuoso edifício que hoje está muito arruinado que chamam o Paço dos Duques».
Nos princípios do século XVII, em 20 de Outubro de 1611, a Câmara de Guimarães informava acerca da petição das freiras de Santa Clara, que pediam a pedra dos muros junto do Paço para as obras do seu mosteiro, que a dita pedra era do duque. É provável que nesse tempo a ruína, já começada, não fosse ainda grande. O maior descalabro parece ter-se dado à roda de 1666. Os frades capuchos alcançaram do rei uma provisão concedendo-lhes, para as obras do seu convento, a pedra do Paço de modo que só ficassem deste as paredes exteriores e se tapassem as portas a pedra e cal. Contra esta decisão da coroa, levantaram-se a Câmara, Nobreza e Povo de Guimarães, e em vereação de 31 de Janeiro desse ano de 1666, assim disseram e assentaram. E pouco depois, em vereação de 4 de Fevereiro mandaram proceder à vistoria dos Paços e avaliar das obras de que necessitavam, para delas informar o monarca.

Cortesia de portugalimagens
Fizeram uma vistoria os mestres de pedraria Gonçalo Vaz e Pero Lopes, com o arquitecto António de Andrade que afirmaram sobre o estado de ruína era só nos telhados e madeiramentos, a grande massa de pedraria estava intacta. Para salvar os paços, ainda, pouco depois, acordavam em dar aos religiosos a pedra da barbacã do muro de santa Bárbara mas, ... tudo em vão, consumou-se o vandalismo e muitos seguiram o exemplo dos capuchos.
Em 1881, escrevendo do Paço dos duques de Guimarães elucidava  António Ferreira Caldas:
  • «...este palácio foi considerado monumento histórico de segunda classe pela Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses em assembleia geral de 30 de Dezembro de 1880. ... este monumento é um vastíssimo edifício muito interessante para o estudo das habitações dos grandes senhores e dos costumes daquela época...».
No seu conjunto e mesmo nos seus pormenores, esta obra resulta estranhamente deslumbrante, não tendo parceiro, perante o seu carácter artístico e as construções senhoriais do seu tempo em todo o território da Península Ibérica». In IGESPAR.

Cortesia de IGESPAR/JDACT