Frontispício do manuscrito
da História Geral das Guerras Angolanas, escrito em 1680
(1623-1690)
Vila Viçosa
Cortesia de wikipedia
«Para além da «Historia Geral das Guerras Angolanas», Cadornega escreveu também a «Descrição da muito populosa e sempre leal Vila Viçosa, Corte dos Sereníssimos Duques dos Estados de Bragança e Barcelos», que concluiu em 1683, mas que só foi publicada em 1983, em edição preparada por Heitor Gomes Teixeira. Barbosa Machado atribui a Cadornega dois manuscritos que se perderam:
- Compendio da expugnação do Reyno de Benguela, e das terras adjacentes. fol.,
- Historia de todas as cousas, que succederão em Angola no tempo dos Governadores, que a governarão depois da guerra atè D. João de Lancastro. fol. Tom. 4.
Este último seria a continuação da História Geral das Guerras Angolanas (3 vols.). Apesar de este ter sido aprovado na altura pela «maldita» Inquisição para ser publicado, a verdade é que só o foi no século XX. Deveu-se isso à persistência e ao trabalho do Cón. José Matias Delgado (1865-1932) que, com muito saber e enorme paciência, anotou os dois primeiros volumes. O terceiro não se refere propriamente à história, mas à descrição da geografia e etnografia de Angola, pensando Delgado que não tinha necessidade de anotações. Mas também ele não viu a obra impressa. Mons. Manuel Alves da Cunha (1872-1947) anotou o 3º volume e promoveu a impressão da obra em 1940 e 1941.
As anotações são de facto, indispensáveis. Apesar do estilo franco e espontâneo de Cadornega, ele tinha as suas limitações que não o desonram, pois derivam sobretudo da sua falta de formação académica. Sobre o seu estilo e o conteúdo do livro, seguiremos o texto de Beatrix Heintze, que é especialmente incisivo.
Cortesia de rubelluspetrinus
Cadornega começou a escrever os seus livros já com idade avançada e teve desde logo dificuldades em relação aos acontecimentos ocorridos antes da sua chegada a Angola em 1639. Aí errou praticamente todas as datas, tal como diz o anotador Matias Delgado. Quando descreve um acontecimento, não julga nem critica ninguém, limita-se a dizer o que se passou. No intuito de o saber, falou com inúmeras pessoas, e especialmente com os missionários capuchinhos, António de Gaeta e João António Cavazzi de Montecuccolo.
A Rainha Jinga é a personagem mais presente na sua história. Cadornega estava literalmente fascinado por ela, ora marcando-a com adjectivos incisivos, como «bicha peçonhenta», ora admirando a sua conversão à Fé de Cristo, com outros adjectivos:
- «isto faz o tempo e estas cousas obra Deus como Pai de misericórdia, que de Leoas bravas, faz Cordeiras mansas».
Como o título da obra indica, as campanhas militares são o assunto principal dos livros, nomeadamente os 2 primeiros volumes. Não é um historiador objectivo, não esconde que defende o partido dos portugueses. As batalhas ganhas pelos portugueses são descritas em detalhe em muitas páginas, ao passo que resume as derrotas a poucas linhas.
A Rainha Jinga
Cortesia de rubelluspetrinus
Passa ao lado do tráfico negreiro, que era um dado adquirido e indiscutido, tal como se diz na Consulta do Conselho Ultramarino de 14-12-1652:
- «… e a causa que para isto dá, é que faltam os escravos, único cabedal daquela Conquista (i.é, Angola), os que os havia antigamente por resgate nas feiras, ou por se cativarem na guerra». (MMA, XI, 245).
Mas acaba por sugerir para o século XVII o número de um milhão de escravos embarcados para as Índias Ocidentais no seguinte trecho:
- «E se pode julgar a máquina de gentio que têm estes reinos; pelo que diremos que haverá cem annos que se começou a conquista destes reinos e têm hido hum anno por outro despachadas deste porto outo a dez mil cabeças de escravos, que são quasi um milhão de almas, salvo melhor arithmetica: por aqui se pode ver o que isto vem a ser; tirado os sete annos que estes reinos estiveram no cativeiro de Faraon ou dos Hollandezes. E a fora muitos que forão furtados aos direitos novo e velho, e ao subsídio; e isto succede em todos os navios que deste porto vão, qual mais, qual menos». (Vol. III, pag. 254).
A crónica das guerras angolanas de Cadornega representa ainda uma homenagem aos povos de Angola, que resistiram tanto quanto puderam a quem os queria subjugar e que venderam cara a sua liberdade, não parando de por ela lutar». In Arlindo Correia.
Cortesia de tudosobreangola
Cortesia de Arlindo Correia/JDACT