terça-feira, 19 de abril de 2011

Páginas Desconhecidas: A Poesia revolucionária e A Morte de D. João. «O D. João de Byron é o monumento literário mais característico da época, e a Morte de D. João está para ele como a obra prima de Cervantes está para os Amadis... E, como verdade fria dessa época de grandes ilusões, restam-nos duas figuras, dois únicos homens que dominaram a situação...»

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«Já passou o tempo em que a vertigem do heroísmo inchava os homens como na fábula da rã e do boi. Os gigantes-pigmeus do princípio deste século viram-se ainda em vida reduzidos às proporções mesquinhas dos mortais. Um pseudo-Prometheu carpia em Santa-Helena; Chateaubriand, o Juliano-apóstata do catolicismo, despia o manto nas Memórias; os Rolandos do Império humilhavam-se perante o obeso Luís, 18 de nome; o grande eu heróico de Fichte e de Schiller aparecia em Waterloo com Blúcher e depois em Paris, a dar uma amostra dos prussianos de 1870. E, como verdade fria dessa época de grandes ilusões, restam-nos duas figuras, dois únicos homens que dominaram a situação, Metternich, um imbecil, e Talleyrand, um maroto.

Cortesia de auladeliteraturaportuguesa
Quem forjava os heróis da tragi-comédia era uma literatura doente e uma filosofia insensata. O espírito humano, comovido pelo drama colossal de1793, abandonara momentaneamente as suas gloriosas tradições: fulminava o século XVIII e o seu espírito científico, esquecera Montesquieu e Gibbon, não sabia da existência de Vico, e tinha horror a Locke e a Diderot. Nem Lamarck, sucessor de Buffon e verdadeiro precursor do transformismo, nem Goethe e a escola naturalista da Alemanha, podiam achar graça perante os visionários.

Byron
Cortesia de carloscosta
Napoleão, comandando batalhas com o Ossian-Macpherson no bolso, dá uma ideia exacta desta face do tempo dos nossos pais. Byron, o autor do D. João, o escandaloso demónio que feriu na face o pudor das fêmeas inglesas, alistando-se entre os libertadores da Grécia, morrendo mesmo em Missolonghi, dá outro aspecto da época:
  • «o homem apaixonado e indómito, conforme o entrevira Rousseau e Fichte o pregava»
In J. Oliveira Martins, Artes e Letras, nº 3, 3ª Série, Lisboa, 1874.

Cortesia de Seara Nova/Oliveira Martins/JDACT