domingo, 3 de abril de 2011

Navegações Portuguesas: Família Albernaz (primeira parte). Parte XIX. «A obra deste cartógrafo tem um acentuado interesse, tanto pela sua amplitude e variedade, como pelo registo do progresso dos descobrimentos e explorações, quer marítimas quer terrestres, mormente, no que respeita ao Brasil. A sua produção conta 19 Atlas»

(séc. XVI-c. 1662) 
Lisboa
João Teixeira Albernaz I
Capitania de S. Vicente
Cortesia de historiasinterativasnom

Família Albernaz
«Esta família de cartógrafos entronca-se na dos Teixeira, sendo os irmãos João Teixeira Albernaz (I) e Pedro Teixeira Albernaz filhos de Luís Teixeira. Além de outros autores de trabalhos menores, como Estevão Teixeira, integra também esta família João Teixeira Albernaz (II), neto do seu homónimo.

O primeiro membro referido, João Teixeira Albernaz I, terá desenvolvido o seu trabalho já no século XVII, tendo recebido carta de ofício a 29 de Outubro de 1602, tendo sido examinado pelo cosmógrafo-mor João Baptista Lavanha, e três anos depois é nomeado cartógrafo da Casa da Mina e Índia. No Arquivo das Índias, em Sevilha, um documento regista a presença deste cartógrafo e de seu irmão Pedro em Madrid, a fim de executar as cartas náuticas representando os Estreitos de S. Vicente e Magalhães.

Cortesia de wikipedia
Numa relação de viagem levada a cabo pelos irmãos Bartolomeu e Gonçalo Nodal, aos referidos Estreitos, existe uma carta executada por Pedro Teixeira Albernaz, que contou com a colaboração de seu irmão João Teixeira. Ainda em relação ao seu percurso profissional, poderemos acrescentar que em 1622 apresenta uma petição para ser provido do lugar de Cosmógrafo-Mor, tendo sido preterido a favor de Valentim de Sá, com quem colabora no ano seguinte ao fazer parte do júri que passará carta de ofício a João Baptista de Serga. Em finais do século XVII, num parecer emitido por Manuel Pimentel sobre o Atlas do Brasil de 1642, existente na Biblioteca da Ajuda, este advertia para erros constantes na primeira carta do referido Atlas, o qual não respeitava a linha de demarcação acordada entre Portugal e Espanha. Concluía Manuel Pimentel que o livro não tinha mais que boas pinturas e iluminações.
A obra deste cartógrafo tem um acentuado interesse, tanto pela sua amplitude e variedade, como pelo registo do progresso dos descobrimentos e explorações, quer marítimas quer terrestres, mormente, no que respeita ao Brasil. A sua produção conta 19 Atlas, um grupo de 4 cartas, 2 cartas soltas, para além de uma incluida num Atlas de outra origem. Existem mais 8 cópias de dois dos 19 Atlas, num total de duzentas e quinze cartas, mais duas gravadas.


Cortesia de wikipedia
Algumas destas obras são dignas de registo:
  • na Biblioteca Pública Municipal do Porto, existe uma cópia do códice intitulado «Rezão do Estado do Brasil», de c. de 1616, de autor anónimo, mas atribuido a João Teixeira Albernaz I. Segundo a opinião de Varnhagen, Köpke e Hélio Viana, apenas as cartas deste códice são da autoria de JoãoTeixeira, sendo o texto da autoria do sargento-mor Diogo de Campos Moreno;
  • o «Livro que dá Rezão do Estado do Brasil», de c. de 1626, contém 22 cartas, constituindo uma cópia do anterior, mas de maiores dimensões;
  • o Atlas do Brasil, de 1631, existente, em 1960, no Ministério das Relações Exteriores do Rio de Janeiro, abrange 36 cartas, que têm a particularidade de exibir quadros para legendas, e para escudos dos donatários ou da Coroa, que não estão preenchidos. Terá sido mandado organizar por D. Jerónimo de Ataíde, donatário da Capitania dos Ilhéus. Contém muitos elementos que nos dão informação sobre a indústria açucareira, para além de representar os estuários dos rios Prata e Amazonas, evidenciando os padrões de demarcação entre Portugal e Espanha;
  • composto de 32 cartas, um outro Atlas do Brasil, de 1640, do qual existem sete cópias, encontra-se à guarda do Arquivo Histórico do Ministério das Finanças. Tem a particularidade de cada carta ser precedida de uma folha com texto explicativo;
  • o Atlas Universal, de 1643, com 8 cartas, é uma obra de excepcional valor artístico, e é bastante diferente dos outros Atlas do mesmo autor, porque tem um carácter basicamente hidrográfico.
Estas são algumas das obras mais significativas da autoria de João Teixeira Albernaz I, também conhecido como João Teixeira Albernaz, o Velho.

Cortesia deportocidadeunisanta

Na parte II falarei no seu irmão Pedro Teixeira, que nasceu em Lisboa no século XVII, tendo desenvolvido a sua actividade em Espanha». In Augusto Quirino de Sousa, Instituto Camões.
 
Cortesia de Instituto Camões/JDACT