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«As primeiras referências históricas sobre o Condado Portucalense surgem já em finais do século IX. Todavia, as menções ao local cuja denominação daria origem ao nome do condado datam de há cerca de 2 mil anos. Com efeito, já no século I a. C., o historiador romano Salústico menciona a existência de uma civitas identificada como Cale. Esta denominação aparece mais tarde, no século II, no Itenarário de Antonino, que situa a povoação algures no caminho que ligava Liaboa a Braga. Associada, mais tarde, a um ponto de passagem entre as duas margens do Douro, Cale parece ter sido um porto de abrigo, situado na foz do rio, a cuja designação os romanos juntaram o vocábulo portus. Outro documento datado do século V, atribuído ao bispo Idácio, reporta a detenção em Portucale, por ordem do rei visigodo Teodorico, do monarca suevo Requiário.
A localização precisa do lugar, envolvida em alguma polémica após a descoberta das actas do Concílio de Lugo no século VI, que mencionavam a existência de um «Portucale castrum novum», situado na margem direita do rio, e de um «Portucale castrum antiquum», na margem esquerda, não prejudica, porém, a asserção de que do topónimo Cale tenha derivado Portucale, que, por sua vez, terá dado origem ao nome do Condado Portucalense.
Estátua de Vímara Peres. Porto
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Arrasadas por uma das campanhas de Almançor no final do primeiro quartel do século IX, as fortificações suevas do burgo portucalense seriam reconstruídas pelo trisavô de Egas Moniz, Moninho Viegas. Cerca do ano 865, a povoação de Portucale seria a mais importante da área que abrangia os territórios do Minho e algumas terras a sul do rio, recuperada aos mouros pelo conde Vimara Peres, oriundo da poderosa família dos Mendes. Estes, que se manifestaram com êxito no apoio à coroação do rei de Leão, representavam um dos baluartes defensivos dos territórios até ao Mondego e tiveram protagonismo na fundação de Portugal. Uns oram, outros guerreiam, outros trabalham. Do ponto de vista social, é ao clero, à nobreza e ao Povo que correspondem, essas atribuições. Era esta a ordem que organizava o medievo cristão, na segunda metade do século XI, na zona setentrional da Península Ibérica.
Em Portucale, no exercício de estratégias de coligação, revelar-se-ia capital o protagonismo de algumas famílias de infanções:
- os Sousa,
- os Bragança,
- os Maia,
- os Baião,
- os Ribadouro, entre outros.
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A constituição da nacionalidade portuguesa não foi, contudo, apenas obra individual de uma família portucalense, ainda que esta se tenha mantido no poder durante cerca de 200 anos. Foi também importante a contribuição de um grupo de poderosos infanções (antigo título de nobreza inferior ao de rico-homem, nota de JDACT) que ao longo do século X e XI, cimentou uma posição política e social significativa, deu provas de uma capacidade de iniciativa e concretizou o exercício de poderes públicos a nível regional e local.
Para a concretização dessa realidade contribuiu, não só o esforço de organização e iniciativa de toda uma comunidade, mas também a gesta de algumas figuras ímpares em empenho e em audácia. Os nomes de alguns figuram no Livro de Cale.
Dele despontam ameaças, ódios, traição e morte. Por ele, transcendem-se ousadias, ultrapassam-se limites, fundam-se propósitos. Com ele, reconciliam-se solidariedades, criam-se amizades, unem-se paixões». In Carlos Cordeiro, O Livro de Cale, Publicações Europa-América 2010, edição nº 103583/9344.
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