quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aqueduto das Águas Livres: Lisboa. Parte II. «Actualmente, debaixo destes arcos passam diversas vias de comunicação. Sob o Arco Grande passa a Av. Calouste Gulbenkian com 6 vias de trânsito. Em 1887 foi inaugurada a linha de caminho-de-ferro, que ligava a estações de Campolide e Rossio, passando por de baixo de um dos arcos e depois entrando no Túnel do Rossio»

Cortesia de arqnet
Depois de ter entrado em funcionamento, em 1748, toda uma nova rede de chafarizes e fontes foi construída na cidade, alimentados por gravidade, como por exemplo o Chafariz da Esperança. Desde logo, também, a capacidade do aqueduto foi aumentada devido às crescentes necessidades de água potenciadas pelo crescimento demográfico da cidade. Os sucessivos aumentos do aqueduto, principalmente a montante, com o objectivo de fazer chegar até ele mais água, totalizaram um comprimento de 58 135 metros de galerias subterrâneas e também elevadas.
O caminho público por cima do aqueduto, esteve fechado desde 1853, em parte devido aos crimes praticados por Diogo Alves, o Pancadas, um criminoso que lançava as suas vítimas do alto dos arcos depois de as roubar, simulando um suicídio, e que foi o último decapitado da História de Portugal.
Em 1880, a importância do aqueduto diminuiu bastante devido ao início da exploração das águas do Alviela, através do Aqueduto do Alviela que levava a água até ao reservatório dos Barbadinhos onde a água era elevada com máquinas a vapor, alimentando Lisboa de água potável. O aqueduto manteve-se porém em funcionamento até 1968, tendo sido definitivamente desactivado pela EPAL em 1967.

Cortesia de papagaio

Cortesia de catedralwe
O Aqueduto das Águas Livres tem início na Mãe d'Água Velha, que recolhia a água da nascente da Água Livre, em Belas, e termina no Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras após um percurso de 14 174 metros. A extensão da rede de captação foi crescendo até atingir um total de 47 quilómetros, recolhendo água de 58 nascentes, boa parte delas na zona da serra da Carregueira. Se ainda se considerarem os 11 quilómetros da rede de distribuição dentro da cidade, o sistema atinge uma extensão total de 58 quilómetros.
Na primeira fase de funcionamento do aqueduto, a captação de águas era feita apenas na nascente das Águas Livres e algumas outras perto do local. O escoamento recolhido era enviado para a Mãe d'Água Velha de onde partia o aqueduto principal. Contudo, devido à crescente necessidade de água da capital a rede de aquedutos tributários do principal alargou-se progressivamente. Esse crescimento verificou-se no aparecimento de novos aquedutos que ligavam ao principal, aos quais estavam ligados uma série de outros aquedutos mais pequenos. De entre os aquedutos que alimentaram o das Águas Livres destacam-se:
  • Aqueduto do Caneiro,
  • Aqueduto da Mata,
  • Aqueduto das Galegas,
  • Aqueduto das Francesas.
Situada em Caneças, a Mãe d'Água Velha recolhia a água que provinha da nascente das Águas Livres. É um edifício cilíndrico de 6 metros de diâmetro no qual era armazenada a água antes de ser lançada para o aqueduto. A Mãe d'Água Nova apareceu aquando da expansão da rede de captação de águas do aqueduto principal. Este servia para armazenar as águas provenientes do aqueduto do Carneiro com o aqueduto da Quintã. A partir deste reservatório parte uma galeria que se junta, 425 m abaixo, ao aqueduto das Águas Livres.

Cortesia de olhares 
Cortesia de purl
Com um total de 127 arcos, o troço mais conhecido, e mais visível, do aqueduto das Águas Livres é o que passa sobre o Vale de AlcântaraTem 941 metros de comprimento e é constituído por 21 arcos de volta perfeita e 14 arcos centrais em ogiva.
Lanternim no aqueduto de Alcântara
Cortesia de wikipedia

Carlos Mardel, quando projectou o aqueduto, que viria a ser terminado em 1744, pensou em incluir na estrutura uma passagem que permitisse que os habitantes da cidade podessem atravessar o vale de Alcântara desde Lisboa até Monsanto. Para tal, serviu-se dos 3,5 metros de espessura da estrutura para nela inserir dois caminhos de 66 centímetros de largo, dividido pela galeria que transporta a água. De forma a ligar os dois caminhos existem alguns lanternins que permitem que se passe de um lado para o outro da galeria. Os lanternins têm também uma função arquitetónica bem definida, que é a de cortar um pouco da monotonia visual provocada pela grande e pesada arcaria, dando-lhe um toque de elegância e beleza.
Para além dessas duas funções tem ainda outra, que, no que diz respeito à sua verdadeira funcionalidade, é a mais importante:
  • Respiradouro. Por forma a oxigenar as águas que passam na galeria, o contacto com a atmosfera, que os lanternins permitem, é fundamental para a qualidade da água transportada.
A opção dos arcos em ogiva foi a solução construtiva mais indicada a escolher devido aos grandes vãos a vencer e também devido à grande altura da estrutura. Portanto, depois de começada a descida em direcção ao fundo do vale de Alcântara, feita através de dezoito arcos de volta redonda, ainda em Monsanto, a arcaria passa a ser em ogiva. Na encosta de Campolide, o aqueduto termina com 3 arcos de volta perfeita. A não opção de arcos em ogiva deveu-se a Custódio Vieiraque afirmou que altura do aqueduto nesse troço não justificava arcos em ogiva, que eram de execução mais difícil.
De todos os 14 arcos em ogiva destaca-se um, o Arco Grande. O maior arco da imponente arcaria foi a parte de mais difícil execução neste troço, e talvez de toda a obra. Mede 65 metros de altura e dista 29 metros entre pegões, sendo o maior arco ogival do mundo. Teve de assim ser concebido devido à passagem da ribeira de Alcântara entre os seus pegões. De cada um dos lados do passeio existem duas placas iguais com a seguinte inscrição: Arco Grande/Altura do rio ao passeio/Em palmos: 296,75 - Em metros:65,29/Largura entre Pegões/Em palmos: 131 - Em metros: 28,86.

Cortesia de catedralwe
Actualmente, debaixo destes arcos passam diversas vias de comunicação. Sob o Arco Grande passa a Av. Calouste Gulbenkian com 6 vias de trânsito. Em 1887 foi inaugurada a linha de caminho-de-ferro, que ligava a estações de Campolide e Rossio, passando por de baixo de um dos arcos e depois entrando no Túnel do Rossio. A distribuição das águas provenientes do aqueduto era feita através de chafarizes. Na extremidade jusante do aqueduto, a Mãe d'Água das Amoreiras recebia e distribuía as águas por galerias e encanamentos que as encaminhavam para uma rede de chafarizes públicos. Antes ainda de chegar ao centro de Lisboa, o aqueduto alimentava alguns locais, tais como a Falagueira (Amadora), Benfica e São Domingos de Benfica. O facto de entrar em Lisboa pelo lado ocidental, a uma cota de 95 metros, permitiu a criação de uma extensa rede de chafarizes em toda essa zona da cidade.



Cortesia de wikipedia
Eram quatro as galerias que distribuíam a água na zona da cidade de Lisboa compreendida entre os vales de Arroios e de Alcântara:
  • Galeria das Necessidades,
  • Galeria da Esperança,
  • Galeria do Loreto,
  • Galeria de Santana.
As três primeiras seguiam a partir do Reservatório das Amoreiras, enquanto que a última partia do arco do Carvalhão. O chafariz do Rato e o chafariz da Cruz das Almas eram abastecidos directamente do aqueduto, sem que necessitassem de galerias que transportassem a água até eles.

Cortesia de wikipedia/JDACT