Cortesia de palimage
Com a devida vénia a Ana Nazaré Oliveira, Termas de S. Pedro do Sul (Antigas Caldas de Lafões), 2002, Palimage Editores, ISBN 972.8575-38-6.
«Fosse ou não ali concebido tal plano, certo é que a Cúria Régia reuniu várias vezes em Lafões.Como se vê pelas datas dos documentos, a permanência do Rei no Banho foi demorada, pois, sendo certo que lá se encontrava em Setembro, em Outubro e continuava, pelo menos, a 13 de Novembro, se não houve interrupções, é legítimo concluir por uma presença contínua, num mínimo de dois meses. Problema que pode pôr-se é o de saber se terá voltado aos banhos. Já vimos que Pires da Sylva fala nos banhos da Primavera seguinte, mas nenhuma outra fonte ou documento o refere.
Pinho Leal refere a vinda em 1175, ano em que, diz ele, quebrou a perna em Badajoz. É um claro erro, pois o desastre de Badajoz foi em 1169. O mais curioso é que Pinho Leal diz que, segundo Viterbo, o rei veio em 1169. É evidente que Viterbo é que está certo. O erro de Pinho Leal ficou e alguns autores o têm repetido. Fá-lo, por exemplo, Correia de Azevedo, numa pretensa monografia sobre Lafões, que mais tem por objectivo louvar os vivos do que fazer história, amontoado de informações colhidas a esmo, não raro carente de rigor e sem um mínimo de estrutura e metodologia científica. Com a agravante de o autor afirmar que Pires da Sylva diz que D. Afonso Henriques frequentou o Banho em 1175, depois, de uma queda em Badajoz, quando a verdade é que o antigo médico das caldas (fins do séc. XVII) nunca disse tal coisa. In Ana Nazaré Oliveira, Termas de S. Pedro do Sul (Antigas Caldas de Lafões), 2002.
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Antes, cita documentos ali lavrados e correctamente datados pela Era de César, ainda que reportando-os a 1189 da Era de Cristo, o que, cremos, se deve a gralha tipográfica, pois deveria ser 1169. Mas nunca escreveu 1175. Na realidade, quem escreve o erro é, mais tarde, Pinho Leal.
Eduardo dos Santos, num primeiro trabalho diz, correctamente, que o Rei veio em 1169,mas acrescenta, com alguma confusão na citação dos documentos, que voltou em 1175. Verdade que, em publicação posterior do mesmo trabalho refundido, deu-se conta do lapso, suprime o ano de 1175 e aponta o facto com inteira correcção.
Em Suplemento do Diário de Notícias, Francisco Hipólito Raposo, num interessante artigo sobre o património histórico e artístico de S. Pedro do Sul, depois de afirmar que D. Afonso Henriques veio às Caldas por mais que uma vez, refere o ano de 1175. É o erro de Pinho Leal a repetir-se! Se assim tivesse acontecido, é natural que disso houvesse notícia. Dificilmente Pires da Sylva deixaria de o assinalar na sua «Chronographia Medicinal das Caldas de Alafoens», 1696, a mais antiga e completa publicação. A verdade é que não se conhece qualquer documento que o prove ou, sequer, o sugira.
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Parece-nos, pois, errado dizer que o Rei voltou em 1175. Mas claramente errado é dizer que veio pela primeira vez naquela data e que, nesse ano, foi o desastre de Badajoz.
E, antes do desastre, terá D. Afonso Henriques utilizado as águas do Banho?
Partindo da afirmação de Duarte Galvão, na crónica de D. Afonso Henriques, de que o príncipe teria nascido aleijado das pernas, já se tem admitido que, naquelas águas, menino ainda, teria encontrado cura. Para além de tudo o que de fantasioso existe sobre a pretendida enfermidade do príncipe, não se conhece qualquer documento que deixe, sequer, supor a vinda de D. Afonso Henriques às Caldas de Lafões, antes do desastre de Badajoz. A única certeza que fica é, pois, a da sua presença em 1169.
Perante tantos testemunhos documentais, causa alguma estranheza que ainda se escreva, em artigo publicado na revista do Inatel «Tempo Livre», (n.º 115, Março 2001, p. 16): «As águas da Vila do Banho teriam curado, a acreditar nas estórias (sic) as mazelas da perna de D. Afonso Henriques».
Com a amizade de MR.
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