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Astrologia
«A Astrologia forma, com a Alquimia e a Magia, as três colunas sobre as quais assenta o Esoterismo ocidental, sendo a Gnose e o Hermetismo as suas duas vertentes teóricas. Neste sentido, a Astrologia não é apenas uma arte divinatória, a chamada Astrologia «judiciária», mas sobretudo uma doutrina esotérica que permite conhecer, num quadro tradicional, o Homem, a Natureza e o Cosmos. É portanto natural que ela acolhesse o interesse de Pessoa.
Paulo Cardoso, investigador e astrólogo que se debruçou sobre o espólio astrológico do poeta e que, pela sua obra publicada, escolhemos como guia nesta área, afirma que «Os fragmentos mais antigos que existem no espólio de Fernando Pessoa, contendo cálculos e notas astrológicas, elaborados já com uma certa complexidade, datam de 1908, ou seja, dos seus vinte anos». O mesmo estudioso da faceta astrológica de Pessoa, que no referido livro, ensaia uma leitura astrológica da Mensagem, refere que «Existem no espólio centenas de textos (...), descrevendo as várias áreas da teoria astrológica. São, mais exactamente, 221 fragmentos de textos mais simples, mais elementares, e 261 mais complexos e com uma abordagem mais profunda dos temas».
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É também sabido que o poeta decidiu escrever, por volta de 1916, um Tratado de Astrologia, cuja autoria atribuiria a um heterónimo, Rafael Baldaia, e que incluiria na sua segunda parte «O horóscopo de uma nação (Portugal)» (in António Quadros); segundo Paulo Cardoso, existe no seu espólio «um horóscopo de algumas notas sobre as posições ocupadas por Neptuno, planeta regente dos Peixes, signo de Portugal, em momentos especiais da nossa história:
- Alcácer Quibir,
- a entrada dos espanhóis em Lisboa,
- a Restauração,
- a Fundação da Monarquia,
- a aclamação de D. João I.
A intenção era, muito provavelmente, o levantamento de um horóscopo para Portugal».
NOTA: Como refere Paula Costa, heterónimos são seres fictícios criados por Pessoa, a partir de 1914. Os seus nomes são Ricardo Reis, nasceu em 1887, no Porto, e médico e viveu no Brasil, Alberto Caeiro, 1889, em Lisboa, poeta bucólico que viveu quase sempre no campo, e Álvaro de Campos, 1890, em Tavira, engenheiro naval por Glasgow. É interessante referir que as datas de nascimento dos heterónimos têm uma interpretação astrológica de acordo com as personalidades e interesses de cada um. Para além destes três heterónimos Pessoa criou também dois semi-heterónimos: Bernardo Soares, empregado de comércio e ajudante de guarda-livros e António Mora, filósofo pagão e também sociólogo, para os quais não atribuiu nenhuma indicação da sua data de nascimento.
Existe também, um «horóscopo da República Portuguesa (...) um dos vários que Pessoa fez em relação a Portugal». António Telmo que estudou esta questão do Horóscopo de Portugal, no seu livro homónimo, escreveu que «No pensar de Fernando Pessoa há (...) um primeiro, um segundo e um terceiro Portugal» e, para explicitar este pensamento, que tem um fundamento astrológico, cita a carta que o poeta enviou ao Conde de Keyserling, «que não gostava de portugueses, arrancada às trevas do baú por Teixeira da Mota». Há um Portugal triplo. Um nasceu com o próprio país: é esta alma da própria terra (…) que encontrará no fundo de cada português. O terceiro Portugal, que encontrareis à superfície dos portugueses visíveis, é aquele que (...) formou esta parte do espírito do português moderno que está em contacto com a aparência do mundo.
Horóscopo de Alberto Caeiro feito por Fernando Pessoa
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Esta terceira alma portuguesa é apenas um reflexo mal compreendido do estrangeiro. O Portugal essencial, a Grande Alma portuguesa, em toda a sua profundidade aventurosa e trágica, foi-lhe velada. Não é o objectivo desta carta desvendar-lha, "pois não é ainda chegado o tempo" (...). Há uma segunda alma portuguesa nascida (...) com o começo da nossa segunda dinastia, e retirada da superfície da acção com o fim, o fim trágico e divino, desta dinastia. Depois da Batalha de Alcácer-Quibir (...), a alma portuguesa, que procurará em vão, tornou-se subterrânea. A partir daí tornou-se verdadeira, pois a sua origem era também subterrânea, e veio-nos de mistérios antigos e de sonhos antigos (...)».
Interessante também é referir que, para cada um dos heterónimos principais, Pessoa elaborou um horóscopo de acordo com a sua personalidade literária e com a sua biografia. Com refere Paulo Cardoso, «Para dar um exemplo da importância deste suporte astrológico, logo na própria concepção heteronímica, basta dizer que a principal obra de Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos”, foi escrita exactamente na data em que astrologicamente devia ser feita, ou seja:
- alguém que tivesse um horóscopo idêntico ao daquela personagem teria, para além de um processo de vida semelhante àquele que Fernando Pessoa lhe atribuiu, escrito a sua obra-prima naquela mesma data».
Para além dos horóscopos dos heterónimos, Pessoa elaborou também muitos outros de diversas pessoas, entre os quais Raul Leal, Almada Negreiros e...ele próprio, em cujo horóscopo se aponta como data possível da sua morte, Maio de 1935, seis meses antes do seu falecimento». In José Manuel Anes, Fernando pessoa e os Mundos Esotéricos, Ésquilo 2008, ISBN 978-989-8092-27-4.
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