Cortesia de ecolibri
A Carreira Equestre de Plínio
A Obra
«A primeira designação justifica-se por uma obra de carácter retórico em três livros, “Studiosi”, enquanto que as questões gramaticais ocupariam os oito livros do “Dubius sermo”. O título e os fragmentos desta obra permitem situar o seu conteúdo dentro da tradicional querela entre analogistas e anomalistas. Escrita no tempo de Nero, é claramente marcada pelo estoicismo e, ao assumir os princípios dos anomalistas, encara a defesa da liberdade no plano da linguagem como a sua defesa num plano mais geral.
Das obras históricas propriamente ditas sobressaem, pela sua extensão e pela influência que tiveram em outros autores,
- “Bella Germaniae”,
- “Historiae a fine Aufidi Bassi”.
Do conteúdo de obras menores como o “De uita Pomponi Secundi” e “De iaculatione equestri” pouco se sabe. Mais problemática é a atribuição, com base na tradição humanista, de um opúsculo, não referido na lista citada, atribuído igualmente ao seu sobrinho e filho adoptivo, o “De uiris illustribus”.
Quanto à “Naturalis Historia”, apresentada com o título de “naturae historiarum XXXVII (libri), convém desde logo precisar o significado do título, uma vez que a sua tradução literal na línguas modernas pode levar a que se perca de vista o verdadeiro alcance do original.
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Em primeiro lugar o termo grego “historia” tem um âmbito maior que a sua equivalente actual, uma vez que ele correspondia ao termo "investigação", sem implicar que esta dissesse respeito a determinados factos do passado. Por outro lado o próprio conceito de “natura” é mais amplo, corresponde mais ao significado de "universo". Teremos, por isso, de considerar preferível uma proposta semelhante à de J. Bayet, “recherche sur le monde”, já que corresponde melhor ao largo âmbito temático da obra.
Estamos pois perante uma "investigação sobre o mundo”, rica e diversificada, como acentuava Plínio-o-Moço, “nec minus uarium quam ipsa natura”, que começa pelos astros, percorre os seres animados e termina de novo nos inanimados, as gemas em concreto, numa construção que levou F. Della corte a defini-la como uma “Ringcomposition” que abre com "as pedras infinitamente grandes" e se conclui com "as infinitamente pequenas".
Antes da sua investigação coloca P. um prefácio em forma epistular, cuja análise tem sido bastante proveitosa para a compreensão de algumas características do seu trabalho. Por ele tomamos conhecimento que a obra é dedicada ao imperador Tito e terá sido concluída certamente em 77. Para além disso o autor com frequência proporciona elementos que permitem definir o carácter do seu trabalho.
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Trata-se de cumprir com ela o duplo objectivo de ” iuuare e placere”, nem sempre fácil de atingir dado que o assunto é “sterilis matéria”, obrigando a que dela esteja ausente a “amoenitas”. Reconhece que a natureza da obra não deixa lugar para o engenho, nem a recursos que confeririam maior leveza e a tornariam mais agradável, quer se tratasse de efeitos retóricos, quer consista na introdução de factos curiosos.
Nestes dois casos, como em outros, não podemos tomar à letra as afirmações do autor, dado ser manifesto que não faltam exemplos que contradigam esta opinião sobre a sua própria obra.
Na função de agradar se enquadram os “mirabilia” e os prodígios, abundantemente representados nesta obra, que, na perspectiva de Gigon, traduzem o desejo do saber pelo saber, um elemento de base da cosmologia grega, cuja tradição P. retoma, elementos que faz alternar com as explicações racionais. Por outro lado, assumindo uma característica típica da sua época e aplicando teorias expostas em obras anteriores, podemos dizer que, não raro, a “Naturalis Historia” apresenta exemplos que permitem contradizer o juízo que de si mesmo pretendeu dar a respeito da preocupação retórica». In Amílcar Guerra. Plínio, O Velho, e a Lusitânia, Arqueologia e História Antiga, Edições Colibri, 1995, ISBN 972-8047-97-5.
Cortesia de Edições Colibri/JDACT