Cortesia de portefoliodigitalmarisalp
Nem o tremendo estrépito da guerra,
com armas, com incêndios espantosos,
que despacham pelouros perigosos,
bastantes a abalar uma alta serra,
podem pôr medo a quem nenhum encerra,
depois qie viu os olhos tão formosos,
por quem o horror nos casos pavorosos
de mim todo se aparta e se desterra.
A vida posso ao fogo e ferro dar,
e perdê-la em qualquer duro perigo,
e nele, como Fénix, renovar.
Não pode mal haver para comigo,
de que eu já não possa bem livrar,
senão do que me ordena Amor imigo.
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Se pena por amar-vos se merece,
quem dela livre está, ou quem isento?
Que alma, que razão, que entendimento
em ver-vos não se rende e obedece?
Que mor glória na vida se oferece
que ocupar-se em vós o pensamento?
Toda a pena cruel, todo o tormento,
em ver-vos, se não sente, mas esquece.
Mas se merece pena quem amando
contino vos está, se vos ofende,
o mundo matareis, que todo é vosso.
Em mim podeis, Senhora, ir começando,
que claro se conhece e bem se entende
amar-vos quanto devo e quanto posso.
Luís de Camões, «in Sonetos»
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