domingo, 23 de outubro de 2011

Barroso da Fonte. Guimarães e as Duas Cabeças: «Desta ligação houve 9 filhos. Mas Nuno era o 11º de 32 que D. Álvaro teve de diversas mulheres. Seu avô chamava-se Gonçalo Gonçalves Pereira e foi arcebispo de Braga. Em 1377, quando tinha apenas 17 anos, Nuno casou com D. Leonor Pereira Alvim»

jdact

D. João I
«D. Leonor foge para Alenquer e, a 23 de Dezembro, D. João é aclamado pelo povo o rei de Portugal. Só que D. João apenas aceitou o título de defensor e regedor do Reino. Constituiu-se então um Conselho formado por Nuno Álvares Pereira, D. João das Regras, D. Lourenço (Arcebispo de Braga), D. João de Azambuja (cardeal) e outros.
Leonor Teles, inconformada, congeminou um novo processo de impedir que seu cunhado subisse ao trono. Por isso transmitiu a seu genro, D. João de Castela (rei de Castela) que entrasse em Portugal com um poderoso exército, de modo a destruir os intentos do Mestre de Avis. Travou-se então a batalha de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385. Os Portugueses, embora em número muito reduzido, conseguiram vencer. Expliquemos melhor:
  • Quando D. João I, rei de Castela, casou com a infanta D. Beatriz, filha de D. Fernando e de D. Leonor de Teles, fizeram um acordo, em 2 de Abril de 1383, em Salvaterra de Magos. Nesse acordo D. Fernando I declarava quê, se por ocasião da sua morte, não houvesse filho varão, seria D. Beatriz (casada com D. João I, rei de Castela) a herdeira do trono, através do filho ou da filha que resultasse do matrimónio entre ambos. Segundo o mesmo acordo, enquanto não houvesse descendência matrimonial, seria D. Leonor a governar Portugal, como regente.

Padrão de S. Lázaro, ou Padrão de Ceuta. Foi dali que D. João I partiu, descalço, até à Igreja da Oliveira
jdact

Só que o povo Português não aceitava essa situação. E por isso aderiu ao movimento em torno de D. João I. É que o povo já sabia que os amores ilícitos com o conde de Andeiro acabariam por entregar Portugal ao rei de Castela.
Viveu-se, por essa altura, um período decisivo. Mas D. João, Nuno Álvares Pereira, João das Regras, o arcebispo de Braga (D. Lourenço) e vários outros, souberam resistir à crise, até que, em 6 de Abril de 1385, as cortes de Coimbra aclamaram D. João I rei de Portugal.
O rei de Castela reagiu mal e novas tentativas de invadir Portugal empreendeu. Só que em todas teve azar, sendo em Aljubarrota que se definiu o rumo de Portugal. Numa espécie de agradecimento à Virgem Nossa Senhora, D. João I mandou construir o Mosteiro da Batalha, cumprindo um voto que fizera nas vésperas da importante batalha. Nuno Álvares Pereira tomara uma decisão do mesmo género:
  • mandou construir o Convento do Carmo, em Lisboa, onde, mais tarde, viria a entrar para aí viver os seus últimos dias.
D. João I está profundamente ligado a Guimarães. Aqui se deslocou, logo a seguir à batalha de Aljubarrota, para agradecer à Senhora da Oliveira, as graças concedidas para que o exército Português derrotasse os castelhanos, em número quatro vezes superior. Sabe-se também que D. João I veio a pé, desde o Padrão de S. Lázaro (ao fundo da Rua de D. João) até à Igreja da Oliveira. E ofereceu a Nossa Senhora um cordão em ouro com o comprimento de uma milha, traduzindo a distância entre os dois históricos Padrões.

jdact

Infelizmente essa e outras jóias foram roubadas e nunca mais foram recuperadas.
Também D. João I mandou reconstruir a Igreja da Oliveira, a ele se ficando a dever o magnífico templo que ainda hoje é, com todo o complexo envolvente e que pertence à Real Colegiada.

D. Nuno Álvares Pereira
Nasceu no castelo de Sernache do Bonjardim, em 24 de Junho de 1360, falecendo em Lisboa, em 1 de Novembro de 1431. Era filho de D. Álvaro Gonçalves Pereira, prior do hospital e de D. Iria Gonçalves do Carvalhal, natural de Évora. Desta ligação houve 9 filhos. Mas Nuno era o 11º de 32 que D. Álvaro teve de diversas mulheres. Seu avô chamava-se Gonçalo Gonçalves Pereira e foi arcebispo de Braga.
Em 1377, quando tinha apenas 17 anos, Nuno casou com D. Leonor Pereira Alvim, viúva de um prestigiado cavaleiro de Riba-Douro: Vasco Gonçalves Barroso. Ela era filha de João Pires Alvim e de D. Branca Pires Coelho.

Deste casamento nasceram dois filhos que faleceram em criança e uma filha chamada Beatriz Pereira Alvim. D. Leonor Pereira Alvim era natural das Terras de Barroso (freguesia de Salto) e, quando casou com Nuno Álvares Pereira, fixaram residência em Pedraça, concelho de Cabeceiras de Basto, ali bem perto de onde tinha vivido com o primeiro marido. Ainda hoje existe em Pedraça, perto do Arco de Baúlhe e a menos de 1 km da Estrada Nacional Guimarães-Chaves, a casa e anexos que pertenceram a esse célebre casal, onde nasceu e cresceu aquela que viria a ser a mulher mais rica de Portugal, cuja fortuna, estaria na origem da Casa de Bragança.

D. João I
jdact

Em 1388 Nuno Álvares Pereira ficou viúvo. E, em 1401, a sua única filha, o maior bem da sua vida, como viria a escrever mais tarde, casou com D. Afonso, filho bastardo de D. João I. Nuno Álvares Pereira que, graças aos feitos militares e à riqueza que herdara de Leonor Alvim, tinha uma enorme fortuna, transmitiu a seu genro o título de 8º conde de Barcelos, bem como parte das Terras e privilégios.
Só que em 1414 iria D. Nuno sofrer o maior desgosto da sua vida. De facto sua filha Beatriz que fixara residência em Chaves falecia de parto. A notícia da morte da filha foi surpreendê-lo quando assistia à construção da igreja que mandara levantar em Estremoz, em honra da Virgem Santíssima, sob o título de Nossa Senhora dos Mártires.
D. Nuno correu oprimido pela dor, a Chaves, assistiu às exéquias e acompanhou o cadáver a Vila do Conde, onde foi depositado no coro baixo da Igreja das Religiosas de Santa Clara. Quando o caixão da filha desceu à sepultura, fechando-se sobre ele a campa, escreve Oliveira Martins:
  • o Condestável sentiu partir-se o último elo que o prendia à vida. Quando a sepultura se encerrou abriu-se-lhe na alma a resolução de ir para o Carmo...
Ficavam ainda 3 netos, seu enlevo e objecto dos seus maiores carinhos até à morte, lê-se na Vida do Beato Nuno Álvares Pereira (1921) do p. Valério A. Cordeiro que acrescenta: Ao mais velho (Afonso) coube o condado de Ourém, depois da renúncia do avô; ao segundo (Fernando) deu o condado de Arraiolos. E à sua querida neta Isabel (que provocara, ao nascer, a morte da mãe e à qual nas cartas que D. Nuno mais tarde lhe escreveu, trata por minha linda), dotou-a com abastadas terras». In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.

Cortesia de Guimarães/JDACT