Cortesia da academiaportuguesadahistoria
Para uma biografia de Vasco Esteves de Gatuz
Em busca de certos Vasco Esteves
A família
«Em 1363 estava casado com Margarida Vicente e do casal não havia descendência. Da família conhecemos, através do testamento, vários outros membros. Vasco Esteves foi irmão de Martim Esteves, falecido antes de 1363 em Estremoz e aqui sepultado no mosteiro de S. Francisco. Martim Esteves tivera, pelo menos, duas filhas: Leonor Martins e outra cujo nome se ignora. Ambas estavam vivas então, sendo a última morado a na vila, próxima, de Borba.
De Vasco Esteves é conhecido na mesma data um terceiro sobrinho, de nome Gil Nunes, que por ele foi criado, e também outro, de nome Rodrigo.
Entre os primos de Vasco Esteves contam-se João Eanes, que em 1363 morava no Ribatejo, Afonso Rodrigues e seu irmão Nuno, vivos na mesma data, além de Manuel Rodrigues, já falecido. Este último teve vários irmãos, que admitimos serem, além dos dois Rodrigues antes apontados, também um Lopo Rodrigues, que foi casado com Leonor Eanes, irmã do João Eanes morador no Ribatejo. Lopo Rodrigues e Leonor Eanes tiveram a Rodrigo e a Diogo, ambos vivos à data do testamento de Vasco Esteves.
Foi ainda parente um tal Gonçalo Lourenço, seu contemporâneo e, provavelmente, morador no termo de Estremoz, mas desconhece-se o parentesco que os unia.
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De seus pais, Vasco Esteves, com surpresa nossa, não referiu os nomes, ainda que os relembre com amor. Pela parte de Margarida Vicente, sua mulher, os parentes que esta identifica cerca de duas décadas mais tarde são uma prima, Mafalda Vicente, mãe de Diogo Nunes e de Gil Nunes, um sobrinho, Rodrigo, talvez o acima já citado, e um filho deste, de nome Álvaro. Margarida Vicente referiu ainda como irmão dela a Brásio Anes, na década de oitenta casado e com filhos, e, na mesma data, as filhas de outro irmão dela, Gonçalo Anes.
Como Vasco Esteves não teve filhos, parte dos sobrinhos gravitou à sua volta. Em casa, nem só Gil Nunes foi criado. Também o foi Rodrigo, ao tempo solteiro e que o tio admitiu quisesse estudar.
Inserção social
O itinerário social de Vasco Esteves é muito pouco conhecido. Já houve quem o dissesse cavaleiro. A afirmação, contudo, não tem real fundamento, para além da iconografia tumular tradicional no século, que lhe empolou o estatuto social. À data do seu testamento era escudeiro, situação que manteve até final da vida.
Sabe-se, no entanto, que foi homem de razoáveis bens materiais, designadamente em numerário e em bens imóveis, e que se inseria na sociedade estremocense bem relacionado, quer com pessoas da sua condição, quer com mesteirais, funcionários locais e membros do clero regular e secular radicados na povoação.
Como muitos dos seus contemporâneos, gostava de caça de montaria e da de altanaria, não faltando entre os seus bens um apreciado falcão.
Disposições testamentárias
Corria o ano do nascimento de Cristo de 1363 quando Vasco Esteves, por temer o fim da sua vida, chamou a casa, em Estremoz, a Vicente Bartolomeu, tabelião del-rei na vila, e lhe declarou «com todo… syso e emtemdymento comprido» as disposições que tinha como suas últimas vontades.
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O testamento revela-nos um português da sua época, antes de mais temente a Deus e com o pensamento posto no dia do Juizo Final. Depois, porque os bens lho permitiam, deseja que lhe soterrem o corpo em instituto religioso e cuida da alma sua e das de seus pais e seu irmão Martim. Dispõe de verbas para que todos os clérigos da vila, sejam ou não de missa, lhe «facão homra» após a morte e sejam ditas missas cantadas por sua alma durante os oito e os trinta dias seguintes ao da sepultura.
Ao homem temente a Deus, preocupado com o destino do seu corpo e a encomendação da sua alma, alia-se em Vasco Esteves um coração generoso.
Dota com esmolas as igrejas de Santa Maria de Estremoz e Santa Maria da Alcáçova de Elvas, bem como o mosteiro de S. Francisco de Estremoz. E resolve distribuir boa parte dos seus restantes bens materiais, beneficiando sobrinhos, primos, dependentes e amigos. Favorece, também, quem o havia acompanhado ou servido. Não esquece os desprotegidos da sorte, os pobres, sobretudo os pobres envergonhados, aos quais manda entregar, aos oito e aos trinta dias após a morte, víveres e peças de valencina, «os panos coseytos». Não esquece ainda os peregrinos, nem as virgens casadoiras de boa linhagem e boa fama.
Em resumo, poderá dizer-se que, na segunda metade do século XIV, precisamente em 1363, a fortuna de Vasco Esteves permitia-lhe dispor de mais de mil libras para esmolas e legados, estes à volta de duas dezenas e de valores compreendidos entre dez e duzentas libras, que o testamento especifica um a um. E permitia-lhe distrair de seus bens, igualmente, metade de certas vinhas, olivais e casas que tinha em Elvas, umas casas de morada, provavelmente em Estremoz ou Sousel, e um chão a par da Albergaria de S. Brás». In Mário Alberto Nunes Costa, Vasco Esteves de Gatuz e o seu Túmulo Trecentista em Estremoz, Academia Portuguesa da Historia, 1993, ISBN 972-624-094-8.
Cortesia da AP da Historia/JDACT