terça-feira, 20 de julho de 2021

Matilda Wright. Aposta Indecente. «É evidente, foi isso mesmo que aconteceu! O velho Duvernois deve ter conhecido a mulher num bordel e casou com ela. Por que outra razão estaria uma moça tão nova casada com um velho?»

jdact

«(…) Nessa noite, Louis jantou em casa com os seus amigos de sempre, Gaston, Pierre, Laurent e Marcel. Estava taciturno e distraído, e durante todo o tempo uma ruga vincava a sua bela testa. Villeneuve, que bicho lhe mordeu? Convida-nos para celebrar os seus novos dois bilhões de francos e está com essa cara... De repente, a fortuna causa-lhe problemas?, brincou Pierre. Marcel, o banqueiro, soltou uma gargalhada: meu caro marquês, diga-nos o que o aflige. Certamente nada que uma experiente conta bancária não possa resolver por você! Os amigos riram e Louis tentou rir com eles. Mas, de facto, alguma coisa o incomodava. Aqueles olhos verdes e desafiadores de Catherine Duvernois que nem por um momento se humedeceram quando a ameaçou com um futuro sombrio num convento para indigentes… Nada de muito grave!, respondeu aos amigos. De facto, tenho de ir ao Vale do Loire por uns dias, o dever me chama. E logo numa altura em que esta neve torna as viagens mais incómodas e gostaria do aconchego quente da cama de Cléa. Esforçou-se por ser natural e voltou a rir. Os rapazes riram com ele. E madame Bousquet?, quis saber Laurent. Oh! A Bousquet! Está insuportável, apaixonada, exige que a visite todas as horas e fala até em largar o marido e fugir comigo para a Inglaterra ou para a Alemanha. Sonha com uma casinha pequena, no campo, onde viveremos os dois, felizes, até sermos velhos. Meu bom Louis, ainda bem que o dever o chama ao Vale do Loire porque, de facto, tem aí um problema. Oh! Se tem! É o que dá se meter com burguesas..., têm a imaginação curta e a cabeça cheia de ideias bucólicas que bebem nos romances da moda. É fugir delas, Villeclaire, é fugir delas..., declarou o príncipe de Montblanc.

E foi ainda rindo das desventuras de Louis Villeclaire com a sua amante burguesa que os rapazes chegaram à casa de Martine. Cléa estava ocupada com um outro cliente e Louis somou mais essa contrariedade ao seu dia e decidiu ficar ali mesmo pelo salão, bebendo champanhe, sem paciência para escolher outra moça. Queria a pequena Cléa, que de noite em noite estava cada vez mais competente na arte do amor e o excitava cada vez mais. Gostava das pernas dela, brancas e duras, um pouco roliças, mas que se enrolavam em volta do seu tronco, puxando-o para si, enquanto lhe guiava o sexo para dentro dela. Cléa era uma mulher permissiva, que gostava de ter prazer e que o procurava. Dois dias antes, ao entrar no seu quarto, Louis tinha-a encontrado na cama com Denise, outra das mulheres que trabalha na casa de Martine, ambas nuas, lambendo o sexo uma da outra e nem sequer se interromperam quando ele se juntou, misturando o seu corpo nos delas e amando as duas. Tinha sido uma tarde inesquecível e repetida no dia seguinte, cada vez com mais prazer. Mas as moças eram assim mesmo, à noite, quando a casa estava cheia, atendiam quem chegava primeiro e as escolhia. A ele, tanto fazia que se deitassem com ele e com mais não sei quantos. Até que chegasse um velho tolo que se embeiçasse por elas e lhes montasse casa. Às vezes, até casavam... Bebeu mais um gole de champanhe e, de repente, foi como se um relâmpago lhe iluminasse o pensamento. É evidente, foi isso mesmo que aconteceu! O velho Duvernois deve ter conhecido a mulher num bordel e casou com ela. Por que outra razão estaria uma moça tão nova casada com um velho?... E aquela frieza no olhar!, disse para si próprio. Não se lembrava de alguma vez tê-la visto em nenhum dos bordéis de luxo que frequentava, mas a verdade é que também nunca tinha encontrado Duvernois em nenhum deles». In Matilda Wright, Aposta Indecente, 2011, Editor Livros d’Hoje, Publicações dom Quixote, 2011, ISBN 978-972-204-776-0.

Cortesia de Ld’Hoje/JDACT

 JDACT, Literatura, Matilda Wright,