Abbaye des Fontaines. Pirinéus Franceses.
Roskilde
«(…) Não, não fui eu. Mas foi por
essa razão que pedi para falar consigo. Tinha um representante a licitar por mim,
porém, tal como lhe deve ter acontecido, fiquei chocado com a oferta final. Precisando
de pensar um pouco, Stephanie deambulou pelo sepulcro real. Quadros gigantescos,
emoldurados por elaborados trompe l'oeil, cobriam as magníficas paredes de
mármore. Cinco caixões decorados, sob um enorme tecto em arco, ocupavam o
centro. O homem apontou para os caixões. Cristiano IV é considerado um dos mais
importantes monarcas da Dinamarca. Tal como Henrique VIII na Inglaterra,
Francisco II em França e Pedro, o Grande, na Rússia, também ele mudou este país.
A ssuas marcas estão por todo o lado. Ela não estava interessada em lições de
história. O que deseja de mim? Deixe-me mostrar-lhe uma coisa. O homem caminhou
até ao gradeamento na entrada da capela e ela seguiu-o. Conta a lenda que foi o
próprio diabo quem desenhou este entrançado. O trabalho é de uma perfeição extraordinária.
Inclui os monogramas do rei e da rainha e uma variedade imensa de criaturas fabulosas.
No entanto, repare no fundo. Stephanie fez o que ele lhe pediu e viu uma frase
gravada no metal trabalhado. Diz, Gaspar
Fincke bin ich genannt, dieser Arbeit binn ich bekannt. O meu
nome é Gaspar Fincke e devo a minha fama a este trabalho, traduziu o homem.
Ela fitou-o.
E então?
No
topo da Torre Redonda, em Copenhaga, em torno do rebordo existe outro
gradeamento. Também foi Fincke quem o desenhou. Fê-lo baixo para que se
pudessem ver os telhados da cidade, mas também facilita os saltos. Stephanie
entendeu a mensagem. O homem que saltou hoje lá de cima trabalhava para si? Ele
assentiu. Morreu porquê? Os soldados de Cristo travam as batalhas do seu Senhor
em segurança, sem temor do pecado ao matar o inimigo, nem temendo o perigo da
própria morte. Ele suicidou-se. Causar a morte, ou morrer em nome de Cristo,
nada tem de criminoso, sendo antes merecedor de gloriosa recompensa. Não é
capaz sequer de responder a uma pergunta. O homem sorriu. Estava apenas a citar
um grande teólogo, que escreveu estas palavras há oitocentos anos. Trata-se de
São Bernardo de Claraval. Quem é o senhor? Pode chamar-me Bernardo. O que
deseja? Duas coisas. Uma delas é o livro que ambos perdemos no leilão. Todavia,
reconheço que esse não me pode dar. A segunda é algo que está em seu poder e
que lhe foi enviado há um mês. A expressão de Stephanie manteve-se inalterada.
A quele era de facto um homem que estava a par dos seus assuntos. E que coisa é
essa? Ah! Um teste. Uma forma de avaliar a minha credibilidade. Muito bem. O
pacote que recebeu continha um diário que pertenceu ao seu marido, um caderno
de apontamentos que ele guardou até ao dia da sua morte. Passei no teste? Ela
não respondeu. Quero esse diário. E o que o torna assim tão importante. Não
eram poucas as pessoas que achavam o seu marido um excêntrico, um homem muito
estranho. A comunidade académica fazia pouco dele, assim como a imprensa. Para
mim ele era um homem brilhante, capaz de ver coisas que passavam despercebidas
à maioria das pessoas. Veja só o que ele conseguiu. Deu origem a todo o actual
fascínio por Rennes-le-Château. O seu livro foi o primeiro a alertar o mundo
para os mistérios locais. Vendeu cinco milhões de cópias em todo o mundo, o que
é um grande feito. O meu marido vendeu muitos livros. Catorze, se não estou
enganado, mas nenhum tinha a magnitude do primeiro, O Tesouro de Rennes-le-Château.
Graças a ele, existem agora centenas de volumes publicados sobre o assunto. E o
que o leva a pensar que tenho o diário do meu marido? Ambos sabemos que neste
momento ele seria meu, não fosse pela interferência de um homem chamado Cotton
Malone. Creio que em tempos trabalhou para si. A fazer o quê?» In Steve Berry, O Legado
dos Templários, 2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN 978-972-203-808-9.
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