Roskilde
«(…) Stephanie ouviu Malone
chamá-la. Ainda bem que ele era incapaz de não se meter nos assuntos alheios.
Continuava no interior da Capela dos Reis Magos, escondida atrás de um túmulo
de mármore negro. Escutou tiros e compreendeu que Malone estava a fazer o que
podia, tendo em conta que se encontrava em inferioridade numérica. Queria
ajudá-lo, mas não estava armada. O máximo que podia fazer era dizer-lhe que
estava bem. Todavia, antes de conseguir responder, avistou Bernardo através de
outro gradeamento, de arma em punho. Quando o homem entrou na capela, o medo
bloqueou-lhe todos os músculos do corpo. Malone circundou o coro. As pessoas
continuavam a fugir da igreja, em pânico e aos gritos. Por certo alguém já
teria chamado a Polícia. Só precisava de controlar os seus atacantes até a
ajuda chegar. Saltou a cerca do claustro e viu um dos homens que alvejara
ajudar outro e ambos saírem pela porta das traseiras. Aquele que começara o
ataque não estava à vista e isso preocupava-o.Abrandou o passo e elevou a arma.
Stephanie encolheu-se de medo. Bernardo
estava a cinco metros do seu esconderijo. Eu sei que está aqui, disse ele num
tom rouco e profundo. O seu salvador chegou e, por isso, não vou ter tempo de tratar
de si. Já sabe o que eu quero. Voltaremos a ver-nos. Era uma ideia que a arrepiava.
O seu marido também não soube colaborar quando a mesma oferta lhe foi feita há
onze anos. Sentiu-se provocada por aquelas palavras. Sabia que o melhor era manter-se
em silêncio, mas não conseguiu. O que sabe sobre o meu marido? O suficiente. Mas
deixemos esse assunto por agora. E ouviu-o afastar-se. Malone viu o homem do
casaco de cabedal abandonar uma das capelas laterais. Pare!, gritou. O outro virou-se
e apontou a arma. Malone mergulhou em direcção a uns degraus que levavam a
outra sala. Três balas lascaram a pedra por cima da sua cabeça. Levantou-se de
um salto, preparado para disparar, mas o homem estava a trinta metros de distância,
e corria em direcção ao pórtico traseiro.
Stephanie,
chamou. Estou aqui, Cotton. Viu a sua antiga chefe emergir da capela. O rosto
calmo exibia uma expressão fria. Lá fora começavam a ouvir-se sirenes. É melhor
sairmos daqui, disse Malone. Vão chover perguntas e tenho a sensação que não
vai querer responder a nenhuma delas. Acertou, disse ela. Ia sugerir que
usassem uma das outras saídas quando as portas principais se escancararam e a Polícia
invadiu o interior da igreja. Ele ainda segurava a arma, que não passou
despercebida. Os polícias assumiram posições de defesa e apontaram armas. Ele e
Stephanie detiveram-se. Hen til den
landskab. Nu, foi a ordem gritada. Para o chão. Já. O que
disseram eles?, perguntou Stephanie. Que estamos metidos num grande sarilho». In Steve Berry, O
Legado dos Templários, 2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN
978-972-203-808-9.