O Tempo Sujo
«(…)
Há dias que eu odeio
Como insultos a que
não posso responder
Sem o perigo duma
cruel intimidade
Com a mão que lança
o pus
Que trabalha ao serviço da infecção
São dias que nunca
deviam ter saído
Do mau tempo fixo
Que nos desafia da
parede
Dias que nos
insultam que nos lançam
As pedras do medo
os vidros da mentira
As pequenas moedas da humilh
Dias ou janelas
sobre o charco
Que se espelha no
céu
Dias do dia-a-dia
Comboios que trazem
o sono a resmungar para o trabalho
O sono centenário
Mal vestido mal
alimentado
Para o trabalho
A martelada na
cabeça
A pequena morte
maliciosa
Que na espiral das
sirenes
Se esconde e assobia
Dias que passei no
esgoto dos sonhos
Onde o sórdido dá
as mãos ao sublime
Onde vi o
necessário onde aprendi
Que só entre os
homens e por eles
Vale a pena sonhar».
Poema de Alexandre O’Neill, in No Reino
da Dinamarca
ISBN 978-972-37-1947-5
JDACT, Alexandre O’Neill, Poesia, Cultura,