«(…) Um laboratório secreto dentro de um museu secreto, pensou ela, inserindo o cartão de acesso na porta do Galpão 5. O teclado se acendeu e Katherine digitou a sua senha. A porta de aço se abriu com um silvo. O conhecido gemido oco foi acompanhado pela mesma rajada de ar frio. Como sempre, Katherine sentiu a sua pulsação se acelerar. O trajecto mais estranho do mundo para chegar ao trabalho. Tomando coragem para a travessia, Katherine Solomon olhou de relance para o relógio de pulso ao pisar no vazio. Naquela noite, porém, não conseguiu livrar-se das preocupações ao entrar no galpão. Onde está Peter?
Fazia mais
de uma década que Trent Anderson, chefe de polícia do Capitólio, supervisionava
a segurança daquele complexo. Era um homem musculoso e de ombros largos, com
traços finos e cabelo ruivo cortado à escovinha, o que lhe dava um ar de
autoridade militar. Deixava sua arma bem visível como aviso a qualquer um que
caísse na besteira de questionar seu poder. Anderson passava a maior parte do
tempo coordenando o seu pequeno exército de agentes a partir de um centro de
segurança de alta tecnologia situado no subsolo do Capitólio. Dali, comandava
uma equipe de técnicos encarregados de examinar monitores e dados de
computador, além disso controlava uma mesa telefónica que o mantinha em contacto
com os funcionários da segurança.
Aquela
noite tinha sido estranhamente tranquila, e Anderson estava satisfeito. Tinha
esperanças de conseguir ver um pouco do jogo dos Redskins na TV de tela plana
da sua sala. A partida havia acabado de começar quando o seu interfone tocou. Chefe?
Anderson
resmungou e manteve os olhos grudados na televisão enquanto atendia o
interfone. O que foi? Houve algum problema na Rotunda. Os agentes estão
chegando lá agora, mas acho que o senhor vai querer dar uma olhada. Certo. Anderson
entrou no centro nervoso do sistema de segurança: uma instalação compacta,
neomoderna, cheia de monitores de computador. O que tem aí? O técnico estava
ajustando uma imagem de vídeo digital no seu monitor. Câmera da galeria leste
da Rotunda. Vinte segundos atrás. Ele accionou o vídeo. Anderson ficou olhando
por cima do ombro do técnico. A Rotunda estava quase deserta naquele dia,
ocupada apenas por uns poucos turistas. O olho treinado de Anderson foi atraído
imediatamente para a única pessoa sozinha que se movia mais depressa do que as
outras. Cabeça raspada. Casaco militar verde. Braço ferido numa tipóia. Um
pouco manco. Postura curva. Falando no celular. Os passos do homem careca
ecoaram de forma distinta no áudio até que, de repente, ao chegar bem no meio
da Rotunda, ele parou, encerrou o telefonema e ajoelhou como quem vai amarrar o
atacador do sapato. No entanto, em vez de fazer isso, o careca tirou alguma
coisa da tipóia e a pôs no chão. Depois se levantou e seguiu mancando depressa
em direcção à saída leste.
Anderson
ficou olhando para o estranho objecto que o homem havia deixado para trás. Que
negócio é esse? O objecto tinha uns 20 centímetros de altura e estava
posicionado na vertical. Anderson se aproximou do monitor e apertou os olhos.
Não pode ser o que parece! Enquanto o careca se afastava apressado,
desaparecendo pelo pórtico leste, um menininho ali perto disse: Mãe, aquele
homem deixou cair alguma coisa. O garoto foi ver o que era, mas de repente
estacou. Após um longo instante de imobilidade, apontou para o objecto e soltou
um grito ensurdecedor.
Na
mesma hora, o chefe de polícia girou o corpo e saiu correndo em direcção à porta, berrando ordens pelo caminho. Mandem um rádio
para todos os postos! Encontrem o careca da tipóia e prendam-no! Agora! Correndo para
fora do centro de segurança, ele subiu de três em três os degraus da escadaria
gasta. O vídeo de segurança havia mostrado o careca da tipóia deixando a
Rotunda pelo pórtico leste. O caminho mais curto para sair do prédio, portanto,
o faria passar pelo corredor leste-oeste, que ficava logo à frente. Eu posso interceptá-lo. Depois de chegar
ao topo da escada e fazer a curva, Anderson vasculhou o corredor silencioso à
sua frente. Na outra ponta, um casal de idosos caminhava devagar, de mãos
dadas. Perto deles, um turista louro de blazer azul lia um guia e estudava os
mosaicos do tecto em frente à
Câmara dos Representantes». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009,
Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
JDACT, Washington DC, Dan Brown, Literatura, Maçonaria,