quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Dan Brown. O Símbolo Perdido. «Agora, ao chegar diante da mesma porta de aço, Katherine percebeu o enorme caminho que havia percorrido desde aquela primeira noite»

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«(…) Katherine não conseguia imaginar o que um gigantesco galpão vazio poderia proporcionar no sentido de auxiliar a sua pesquisa, mas tinha a sensação de que estava prestes a descobrir. Eles haviam acabado de chegar a uma porta de aço com letras grossas gravadas: ARMAZÉM 5

Seu irmão inseriu o cartão de acesso e um teclado eletrónico acendeu-se. Ele ergueu o dedo para digitar o código de segurança, mas se deteve, arqueando as sobrancelhas com o mesmo ar travesso de quando era menino. Tem a certeza de que está pronta? Ela aquiesceu. Meu irmão, sempre perfeito no comando do espectáculo. Para trás. Peter apertou as teclas. A porta de aço se abriu com um silvo alto. Além da soleira havia apenas um breu total..., um imenso vazio. Um gemido oco parecia ressoar das profundezas. Katherine sentiu uma corrente de ar frio emanar lá de dentro. Era como olhar para o Grand Canyon à noite. Imagine um hangar vazio esperando uma frota de Airbus, disse-lhe o irmão, e vai ter uma ideia geral. Katherine deu um passo para trás.

O armazém em si é grande demais para ser aquecido, mas o seu laboratório é uma sala de concreto, mais ou menos no formato de um cubo, com isolamento térmico. Ela está situada bem lá no fundo do armazém, para ficar o mais afastada possível. Katherine tentou visualizar aquilo. Uma caixa dentro de uma caixa. Esforçou-se para enxergar na escuridão, mas esta era impenetrável. A que distância ela está? A uma boa distância..., um campo de futebol caberia facilmente aqui dentro. Mas devo avisar que o trajecto é um pouco perturbador. É excepcionalmente escuro. Katherine espiou pela quina, hesitante. Não tem interruptor? O armazém 5 não tem eléctricidade. Mas..., então como é que um laboratório pode funcionar aí dentro? Ele deu uma piscadela. Gerador de hidrogénio. O queixo de Katherine caiu. Está de brincadeira, não é? Energia limpa suficiente para abastecer uma cidade pequena. O seu laboratório está totalmente isolado das ondas de rádio emitidas pelo restante complexo. Além disso, toda a parte externa do armazém é revestida de membranas foto-resistentes de modo a proteger da radiação solar os artefactos no seu interior. Basicamente, este armazém é um ambiente isolado e neutro do ponto de vista energético. Katherine estava começando a entender o atractivo do Armazém 5. Como grande parte do seu trabalho consistia em quantificar campos energéticos anteriormente desconhecidos, suas experiências precisavam ser feitas num local isolado de qualquer radiação externa ou ruído branco. Isso incluía interferências tão subtis quanto radiações cerebrais ou emissões de pensamento geradas por pessoas próximas. Por esse motivo, um laboratório situado num campus universitário ou num hospital não daria certo, mas um armazém deserto no CAMS não poderia ser mais perfeito.

Vamos até lá dar uma olhada. Peter estava sorrindo ao adentrar a vasta escuridão. É só seguir-me. Katherine ficou parada na soleira da porta. Mais de 100 metros na escuridão total? Quis sugerir uma lanterna, mas seu irmão já havia desaparecido no abismo. Peter?, chamou. Dê o salto da fé, disse ele lá da frente, com a voz já começando a sumir. Vai encontrar o caminho. Confie em mim. Está de brincadeira, não é? O coração de Katherine batia disparado enquanto ela avançava poucos metros além da soleira, tentando ver alguma coisa no escuro. Não enxergo nada! De repente, a porta de aço sibilou, fechando-se atrás dela com um baque e fazendo-a mergulhar nas trevas. Não havia uma só centelha de luz em lugar nenhum. Peter? Silêncio. Vai encontrar o caminho. Confie em mim. Hesitante, ela foi avançando vagarosamente, às cegas. Salto da fé? Katherine não conseguia sequer enxergar a própria mão diante do rosto. Continuou seguindo em frente, mas em poucos segundos ficou totalmente perdida. Para onde estou indo? Isso fazia três anos.

Agora, ao chegar diante da mesma porta de aço, Katherine percebeu o enorme caminho que havia percorrido desde aquela primeira noite. Seu laboratório, apelidado de Cubo - havia se tornado seu lar, um santuário nos recônditos do armazém 5. Exactamente como Peter previra, ela havia encontrado o seu caminho no meio da escuridão naquela noite, e em todos os outros dias desde então, graças a um sistema de direccionamento engenhosamente simples que seu irmão lhe permitira descobrir sozinha. Muito mais importante, a outra previsão de Peter também se havia realizado: as experiências de Katherine tinham produzido resultados impressionantes, sobretudo nos últimos seis meses, avanços que iriam alterar paradigmas inteiros de pensamento. Katherine e o irmão haviam concordado em guardar segredo total quanto aos resultados até suas implicações ficarem mais claras. Mas ela sabia que um dia, em breve, divulgaria algumas das revelações científicas mais transformadoras da história humana». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

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