segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Alexandre O’Neill. Poesia. «Uma praia elegante um estendal de belos corpos indolentes e as últimas mentiras dum jornal a propósito de factos recentes»

 

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Inventário

«Uma palavra que se tornou perigosa

Um marinheiro dum país amigo

Uma pobre mulher tuberculosa

E a mulher orgulhosa que persigo

A velhinha que passa de buíque

Um incêndio prestes a romper

E as ruas as ruas onde vi

O que ainda não sei ver

Uma praia elegante um estendal

De belos corpos indolentes

E as últimas mentiras dum jornal

A propósito de factos recentes

Um senhor absolutamente sério

Um doutor que esteve por um triz

P’ra fazer parte dum novo ministério

E um velho muito velho que nos diz

Avesso à multidão aos seus gritos de louca

Tenho contudo um grande amor ao Homem

Mas cuidado Uma ideia não vive sem o pão da boca

Por aquilo que não sou não quero que me tomem

Outro senhor absolutamente honesto

Ainda a velhinha do buíque

E o velho muito velho diz o resto

Diz o resto e é para que fique

Meu lema é conhecido minha voz muito menos

Mas o que digo chega ao vosso coração

Por caminhos discretos preciosos serenos

Como um selo raro a uma colecção

(E num silêncio que toda a gente ouvia

Só a mosca deu sinal de si

Dizendo com graça e ironia

Ó Cesário Verde como eu queria

Que estivesses aqui!)»

Poema de Alexandre O’Neill, in No Reino da Dinamarca

ISBN 978-972-37-1947-5

Cortesia de Assírio & Alvim/JDACT

JDACT, Alexandre O’Neill, Poesia, Cultura,