terça-feira, 23 de novembro de 2010

António Ferreira: Considerado um dos maiores poetas do classicismo renascentista de língua portuguesa, conhecido como «o Horácio português»

(1528-1569)
Lisboa
Cortesia de mozelosaveiro 

Além de desembargador, cultivou a poesia, sendo o discípulo mais famoso de Sá de Miranda. Os seus poemas foram publicados em 1598, sob o título de Poemas Lusitanos. Escreveu as comédias Bristo e Cioso, publicadas em 1622, e a tragédia Castro, publicada em 1587.

Livro I dos Sonetos
7
Lágrimas costumadas a correr-me,
quem vos pode deter? Saí correndo
doces, e tristes; vão-vos todos vendo,
uns riam, outros chorem de tal ver-me.

Onde poderei eu de mim esconder-me?
Se quanto mais resisto, e me defendo,
então me venço mais, e vai crescendo
a força, como posso defender-me?

Quem meus olhos olhar, rindo, ou chorando,
sentirá neles logo um movimento
d'algum esprírito que os lá rege, e manda.

Este chorar me faz, este cantando
me leva após meu mal, sem um momento
esta alma livre ter do estado em que manda.

Cortesia de toneldiogenes 
10 
Parecerá, senhora, em outra idade
milagre grande o que hoje todos vemos.
Quem haverá que creia tais extremos
d'amor, de fermosura, e crueldade?

Alguns dirão: - Se não fora verdade,
quem podera inventar isto que lemos?
E se tal foi, já agora não teremos
pagar-se bom amor mal, por novidade.

Cada um dará juízo sobre mim.
Todos condenarão vossa aspereza
chorando minhas mágoas, quando as lerem.

Mas esta glória só terei enfim,
que juntos nos lerão, e os que as crerem
dirão: - Igual ao amor foi a dureza.

HALP, 2001
JDACT