Cortesia de foriente
Introdução à leitura da Década Quarta de Diogo do Couto.
«Em fins de 1589, escreveu pessoalmente a Filipe II. Dizia ter quase pronta uma «Crónica geral da Índia», a partir do marco referido. E requeria que se criasse urgentemente um arquivo em Goa, onde se conservassem e organizassem todos os documentos relativos à história oriental dos Portugueses. Dessa futura Torre do Tombo, candidatava-se ele mesmo a guarda-mor.
Sabe-se como Diogo do Couto teve de escrever segunda vez (senão terceira ou quarta) muitos dos seus livros. Também teve de reescrever esta carta, que ficou sem efeito. Em fins de 1593 repetiu o seu duplo pedido. Em sucessivas instruções, datadas quase todas de 1595, Filipe II defere as pretensões do ex-soldado. Manda que o vice-rei entregue ao cronista todos os papéis de que este precise;
- «que se faça uma casa» em Goa, «que sirva de Torre do Tombo»; e que o recém-nomeado cronista e guarda-mor tenha por ano trezentos pardaus de ordenado.
Cortesia de foriente
Em carta ao próprio Couto que viria a figurar como peça liminar da «Década 5», “encomenda”, que ele lhe envie o troço da crónica do seu tempo, que dizia ter concluído. Mas quer mais do que esse. Não devia consentir-se solução de continuidade na história. Couto devia preencher a lacuna, fazendo partir a obra, de que ficava encarregado, da data a que chegava a última Década de Barros.
Encartado cronista, o soldado não perdeu tempo. Planeou imediatamente, em décadas, a fim de continuar pelo cânone precedente, uma periodização da história, a partir do marco atingido por Barros, até à baliza inicial da sua crónica moderna. E encetou a redacção da primeira das seis, com as quais ficaria preenchida a lacuna. A última (impressa) de Barros era a terceira. A primeira de Couto, a mais «antiga», seria a quarta. Na sequência, caberia à que havia de começar em fanfarra pela proclamação do Filipe, o número dez. Para dar a conta certa, e começar e terminar cada uma com factos marcantes (início e termo de governos em Goa), havia que encolher nalguns casos o lapso de tempo abrangido.
Cortesia de foriente
O vice-rei, Matias de Albuquerque, não terá ficado tão feliz como Diogo do Couto com as reais decisões. As coisas da Ásia, do governo da Ásia, discutiam-se em papéis, as instruções da coroa vinham em papéis, que era impossível facultar a quem quer que fosse. Curiosamente, em maré de deferimento, o Prudente não tivera em conta o segredo de Estado.
Matias mandou começar os aposentos para o arquivo, facultou papéis a Diogo do Couto, mas com conta e medida, não se desviando de urna política de reserva, partilhada pelos vereadores da cidade. E explicou ao rei os fundamentos desta atitude, que contrariou o cronista, e da qual este se queixaria.
A «Década 4», correspondente ao período que vai de 1526, termo da terceira de Barros, a 1535, foi escrita de fins de 1595 a certa altura de 1596. A «Década 5», correspondente ao período que vai de 1536 a 1545, foi escrita em 1596 e 1597. A «Década 6», correspondente ao período que vai de 1545 a 1554, foi começada em 1597. Estas três Décadas constituem o fruto do labor inicial, com que Diogo do Couto correspondeu aos despachos favoráveis do rei espanhol». In Diogo do Couto, Década Quarta da Ásia, volume I, coordenação de M. Augusta Lima Cruz, Fundação Oriente, 1999, ISBN 972-27-0876-7.
Cortesia da Fundação Oriente/JDACT