quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A Espia da Rainha. Philippa Gregory. «De repente, aquilo excedeu-a e recuou, mas ele conhecia o ritmo desta dança que ela tão levianamente conjurara e que, agora, latejava nas suas próprias veias»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

«No Inverno de 1553, a jovem Hannah, uma judia de 14 anos, e o pai fogem para Londres perseguidos pela Inquisição (maldita) Espanhola. Fixam-se nesta cidade e abrem uma livraria onde Hannah conhece o lord Robert Dudley, um aristocrata influente. Dudley apercebe-se de que Hannah tem o dom de ver o futuro e leva-a para a corte para ser o bobo e espiar as irmãs, rivais e pretendentes ao trono, Mary Tudor e Elizabeth. Contratada como bobo, mas a trabalhar como espia, prometida em casamento a um judeu, mas apaixonada por lord Robert Dudley, ameaçada pelas leis contra a heresia, traição e feitiçaria, Hannah tem que escolher entre a vida segura e tranquila de uma pessoa comum, ou a vida no centro das perigosas intrigas da família real». In Sinopse

Verão de 1548

Aos risos e muito excitada, a rapariga corria no jardim banhado de sol, fugindo do padrasto, mas não com rapidez suficiente para que ele não pudesse apanhá-la. A madrasta, sentada debaixo de uma latada com rosas em botão à volta, avistou a rapariga de catorze anos e o belo homem que corria atrás dela por entre os largos troncos no relvado plano e sorriu, decidida a ver apenas o que havia de melhor neles: a rapariga que educava e o homem que há anos adorava. Ele agarrou a rapariga pela bainha do vestido esvoaçante e apertou-a por um momento contra o peito. Mereço uma prenda!, disse ele, o rosto moreno perto das faces afogueadas dela. Ambos sabiam qual seria a prenda. Como mercúrio, ela esgueirou-se do seu abraço e afastou-se para o outro lado de uma fonte ornamental com um largo tanque circular. Carpas anafadas nadavam lentamente na água. Ao debruçar-se para zombar dele, o rosto corado de Elizabeth reflectiu-se na superfície. Não conseguireis apanhar-me! Claro que consigo. Ela inclinou-se de modo que ele pudesse ver os seus pequenos seios pelo decote quadrado do vestido verde. Sentiu os olhos dele pousados nela e o rubor das suas faces aumentou. Ele observou-a, divertido e excitado, enquanto o pescoço dela avermelhava.

Apanhar-vos-ei sempre que quiser, disse, pensando na caça ao sexo que termina na cama. Então tentai!, disse ela, sem saber ao certo para o que o estava a convidar, mas sabendo que queria ouvir os pés dele correr atrás dela sobre a relva, as mãos esticadas para a agarrar; e, mais do que tudo, a sensação dos seus braços à volta dela, puxando-a contra os fascinantes contornos do seu corpo, o arranhar do gibão bordado contra a sua face, a pressão da coxa contra as suas pernas. Soltou um gritinho e voltou a fugir por uma ala de teixos, onde o jardim de Chelsea se estendia até ao rio. A rainha, sorrindo, ergueu os olhos do trabalho de costura e viu a sua querida enteada correr por entre as árvores e o seu belo marido a poucos passos atrás. Voltou a baixar os olhos e não o viu apanhar Elizabeth, rodopiá-la no ar, voltar a pousá-la junto do tronco vermelho do teixo e tapar-lhe a boca meio aberta com a mão.

Os olhos de Elizabeth faiscaram negros de excitação, mas não se debateu. Quando ele se certificou de que ela não gritaria, afastou a mão e aproximou a cabeça de cabelo preto. Elizabeth sentiu os bigodes afagarem-lhe docemente os lábios e o perfume estonteante do seu cabelo e da sua pele. Fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás para oferecer os lábios, o pescoço e os seios à sua boca. Ao sentir os dentes afiados do homem aflorarem a sua pele, deixou de ser a menina brincalhona e tornou-se uma jovem no cio do seu primeiro desejo. Ele afrouxou aos poucos a pressão na sua cintura e a mão subiu com firmeza pelo corpete acima até ao decote do vestido por onde enfiou os dedos para lhe tocar nos seios. Os mamilos endureceram, excitados, e ela soltou um miado de prazer que o fez rir, um riso rouco saído do fundo da garganta perante a previsibilidade do desejo feminino. Elizabeth encostou-se toda contra o seu corpo, sentindo, em resposta, a coxa dele introduzir-se entre as suas pernas. Foi invadida por uma curiosidade irresistível e ansiou saber o que aconteceria a seguir. Quando ele se afastou, como para a largar, ela enlaçou-o e puxou-o novamente contra ela. Sentiu, mais do que viu, o sorriso prazenteiro de Tom Seymour diante da culpabilidade dela quando os seus lábios voltaram a encontrar-se e a língua dele lhe lambeu, com a delicadeza de um gato, o interior da boca. Dividida entre o nojo e o desejo daquela sensação extraordinária, esticou a língua ao encontro da dele e sentiu a terrível intimidade do beijo indiscreto de um homem adulto.

De repente, aquilo excedeu-a e recuou, mas ele conhecia o ritmo desta dança que ela tão levianamente conjurara e que, agora, latejava nas suas próprias veias. Apanhou-lhe a bainha da saia de brocado e arregaçou-a até poder deslizar a mão hábil, por debaixo da roupa interior, pelas suas coxas acima. Instintivamente, ela fechou as pernas e ele roçou, com calculada gentileza, as costas da mão pelo seu sexo escondido. Ao excitante contacto dos nós dos dedos, Elizabeth desfaleceu e ele sentiu-a quase dissolver-se entre os seus braços. Teria caído se ele não a tivesse firmemente enlaçada pela cintura e, naquele momento, Tom Seymour deu-se conta de que podia ter possuído a filha do rei, a princesa Elizabeth, contra uma árvore no jardim da rainha. A rapariga era virgem apenas de nome. Na verdade, pouco mais era do que uma pu…» In Philippa Gregory, A Espia da Rainha, 2003, 2005, Livraria Civilização Editora, 2005, ISBN 978-972-262-360-5.

Cortesia de LCivilizaçãoE/JDACT

JDACT, Philippa Gregory, Literatura, Século XVI,