«No Inverno de 1553, a jovem Hannah, uma judia de 14 anos, e o pai fogem para Londres perseguidos pela Inquisição (maldita) Espanhola. Fixam-se nesta cidade e abrem uma livraria onde Hannah conhece o lord Robert Dudley, um aristocrata influente. Dudley apercebe-se de que Hannah tem o dom de ver o futuro e leva-a para a corte para ser o bobo e espiar as irmãs, rivais e pretendentes ao trono, Mary Tudor e Elizabeth. Contratada como bobo, mas a trabalhar como espia, prometida em casamento a um judeu, mas apaixonada por lord Robert Dudley, ameaçada pelas leis contra a heresia, traição e feitiçaria, Hannah tem que escolher entre a vida segura e tranquila de uma pessoa comum, ou a vida no centro das perigosas intrigas da família real». In Sinopse
Verão de 1548
Aos risos e muito excitada, a
rapariga corria no jardim banhado de sol, fugindo do padrasto, mas não com
rapidez suficiente para que ele não pudesse apanhá-la. A madrasta, sentada
debaixo de uma latada com rosas em botão à volta, avistou a rapariga de catorze
anos e o belo homem que corria atrás dela por entre os largos troncos no relvado
plano e sorriu, decidida a ver apenas o que havia de melhor neles: a rapariga
que educava e o homem que há anos adorava. Ele agarrou a rapariga pela bainha
do vestido esvoaçante e apertou-a por um momento contra o peito. Mereço uma
prenda!, disse ele, o rosto moreno perto das faces afogueadas dela. Ambos
sabiam qual seria a prenda. Como mercúrio, ela esgueirou-se do seu abraço e
afastou-se para o outro lado de uma fonte ornamental com um largo tanque
circular. Carpas anafadas nadavam lentamente na água. Ao debruçar-se para zombar
dele, o rosto corado de Elizabeth reflectiu-se na superfície. Não conseguireis
apanhar-me! Claro que consigo. Ela inclinou-se de modo que ele pudesse ver os
seus pequenos seios pelo decote quadrado do vestido verde. Sentiu os olhos dele
pousados nela e o rubor das suas faces aumentou. Ele observou-a, divertido e
excitado, enquanto o pescoço dela avermelhava.
Apanhar-vos-ei sempre que quiser,
disse, pensando na caça ao sexo que termina na cama. Então tentai!, disse ela,
sem saber ao certo para o que o estava a convidar, mas sabendo que queria ouvir
os pés dele correr atrás dela sobre a relva, as mãos esticadas para a agarrar;
e, mais do que tudo, a sensação dos seus braços à volta dela, puxando-a contra
os fascinantes contornos do seu corpo, o arranhar do gibão bordado contra a sua
face, a pressão da coxa contra as suas pernas. Soltou um gritinho e voltou a
fugir por uma ala de teixos, onde o jardim de Chelsea se estendia até ao rio. A
rainha, sorrindo, ergueu os olhos do trabalho de costura e viu a sua querida enteada
correr por entre as árvores e o seu belo marido a poucos passos atrás. Voltou a
baixar os olhos e não o viu apanhar Elizabeth, rodopiá-la no ar, voltar a
pousá-la junto do tronco vermelho do teixo e tapar-lhe a boca meio aberta com a
mão.
Os olhos de Elizabeth faiscaram
negros de excitação, mas não se debateu. Quando ele se certificou de que ela
não gritaria, afastou a mão e aproximou a cabeça de cabelo preto. Elizabeth sentiu
os bigodes afagarem-lhe docemente os lábios e o perfume estonteante do seu
cabelo e da sua pele. Fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás para
oferecer os lábios, o pescoço e os seios à sua boca. Ao sentir os dentes afiados
do homem aflorarem a sua pele, deixou de ser a menina brincalhona e tornou-se
uma jovem no cio do seu primeiro desejo. Ele afrouxou aos poucos a pressão na
sua cintura e a mão subiu com firmeza pelo corpete acima até ao decote do
vestido por onde enfiou os dedos para lhe tocar nos seios. Os mamilos endureceram,
excitados, e ela soltou um miado de prazer que o fez rir, um riso rouco saído
do fundo da garganta perante a previsibilidade do desejo feminino. Elizabeth
encostou-se toda contra o seu corpo, sentindo, em resposta, a coxa dele
introduzir-se entre as suas pernas. Foi invadida por uma curiosidade
irresistível e ansiou saber o que aconteceria a seguir. Quando ele se afastou,
como para a largar, ela enlaçou-o e puxou-o novamente contra ela. Sentiu, mais
do que viu, o sorriso prazenteiro de Tom Seymour diante da culpabilidade dela
quando os seus lábios voltaram a encontrar-se e a língua dele lhe lambeu, com a
delicadeza de um gato, o interior da boca. Dividida entre o nojo e o desejo
daquela sensação extraordinária, esticou a língua ao encontro da dele e sentiu a
terrível intimidade do beijo indiscreto de um homem adulto.
De repente, aquilo excedeu-a e
recuou, mas ele conhecia o ritmo desta dança que ela tão levianamente conjurara
e que, agora, latejava nas suas próprias veias. Apanhou-lhe a bainha da saia de
brocado e arregaçou-a até poder deslizar a mão hábil, por debaixo da roupa
interior, pelas suas coxas acima. Instintivamente, ela fechou as pernas e ele
roçou, com calculada gentileza, as costas da mão pelo seu sexo escondido. Ao
excitante contacto dos nós dos dedos, Elizabeth desfaleceu e ele sentiu-a quase
dissolver-se entre os seus braços. Teria caído se ele não a tivesse firmemente
enlaçada pela cintura e, naquele momento, Tom Seymour deu-se conta de que podia
ter possuído a filha do rei, a princesa Elizabeth, contra uma árvore no jardim
da rainha. A rapariga era virgem apenas de nome. Na verdade, pouco mais era do
que uma pu…» In Philippa Gregory, A Espia da Rainha, 2003, 2005, Livraria Civilização
Editora, 2005, ISBN 978-972-262-360-5.
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JDACT, Philippa Gregory, Literatura, Século XVI,