Madrid
«(…)
Passara pelo turbilhão da Guerra Civil, com sua aliança nacionalista de
monarquistas, generais rebeldes, latifundiários, a alta hierarquia da Igreja e
os falangistas fascistas de um lado, e as forças do governo republicano,
incluindo socialistas, comunistas, liberais e separatistas bascos e catalães,
no outro. Fora um terrível período de destruição e morte, uma loucura que
atraíra homens e material bélico de uma dúzia de países, deixando um saldo de
mortos assustador. E agora os bascos voltaram a lutar e matar. O coronel Acoca
comandava um grupo eficiente e implacável de antiterroristas. Seus homens
trabalhavam em operações clandestinas, usavam disfarces e não eram divulgados
ou fotografados, por medo de retaliação. Se alguém pode deter Jaime Miró, é o
coronel Acoca, pensou o primeiro-ministro. Mas havia um problema: quem vai
deter o coronel Acoca? A entrega do comando ao coronel não fora ideia do
primeiro-ministro. Ele recebera um telefonema no meio da noite na sua linha
particular, reconhecera a voz no mesmo instante. Estamos muito preocupados com
as actividades de Jaime Miró e seus terroristas. Sugerimos que ponha o coronel
Ramon Acoca no comando do GOE. Entendido? Entendido, senhor. Será imediatamente
providenciado. A ligação fora cortada. A voz pertencia a um membro do Opus Dei.
A organização era uma calada secreta que incluía banqueiros, advogados, dirigentes
de poderosas corporações e ministros do governo. Corriam rumores de que tinham
enormes recursos à sua disposição, mas era um mistério de onde procedia o
dinheiro ou como era usado e manipulado. Não era considerado saudável fazer
muitas perguntas a esse respeito.
O primeiro-ministro pusera o
coronel Acoca no comando, de acordo com as instruções, mas o gigante
mostrara-se um fanático incontrolável. Seu Génio criara um reinado de terror. O
primeiro-ministro pensou nos terroristas bascos que os homens de Acoca haviam
capturado perto de Pamplona. Foram julgados e condenados à morte. O coronel
Acoca insistira para que fossem executados pelo bárbaro garrote vil, a
gargantilha de ferro com um espigão que era apertada aos poucos, até que partia
a vértebra e cortava a medula espinhal das vítimas. Jaime Miró tornou-se uma
obsessão para o coronel Acoca. Quero a sua cabeça, disse o coronel Acoca.
Cortemos sua cabeça e o movimento basco morre.
Um exagero, reflectiu o
primeiro-ministro, embora devesse admitir que havia um fundo de verdade. Jaime
Miró era um líder carismático, fanático em relação à sua causa e por isso
perigoso. Mas à sua maneira, concluiu o primeiro-ministro, o coronel Acoca é
igualmente perigoso. Primo Casado, o director-geral de segurança Pública,
estava falando: Excelência, ninguém podia prever o que aconteceu em Pamplona. Jaime
Miró é... Sei o que ele é, interrompeu o primeiro-ministro bruscamente. Quero
saber onde ele está. Virou-se para o coronel Acoca. Estou na sua pista, disse o
coronel Acoca, a voz provocando um calafrio pela sala. Gostaria de lembrar a
Vossa Excelência que não estamos lutando contra um homem apenas. Mas sim contra
todo o povo basco. Eles forneceram alimentos, armas e abrigo a Jaime Miró e a
seus terroristas. O homem é um herói para eles. Mas não se preocupe. Muito em
breve ele será um herói enforcado. Depois que eu lhe oferecer um julgamento
justo, é claro. Não nós. Eu. O primeiro-ministro especulou se os outros haviam
notado. Sem dúvida, ele pensou, nervosamente, alguma coisa precisará ser feita
em relação ao coronel muito em breve. O primeiro-ministro levantou-se. Isso é
tudo por enquanto, senhores». In Sidney Sheldon, As Areias do Tempo, 1989,
Publicações Europa-América, 2003,
ISBN 978-972-105-176-8.
Cortesia PEuropaAmérica/JDACT
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