Minnesota
«(…) Assassinado? No gabinete
dele. Levou três tiros. Ela fez uma pausa e, sem querer, deu um tom ainda mais
dramático ao que estava contando. Meu Deus, Emily , sinto muito! As palavras
consoladoras de Michael eram sinceras, mas havia alguma hesitação nelas. Algo além
de uma preocupação protectora e masculina chamava a sua atenção. Na verdade eu
não o conhecia de facto, comentou Emily. Havia alguma falsidade nas suas palavras.
Ela não conhecia Arno, mas sabia dele, admirava-o, acompanhava-o de longe. E estava
sentindo muito a sua perda, independentemente do que deixasse transparecer ao
telefone. Isso não faz tanta diferença, prosseguiu Michael. Quem atirou nele? Ninguém
sabe. As investigações estão em curso. Há polícias por todo o campus. Dizem que
parece ter sido um serviço profissional. As indicações são de um assassinato. Emily
respirou fundo e engoliu em seco. E a coisa toda fica mais esquisita. Ela fez
uma pausa para que Michael a sondasse, fizesse perguntas, mas ele permaneceu
calado e, então, ela continuou. Hoje pela manhã, encontrei uma carta no meu
gabinete. Escrita à mão, entregue pessoalmente. De Arno Holmstrand.
Emily firmou a voz. A carta,
Mike, trata da morte dele. Ele a escreveu antes de ser morto, sabendo que seria
morto. O silêncio continuava do outro lado da linha. E esta é a parte em que
você realmente não vai acreditar. A carta me deu instruções para ligar para um
determinado número de telefone que ele havia escrito no verso, sem nenhum nome a
acompanhar. E aqui estou eu, falando com você. Finalmente, Michael falou. Na
verdade, Emmy, acredito em tudo o que você disse. Ela se assustou. Jura? Juro.
Porque eu voltei da minha corrida matinal há uns 20 minutos, e debaixo de minha
porta havia um envelope. De cor creme e com meu nome escrito nele com tinta
marrom. Emily ficou paralisada, sem saber que sentido dar ao que ouvia. Não
pode ser. Mas é, interpôs Michael. Dentro dele há uma carta de Arno Holmstrand.
Emily não conseguia conter sua incredulidade. O que diz a carta? Pouca coisa,
respondeu Michael. Ela pôde ouvi-lo desdobrando uma folha de papel,
preparando-se para ler a carta. Prezado Michael. Emily vai ligar esta manhã.
Espere ao lado do telefone. Abra o segundo envelope e leia para ela o que está
dentro dele quando ela ligar.
Segundo envelope? A confusão
aumentava a cada segundo. Dentro do primeiro, com essa cartinha, tem um segundo
envelope. Com o seu nome escrito nele, confirmou Michael. Porque ele está
escrevendo para você? E por meu intermédio? Como nós estamos envolvidos na vida
dele? Não tenho a menor ideia, Mike. Estou tentando entender, fez uma pausa. Esse
segundo envelope…, você o abriu?, indagou Emily, agora no auge da tensão. Claro
que abri, respondeu ele. Você acha que eu ia cruzar os braços e ficar sentado esperando?
Apesar da tensão do momento, Emily não pôde evitar um leve sorriso. O costumeiro
entusiasmo de Michael não tinha sido sufocado por aqueles acontecimentos
estranhos. E…? E talvez você não venha para Chicago, fez uma pausa e, dessa
vez, o silêncio dramático era inteiramente proposital. Dentro do envelope tem
um e-ticket. Holmstrand reservou para você um voo para Londres. Esta noite. Londres?
O raciocínio de Michael agora
estava rápido demais. Ele ultrapassou a confusão dela. Qual é o número do fax
da sua sala, Emmy. Ela piscou, tentando recuperar a lucidez e disse automaticamente
o número que sabia de cor, da máquina de fax da secretaria do departamento. Porque
quer esse número?, perguntou por fim. Porque nesse segundo envelope, além da
passagem, há também duas folhas de papel. Meu scanner está quebrado, então não
dá para lhe enviar uma cópia por e-mail. Mas com certeza vai querer ver o que
ele deixou para si.
Dez minutos mais tarde, Emily
aguardava ansiosa ao lado da máquina de fax da secretaria do Departamento de
Religião, a algumas portas de distância de seu gabinete. A linha exclusiva para
mensagens de fax não tinha um toque audível e, por isso, ela estava ao lado da
máquina, esperando que ela despertasse e produzisse cópias digitais das duas páginas
que Michael havia prometido enviar nos próximos minutos. Sentados em torno de
uma mesa de trabalho estavam dois colegas professores de religião. Como se
poderia esperar, estavam discutindo o caso Holmstrand. Não, foram três,
insistiu Bill Preslin, um dos professores de hebraico, corrigindo o outro homem.
Você esqueceu a Arábia Saudita. É mesmo? Eu não fazia ideia, o outro homem era
David Welsh, especialista do departamento em religiões da América do Sul. Emily
foi até a mesa e se sentou. Dali, podia ficar vigiando a máquina de fax». In AM
Dean, A Biblioteca Perdida, 2012, Editora Prumo, 2012, ISBN 978-857-927-298-1.
Cortesia de EPrumo/JDACT
JDACT, AM Dean, Literatura, Mistério,