sexta-feira, 14 de maio de 2021

AM Dean. A Biblioteca Perdida. «Como foi que conseguimos que ele viesse para cá?, perguntou Emily, interrompendo aquela temporária frivolidade. Ainda estava chocada demais para fazer brincadeiras…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Minnesota

«(…) Vocês se importam se eu me sentar convosco?, perguntou. Suponho que estejam falando sobre Arno. Simplesmente não posso acreditar. Nós também não, respondeu Preslin, mexendo a cabeça num gesto acolhedor. Mas eventos dramáticos não são exactamente estranhos para Arno Holmstrand. E o único académico que eu conheço que consta na lista de terroristas feitas por três países diferentes, por causa do tempo que passou no Oriente Médio. Os EUA, a Grã-Bretanha e a Arábia Saudita o consideram uma pessoa de interesse. E o gabinete do Reitor recebeu uma ligaçãozinha telefónica bacana do Departamento de Segurança Interna quando ele veio para cá, querendo saber se nós conhecíamos o passado interessante dele, acrescentou Welsh. Nós falamos para eles que sim, continuou Preslin, que tinha trabalhado por dois semestres num cargo burocrático da universidade antes de retomar a sua função predominantemente docente. Mas acrescentamos que o velho tinha recebido honras em cinco países, tinha sido condecorado pela rainha da Inglaterra com a Ordem do Império Britânico e possuía títulos honorários de sete universidades diferentes.

Emily listou na sua cabeça os nomes que conhecia devido à imensa publicidade que tinha sido gerada em torno da nomeação de Holmstrand. As condecorações penduradas nas paredes da sala dele vinham de Stanford, Notre Dame, Cambridge, Oxford, Edinburgh, Sorbonne e da Universidade do Egipto. E esses eram apenas os que Holmstrand mencionava quando lhe perguntavam. Provavelmente havia uma enorme lista de outras instituições. Mas parece que o governo não achou que isso tinha importância, continuou Preslin. E independentemente de quantas vezes nós lhes disséssemos que o trabalho no Oriente Médio era arqueológico, eles viviam voltando ao ponto. Dava p’ra pensar que escavação arqueológica era um código para acampamento terrorista no vocabulário do governo. Olha, talvez seja mesmo, acrescentou Welsh. Os dois homens deram uma gargalhada sombria.

Como foi que conseguimos que ele viesse para cá?, perguntou Emily, interrompendo aquela temporária frivolidade. Ainda estava chocada demais para fazer brincadeiras, mesmo que fosse numa espécie de homenagem amigável. Nós não conseguimos, respondeu Welsh. Nós podemos ser uma instituição de primeira linha, mas não chegamos nem aos pés das universidades onde Holmstrand costumava actuar. Ele veio porque quis vir. A proposta partiu dele. Ele disse que queria paz e tranquilidade depois de suas aventuras, e desejava voltar às suas raízes numa cidade pequena. Carleton o atraiu, e ele nos escreveu. Ele até se mostrou disposto a aceitar um salário de iniciante, já que não era pelo dinheiro que estava querendo vir para cá.

Não, eu não imaginaria que fosse, disse Emily. Ela deixou que se passasse um momento de silêncio. O conteúdo da carta de Arno não lhe saía da cabeça. Sabem se Holmstrand tinha alguma coisa a ver com a Biblioteca de Alexandria?, perguntou finalmente, não podendo conter a sua curiosidade. Os olhares que vieram dos dois colegas expressavam surpresa. Nenhum dos dois esperava que a conversa tomasse esse rumo. A biblioteca antiga? A biblioteca perdida? O que quer dizer? Não tenho a certeza. Sei que ele estava profundamente envolvido com assuntos egípcios. Mas será que ele pesquisava particularmente a Biblioteca de Alexandria? Será que a estudava? Escrevia sobre ela? Preslin coçou o queixo. Não que eu saiba, respondeu. Mas o homem publicou quase 30 livros. Quem sabe?» In AM Dean, A Biblioteca Perdida, 2012, Editora Prumo, 2012, ISBN 978-857-927-298-1.

Cortesia de EPrumo/JDACT

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