Minnesota
«(…) Vocês se importam se eu me
sentar convosco?, perguntou. Suponho que estejam falando sobre Arno.
Simplesmente não posso acreditar. Nós também não, respondeu Preslin, mexendo a
cabeça num gesto acolhedor. Mas eventos dramáticos não são exactamente
estranhos para Arno Holmstrand. E o único académico que eu conheço que consta
na lista de terroristas feitas por três países diferentes, por causa do tempo
que passou no Oriente Médio. Os EUA, a Grã-Bretanha e a Arábia Saudita o
consideram uma pessoa de interesse. E o gabinete do Reitor recebeu uma ligaçãozinha
telefónica bacana do Departamento de Segurança Interna quando ele veio para cá,
querendo saber se nós conhecíamos o passado interessante dele, acrescentou
Welsh. Nós falamos para eles que sim, continuou Preslin, que tinha trabalhado
por dois semestres num cargo burocrático da universidade antes de retomar a sua
função predominantemente docente. Mas acrescentamos que o velho tinha recebido
honras em cinco países, tinha sido condecorado pela rainha da Inglaterra com a
Ordem do Império Britânico e possuía títulos honorários de sete universidades
diferentes.
Emily
listou na sua cabeça os nomes que conhecia devido à imensa publicidade que
tinha sido gerada em torno da nomeação de Holmstrand. As condecorações penduradas
nas paredes da sala dele vinham de Stanford, Notre Dame, Cambridge, Oxford,
Edinburgh, Sorbonne e da Universidade do Egipto. E esses eram apenas os que
Holmstrand mencionava quando lhe perguntavam. Provavelmente havia uma enorme
lista de outras instituições. Mas parece que o governo não achou que isso tinha
importância, continuou Preslin. E independentemente de quantas vezes nós lhes
disséssemos que o trabalho no Oriente Médio era arqueológico, eles viviam
voltando ao ponto. Dava p’ra pensar que escavação arqueológica era um código
para acampamento terrorista no vocabulário do governo. Olha, talvez seja mesmo,
acrescentou Welsh. Os dois homens deram uma gargalhada sombria.
Como foi que conseguimos que ele
viesse para cá?, perguntou Emily, interrompendo aquela temporária frivolidade.
Ainda estava chocada demais para fazer brincadeiras, mesmo que fosse numa espécie
de homenagem amigável. Nós não conseguimos, respondeu Welsh. Nós podemos ser
uma instituição de primeira linha, mas não chegamos nem aos pés das
universidades onde Holmstrand costumava actuar. Ele veio porque quis vir. A
proposta partiu dele. Ele disse que queria paz e tranquilidade depois de suas
aventuras, e desejava voltar às suas raízes numa cidade pequena. Carleton o atraiu,
e ele nos escreveu. Ele até se mostrou disposto a aceitar um salário de
iniciante, já que não era pelo dinheiro que estava querendo vir para cá.
Não, eu não imaginaria que fosse,
disse Emily. Ela deixou que se passasse um momento de silêncio. O conteúdo da
carta de Arno não lhe saía da cabeça. Sabem se Holmstrand tinha alguma coisa a
ver com a Biblioteca de Alexandria?, perguntou finalmente, não podendo conter a
sua curiosidade. Os olhares que vieram dos dois colegas expressavam surpresa.
Nenhum dos dois esperava que a conversa tomasse esse rumo. A biblioteca antiga?
A biblioteca perdida? O que quer dizer? Não tenho a certeza. Sei que ele estava
profundamente envolvido com assuntos egípcios. Mas será que ele pesquisava
particularmente a Biblioteca de Alexandria? Será que a estudava? Escrevia sobre
ela? Preslin coçou o queixo. Não que eu saiba, respondeu. Mas o homem publicou
quase 30 livros. Quem sabe?» In AM Dean, A Biblioteca Perdida, 2012,
Editora Prumo, 2012, ISBN 978-857-927-298-1.
Cortesia de EPrumo/JDACT
JDACT, AM Dean, Literatura, Mistério,