Com a devida vénia à Mestre Maria Barreto D’Ávila
Vida e Acção Política
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Contudo, durante muito tempo a biografia foi considerada como um modelo
historiográfico menor, mais ligado à apologia do que a uma análise isenta e
rigorosa. Também em Portugal, a biografia foi até muito recentemente um género
desconsiderado. A Colecção Reis de
Portugal dirigida por Roberto Carneiro e com coordenação
científica de Artur Teodoro Matos e João Paulo Oliveira Costa, veio mudar este
panorama. Estas biografias régias trouxeram novas perspectivas à historiografia
portuguesa, tornando-se obras fundamentais para a compreensão da história do
nosso país. Brevemente será também publicada uma biografia do infante dom
Henrique, intitulada Henrique, o
infante, da autoria de João Paulo Oliveira Costa. Tendo em
vista a elaboração de um estudo biográfico sobre dom Fernando, 2.º duque de
Bragança e considerando que os estudos precedentes sobre a casa de Bragança
deixaram algumas problemáticas em aberto, foi nosso objectivo proceder à recolha
de dados prosopográficos de dom Fernando e à caracterização do seu pensamento
político tentando destrinçar o seu comportamento diferenciado em relação ao seu
pai e irmão, para além das outras principais figuras políticas suas
contemporâneas, quanto à política do Reino. Outras linhas de análise foram
trilhadas através do exame da sua participação nos projectos expansionistas no
Norte de África, da evolução do seu património e da sua estratégia de
perpetuação da linhagem da sua casa. Para tal foi indispensável caracterizar
tanto o contexto sociopolítico em que dom Fernando viveu como o seu âmbito
familiar.
As
fontes utilizadas na elaboração desta tese compuseram-se, na sua grande
maioria, de documentação da chancelaria régia, seguindo-se alguma documentação
do Arquivo da Casa de Bragança. Contudo, as fontes mais interessantes para a
caracterização do pensamento político de dom Fernando são os inúmeros conselhos
por ele redigidos, assim como as Crónicas de João I, Duarte I e Afonso V. No
entanto, há lacunas na documentação que não nos permitiram analisar certos
aspectos biográficos de dom Fernando. Infelizmente, com excepção da Chancelaria
de Afonso V, não existem mais documentos relativos ao período em que o conde de
Arraiolos assumiu a capitania da praça de Ceuta, pelo que não possuímos relatos
dos acontecimentos políticos e militares desse período, o que nos impede de
identificar os nobres que o acompanharam durante a sua capitania. Também os
anais dedicados a Ceuta são parcos em informações acerca do governo de dom
Fernando, relatando apenas o episódio da sua vinda ao Reino durante o agudizar
dos conflitos entre o duque de Bragança, seu pai, e o infante dom Pedro. As
fontes utilizadas também não nos permitiram entrar na esfera privada de dom
Fernando. Este estudo, tal como o nome indica, incidirá, portanto,
maioritariamente na vertente política do indivíduo biografado.
Apesar de ser usual, por uma questão de comodidade, referirmo-nos aos três condes de Barcelos, Ourém e Arraiolos como casa de Bragança, nesta dissertação tentaremos evitar esta designação para o período anterior a 1442, data em que dom Afonso, conde de Barcelos, acedeu ao ducado brigantino. Aliás, apesar de por vezes agirem conjugadamente, numa óbvia solidariedade familiar, os três condes são titulares de casas que coabitam em simultâneo, mas que são independentes. É nosso entender que a maior dependência será sempre entre o conde de Ourém, filho primogénito, e o seu pai, o conde de Barcelos. A prová-lo temos o episódio ocorrido durante a regência do infante dom Pedro aquando da criação do ducado de Bragança. Pai e filho estavam interessados nas terras brigantinas e dom Pedro resolveu a querela entregando o ducado ao conde de Barcelos, tendo a justificação para a sua decisão recaído no facto de que, sendo o primogénito, o conde de Ourém herdaria, ainda que a médio prazo, as propriedades do pai.
Dom
Fernando, secundogénito, ficava de fora desta equação. A sua casa, a de
Arraiolos/Vila Viçosa, seria totalmente independente das outras duas até à
morte do irmão e sua consequente nomeação como herdeiro da casa de Bragança. Esta
dissertação terá, portanto, como objectivo analisar a actuação de dom Fernando
enquanto chefe da casa de Arraiolos/Vila Viçosa e, posteriormente, enquanto
segundo duque de Bragança.
O legado de Nuno Álvares Pereira
A consolidação da nova dinastia de Avis e a vitória dos seus
partidários sobre a facção castelhana deu azo à emergência de uma nova nobreza
composta, na sua grande maioria, por filhos segundos e membros de linhagens
inferiores que se haviam destacado militarmente no apoio ao mestre de Avis. O
maior beneficiado destes nobres foi, sem dúvida alguma, dom Nuno Álvares
Pereira nascido em 1360, filho bastardo de Álvaro Gonçalves Pereira, prior do
Hospital, e de Iria Gonçalves do Carvalhal». In Maria Barreto D’Ávila, D. Fernando I.
2º duque de Bragança, Vida e Acção Política, Dissertação de Mestrado,
FCSHumanas, UNLisboa, 2009.
Cortesia de FCSH/UNL/JDACT
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