domingo, 23 de maio de 2010

Abrantes: Uma cidade que foi reputada como «a chave da Província da Estremadura». Um baluarte na defesa da Linha do Tejo (nos primeiros anos do reino de Portugal)


Cortesia de wikipédia
Abrantes é uma cidade portuguesa pertencente ao Distrito de Santarém, região Centro e subregião do Médio Tejo e pertence ao Ribatejo.
O município é limitado:
  • A norte pelos municípios de Vila de Rei, Sardoal e Mação;
  • A leste por Gavião;
  • A sul por Ponte de Sor;
  • A oeste por Chamusca, Constância, Vila Nova da Barquinha e Tomar.
O Castelo de Abrantes, também denominado Fortaleza de Abrantes, no Ribatejo, localiza-se nas freguesias de São João e São Vicente.

Cortesia da CMAbrantes
Em posição dominante sobre uma colina na margem direita do rio Tejo, outrora constituindo a chamada Linha do Tejo, actualmente integra a Região de Turismo dos Templários.
Abrantes é uma cidade moderna, conhecida como a cidade florida.

Cortesia da CMAbrantes
Alguns autores acreditam que o local tenha sido ocupado desde a pré-história por um castro, conquistado, no âmbito da Invasão romana da Península Ibérica, no ano de 130 a.C., pelo consul Decimus Junius Brutus e ocupado posteriormente por Visigodos e Muçulmanos, argumentando que o local era uma encruzilhada de vias terrestres, justificando a sua ocupação e guarnição militar. Outros autores, ao contrário, compreendem que o médio curso do rio Tejo não possuiu, a rigor, qualquer organização ligada aos principais poderes peninsulares até ao século XII.

Na época da Reconquista cristã da Península Ibérica, em 1118 ou 1148, a povoação foi conquistada aos mouros pelas forças de D. Afonso Henriques, que lhe determinou a reconstrução das defesas. As necessidades de defesa da chamada Linha do Tejo, valorizaram-lhe o sítio, num período em que os Templários dotavam o médio curso do rio de uma impressionante linha defensiva, na qual se inscreveu. Resistiu, desse modo, ao assédio das forças Almóadas sob o comando de Abem Jacob, as quais tiveram que se retirar sofrendo pesadas baixas. Em recompensa por esse feito heróico, recebeu do soberano a sua Carta de Foral em 1179. Sob o reinado de D. Sancho I, um novo cerco Almoáda sob o comando do califa Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur, repetiu-se em 1191, época em que foram perdidas todas as conquistas cristãs nos territórios ao sul do rio Tejo, à excepção da cidade de Évora. Posteriormente, D. Afonso III, conferiu-lhe importantes melhoramentos na defesa, iniciados em 1250 e concluídos entre 1300 e 1303, já no reinado de D. Dinis, com destaque para a Torre de Menagem e a ampliação das muralhas. Este monarca doou a vila a sua esposa, D. Isabel de Aragão, passando, a partir de então, a integrar o património das rainhas de Portugal.  Na crise de 1383-1385 alinhou-se ao lado das forças do Mestre de Avis, rezando a tradição que foi neste castelo que se tomou a decisão de dar combate às tropas de Castela em Aljubarrota. Sob o reinado de D. Manuel, a povoação recebeu o Foral Novo (1510).
Na segunda metade do século XVI, o Castelo de Abrantes entrou em decadência, particularmente durante a Dinastia Filipina.



Cortesia da CMAbrantes
Na guerra da Restauração da Independência portuguesa, no último quartel do século XVII, D. Pedro II, determinou a reedificação, transformando a povoação e o castelo medieval numa moderna praça-forte abaluartada, Praça-forte de Abrantes, ao estilo Vauban. Para esse fim as muralhas medievais foram rebaixadas e reforçadas, tendo-lhes sido adossados dois meio-baluartes em 1704. Segundo alguns documentos, Abrantes era reputada como «a chave da Província da Estremadura».
No início do século XIX, quando da Guerra Peninsular, a vila suportou, em duas ocasiões, a passagem das tropas napoleônicas:
  • 22 de Novembro de 1807, foi ocupada pelas tropas sob o comando do general Jean-Andoche Junot;
  • Outubro de 1810 foi reocupada, após a derrota das tropas sob o comando do marechal André Masséna nas Linhas de Torres.
Em meados do século XX o conjunto foi classificado como Imóvel de Interesse Público por Decreto de Julho de 1957. No fim da década de 1960 foram encetadas obras de consolidação e restauro nas muralhas do castelo, que se estenderam até ao início da década de 1970, destacando-se a reconstrução parcial da antiga Torre de Menagem. Recentemente, a partir de 2002, formulou-se um projeto global de intervenção e de valorização do conjunto.
Do antigo e austero castelo medieval, envolto por um jardim público de onde se descortina uma invejável panorâmica, restam atualmente apenas a sólida Torre de Menagem, a Porta de Armas (no ângulo nordeste) e a arcaria de suporte a dois distintos panos de muralhas que servem de parapeito a um miradouro sobre a cidade. No interior do recinto amuralhado ergue-se a Igreja de Santa Maria do Castelo de estilo gótico, convertida em museu histórico, onde se observam coleções de escultura romana, escultura tumular do século XV e século XVI, além de painéis de azulejos sevilhanos e outras obras de arte.

Cortesia da CMAbrantes
Com a devida vénia ao IGESPAR, publicoum texto referente à cidade e ao seu Castelo:
«Desconhecem-se, ainda, as origens do castelo de Abrantes e, consequentemente, a génese do povoamento da localidade. A maioria dos autores aponta para a existência de um castro pré-romano, logo conquistado pelas tropas imperiais e sucessivamente ocupado por Visigodos e Árabes (MORATO, 1860, ed. 1981, p.43). A verdade, contudo, parece ser bem diferente, uma vez que, como deixou expresso Eduardo Campos, o curso médio do Tejo não possui, verdadeiramente, qualquer organização ligada aos principais poderes peninsulares até ao século XII (CAMPOS, 1984, p.6). A elevação de Abrantes a localidade-referência nesta parcela do território terá de se buscar aos primeiros anos do reino de Portugal e à necessidade de defesa da linha do Tejo. Na mesma altura em que os Templários dotavam o curso médio do maior rio peninsular de uma linha defensiva sem precedentes no panorama da arquitectura militar medieval portuguesa, D. Afonso Henriques passava carta de foral a Abrantes, instrumento régio que visou, acima de tudo, "atrair colonos para uma região despovoada" (CAMPOS, 1984, p.9) ou, diríamos, nós, desprovida de uma estrutura populacional-administrativa centralizadora. O castelo que ainda hoje coroa a vila de Abrantes deve ter tido a sua primeira fase construtiva pela segunda metade desse século XII. Ainda que desconheçamos, por completo, a sua fisionomia, é possível que a influência templária se tivesse feito sentir e que o modelo adoptado se caracterizasse já por um esquema plenamente românico. Pelo final do século, a fortaleza devia ser já relevante, uma vez que foi um dos locais de assédio das tropas almóadas, no contra-ataque islâmico que obrigou ao recuo da fronteira portuguesa no reinado de D. Sancho I.
No século XIII, o castelo foi objecto de muitas reformas, que culminaram na materialização de uma fortaleza gótica. Com obras documentadas no reinado de D. Afonso III, foi no tempo de seu filho, D. Dinis, que ocorreram as mais importantes alterações. Este monarca doou a vila a sua mulher, D. Isabel de Aragão, passando a integrar o vasto património das rainhas portuguesas. Paralelamente, actualizou a fortificação, patrocinando a construção da torre de menagem e de grande parte da cerca do castelo.
A torre é, ainda, o elemento que melhor documenta esta fase. De planta quadrangular, de rigorosa simetria, elevava-se originalmente em três pisos, mas os dois superiores ruíram no terremoto de 1531 (MORATO, 1860, ed. 1981, p.59). Ela encontra-se bastante adulterada por obras efectuadas no século XIX, mas possui uma característica que não é frequentemente na arquitectura militar gótica: implanta-se no centro do recinto fortificado (à maneira românica) e não se adossa a qualquer das portas ou dos torreões. Este facto poderá ter-se ficado a dever à reutilização de uma anterior estrutura, pré-existente à reforma dionisina, mas sem uma escavação arqueológica, nada se poderá saber ao certo.

Cortesia da CMAbrantes
No século XV, no mesmo impulso que levou a grande nobreza a transformar antigos castelos em paços senhoriais, a secção ocidental das muralhas do castelo foi aproveitada para albergar o palácio dos condes de Abrantes, edificado na década de 30 por Diogo Fernandes de Almeida, alcaide-mor da vila. Este paço foi substancialmente transformado no século XVIII, por vontade do 1º marquês de Abrantes, D. Rodrigo Anes de Meneses. Infelizmente, dessa construção barroca restam apenas as ruínas, mas é ainda possível perceber que se tratava de um conjunto de grande impacto cenográfico, elevando-se acima das muralhas e compondo-se por uma longa arcaria simétrica de 11 vãos, ladeada por duas torres igualmente simétricas.

Cortesia da CMAbrantes
No século XIX, a transformação da praça abrantina em Presídio Militar determinou a radical adulteração das suas estruturas. Novas obras tiveram lugar nos meados do século XX, de que se destaca a reconstrução parcial da torre de menagem, mas só em 2002 se reuniram condições para o avanço de um projecto global de intervenção e de valorização». In PAF/IGESPAR.

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