terça-feira, 25 de maio de 2010

Mariana Alcoforado: As suas cartas de amor são a paixão sublime não correspondida. Um facto que perdura no tempo e tem despertado interesse no mundo

(1640-1723)
Beja
Cortesia de macarrao2
Mariana Alcoforado nasceu na cidade de Beja e foi uma freira portuguesa do Convento de Nossa Senhora da Conceição em Beja. É considerada a autora das cinco Lettres Portugaises (As Cartas Portuguesas) dirigidas a Noel Bouton de Chamilly, conde de Saint-Léger, oficial francês que lutou em solo português sob as ordens de Frederico de Schomberg, durante a Guerra da Restauração.

Convento onde Mariana Alcoforado morava, hoje um museu regional
Cortesia wikipédia
Já no testamento materno Mariana fora nomeada monja do Convento da Conceição. Sem nenhuma inclinação mística, ela estava, pois, destinada à vida religiosa, sorte idêntica à de muitos homens e moças da época, encerrados em mosteiros por mera decisão paterna.

Cortesia de Roberto Macedo Alves
Os amores com Chamilly, a quem vira pela primeira vez do terraço do convento, de onde assistia às manobras do exército, deve ter ocorrido entre 1667 e 1668. Mariana pertencia à poderosa família dos Alcoforados, e o escândalo provavelmente alastrou-se. Temeroso das consequências, Chamilly saiu de Portugal, pretextando a enfermidade de um irmão. Prometera mandar buscá-la. Na sua espera, em vão, escreveu as referidas cartas, que contam uma história sempre igual:

  • esperança no início;

  • seguida de incerteza;

  • a convicção do abandono.
Esses relatos emocionados fizeram vibrar a nobreza de França, habituada ao convencionalismo. Além disso, levaram, para a frívola sociedade, o gosto acre do pecado e da dor, pois, ao virem a lume, divulgaram a informação de que as compusera uma freira.

Réplica da janela de onde Alcoforado falou com Chamilly
Cortesia de wikipédia
Seguiram-se as Respostas. Entretanto, todas as outras publicações são apócrifas. Rousseau, por achar as cartas belas demais para serem ideadas por uma mulher, negava-lhes a autenticidade, o mesmo sucedendo com Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco. Pelas boas obras e pelos sacrifícios com o tempo se reabilitou, Mariana chegou à posição de abadessa e morreu já idosa, aos oitenta e três anos de idade.
Na hipótese de não serem autênticas, ignora-se por que as Cartas, escritas em francês, possuem acentuados vestígios de sintaxe portuguesa. Especula-se que provêm de tradução literal de cartas escritas em português, ou então compostas por alguém que, conhecendo o idioma francês, não o dominava a ponto de redigi-lo com absoluta perfeição. E na biblioteca dos Alcoforados acharam-se inúmeros livros em francês, indício provável de que eles tinham conhecimento da língua e servido, ao menos para leitura.

«Estas cartas de amor são a sua paixão sublime não correspondida, que perdura no tempo e tem despertado o interesse de todo o mundo. Desde a edição princeps de Claude Barbin, datada de 4 de Janeiro de 1669, com o título de “Lettres Portugaises Traduites en François”, até hoje, sucederam-se centenas de edições em diferentes idiomas, poemas, peças de teatro, filmes, obras de interpretação plástica e musical. O Museu Regional de Beja conserva ainda a grande janela gradeada através da qual a religiosa viu tantas vezes passar aquele que a encantava e que num dia especial a destacou com o seu olhar e lhe fez sentir os primeiros efeitos da sua infeliz paixão». In Roberto Macedo Alves
Cortesia de wikipedia/Roberto Alves/JDACT