(1550/1551-1622)
Cortesia de purl
Francisco Sanches foi um médico, filósofo e matemático português. Nasceu no território pertencente à diocese de Braga, judeu convertido foi em 1550 baptizado na Igreja de São João do Souto, da mesma cidade, em 25 de Julho de 1551.
Saiu de Portugal muito novo, os escritos da época afirmam 12 anos, para estudar em Bordéus, onde se matriculou e frequentou o famoso colégio de Guyenne, que era um foco intenso de renovação intelectual, em que influíam o Renascimento italiano e o reformismo religioso.
Em 1573 matriculou-se na Faculdade de Medicina de Montpellier e, dois anos depois, fixou residência em Toulouse, onde foi director dos serviços médicos durante mais de trinta anos, cidade onde permaneceu até ao fim da vida, ensinando medicina. Foi considerado nesta universidade um dos mestres mais ilustres. Como homenagem póstuma foi colocado o seu retrato num dos ângulos da sala dos Actos e lá permanece. Também Braga não o esqueceu, levantando-lhe uma estátua e dando o seu nome a uma escola.
Autógrafo no Diploma da Universidade de Mompilher
Cortesia de wikipédia
Além de médico foi também um eminente filósofo: contestou a filosofia de Aristóteles e o pretenso saber da escolástica, mostrando o falível do testemunho dos sentidos, denunciando a ineficácia dos métodos tradicionais e tentou definir o seu próprio ideal de conhecimento.
A sua obra principal saiu na I edição (Lyon, 1581), com o título «Quod nihil scitur» (Que nada se sabe), mas a II edição (Frankfurt, 1618), trouxe o título mais condicente com o seu pensamento: «De multum nobili et prima universali scientia quod nihil scitur».
Segundo Moreira de Sá, «Francisco Sanches, astrónomo, geómetra, filósofo e médico, observador infatigável da Natureza, autêntico protótipo do homem do Renascimento, legou-nos uma obra que foi o arauto da revolução filosófica dos séculos XVII e XVIII».
Cortesia de hemerotecadigital
Francisco Sanches, referenciado como um filósofo céptico, explorou a situação epistemológica do homem e tentou mostrar que as reivindicações do conhecimento do homem em todas as áreas do conhecimento levantavam muitas duvidas. A atitude filosófica de Sanches foi desenvolvida ao longo do século XVII por outros filósofos que, partindo do seu cepticismo, evoluíram para uma valorização do conhecimento científico a partir de uma interpretação hipotética e empírica. O seu pensamento é frequentemente apresentado como precursor da crítica gnoseológica cartesiana e do experimentalismo de Bacon. Na sua primeira obra, Quod nihil scitur (Que nada se sabe), revela-se contrário à pretensão de uma ciência feita e um adversário do dogmatismo científico-filosófico. Embora reconhecendo sempre a presença de um arquitecto supremo como origem de todo o universo, Sanches valoriza o plano experimental, considerando que o universo é um sistema de leis, excluindo todas as formas de conhecimento e de linguagem que impliquem deslocação de sentido. Manifesta também a sua insatisfação em relação à metafísica e à pseudo-ciência.
Quando esteve em Itália, especializou-se em estudos anatómicos e cirúrgicos, influenciado pelos trabalhos de Realdo Colombo e Vesálio. A sua actividade enquanto médico deu origem à publicação, pelos seus filhos e por Delassus, da obra Opera Medica. Segundo Joaquim de Carvalho, «O seu conhecimento não arrancou de livros, mas da sua própria experiência e teve por objecto uma teoria da ciência e uma teoria explicativa da Natureza com o tipo de saber que o médico aplica».
Opera Medica
Cortesia wikipédia
Para um melhor conhecimento do pensamento filosófico e científico de Francisco Sanches, ler o texto de Pedro Calafate em Filosofia Portuguesa, no Centro Virtual Camões.
Ler ainda o texto de Onésimo Teotónio de Almeida, em Episódios - Francisco Sanches - O «Elo perdido entre os descobrimentos e a ciência moderna».
Cortesia do Instituto Camões/JDACT
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