(1858-1941)
Fotografia de José Leite de Vasconcelos
Revista Lusitana, nova série, 12, pág. 7
Revista Lusitana, nova série, 12, pág. 7
Cortesia do Instituto Camões
José Leite de Vasconcelos Cardoso Pereira de Melo, mais conhecido por Leite de Vasconcelos foi um linguista, filólogo, arqueólogo e etnógrafo português.
Leite de Vasconcelos era atento ao ambiente em que vivia e anotava em pequenos cadernos tudo o que lhe chamava a atenção. Aos dezoito anos foi para o Porto continuar seus estudos, licenciado-se em Ciências Naturais e em Medicina. Ao publicar, como tese de licenciatura, o trabalho «Evolução da linguagem» já demonstrava o grande interesse pelas letras. As ciências exactas deixaram-lhe o estilo investigativo rigoroso e exaustivo, seja na filologia, seja na arqueologia ou na etnografia, disciplinas em que Leite de Vasconcelos foi uma referência notável.
Cortesia do Jornal Público
Cresceu na zona, «de prestigiosas velharias e usanças arcaicas», do mosteiro cisterciense de S. João de Tarouca, isto é entre a vila de Ucanha, Mondim da Beira, Salzedas, onde um padre o iniciou em latim e um tio em francês. «Já nesse tempo se manifesta o traço que havia de fazer dele o maior registador de coisas populares, sem saber ao certo para quê, ia apontando em caderninhos o que ouvia ou perguntava». Os seus trabalhos privilegiam o severo escrutínio de fontes e o arquivo de dados, obtidos ora em digressões pelo país, ora até por simples contacto informal com quem se ia cruzando mesmo em Lisboa, e a fornecida biblioteca pessoal, depois legada à Faculdade de Letras de Lisboa, lhe economizava o tempo, para a obra a fazer sempre precioso.
Cortesia do mnarqueologia
Fundou a Revista Lusitana em 1889, o Arqueólogo Português em 1895 e o Museu Etnológico de Belém em 1893. Doutorou-se na Universidade de Paris, com «Esquisse d'une dialectologie portugaise», 1901, o primeiro importante compêndio da diatopia do português, continuado e melhorado por Manuel de Paiva Boléo e Luís Lindley Cintra. Foi também pioneiro no estudo da onomástica portuguesa com a obra «Antroponímia Portuguesa».
Chegou a professor do ensino superior apenas em 1911, quando o Curso Superior de Letras se transformava em Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mas já antes leccionara na Biblioteca Nacional, onde era conservador desde 1887, Numismática e Filologia Portuguesa. Desses tempos são as Lições de Philologia Portuguesa, 1911, e a antologia de Textos Archaicos, 1903.
Os biógrafos de Leite Vasconcelos aludem a algumas idiossincrasias, a quase sovinice e a férrea disciplina de vida que a investigação unicamente polarizava.
Cortesia de Paulo Campos
arquivohistoricomadeira
Maria Ana Ramos, em artigo em que compara Leite de Vasconcelos e Carolina Michaélis, contrasta o zelo de perfeição que Michaélis punha no que intentava dar à estampa com certa sofreguidão de publicar, até por vontade de marcar primazias de autoria, que teria algum tanto condicionado a dispersão da obra do Doutor Leite. «Palavras entre filólogos: uma carta de Leite de Vasconcellos a Carolina Michaëlis», Estudos Portugueses. Homenagem a Luciana Stegagno Picchio, 1991, pp. 143-158).
A bibliografia coligida por Isabel Vilares Cepeda (José Leite de Vasconcellos, Livro do Centenário, Imprensa Nacional, 1960, pp. 139-269) é um instrumento indispensável a quem pretenda ter uma ideia da mole de trabalhos de Leite Vasconcelos, entre os quais, diga-se, difícil será escolher obras matrizes. Talvez que o prototipo da sua produção escrita afinal seja a Revista Lusitana (1ª série: 1887-1943, 39 volumes), que fundou, dirigiu e semeou de artículos, notas, recensões, necrológios, ainda hoje de obrigatória consulta. Outra das revistas por si fundadas se deve lembrar: O archeologo português, 1895-1931 (1ª série), órgão do Museu Etnológico (mais uma criação sua, de que são hoje continuadores o Museu de Arqueologia, nos Jerónimos, e o Museu de Etnologia, no Restelo). No campo que aqui mais interessa, o dos estudos linguísticos, para além do que se foi citando, destaquem-se: a separata com a edição do Livro de Esopo (1906); a fundadora obra sobre o onomástico português que é a Antroponímia Portuguesa (1928); os volumes 1, 2, 3, 4, 6 de Opúsculos (1928, 1928, 1929, 1931, 1988); os trabalhos sobre o mirandês (O Dialecto Mirandez, 1882, com que se estreou em filologia, dedicado ao "senhor F. Adolpho Coelho" e logo premiado; os dois volumes dos Estudos de Filologia Mirandesa, 1900-1901, reeditado o primeiro volume em 1992). Cortesia do Instituto Camões.
Cortesia do mnarqueologia
Leite de Vasconcelos, morre aos 82 anos de idade, deixando, em testamento, ao Museu Nacional de Arqueologia, parte do seu espólio científico e literário, incluindo uma biblioteca com cerca de oito mil títulos, para além de manuscritos, correspondência, gravuras e fotografias.
(Boletim de etnografia - J. Leite de Vasconcelos,1920-1938)
Instituto Camões/wikipédia/JDACT