Cortesia da CMIdanha-a-Nova
Idanha-a-Velha é uma freguesia portuguesa do concelho de Idanha-a-Nova. Idanha-a-Velha, uma «Aldeia de Casario Granítico e Ambiente Pitoresco».
Toponomicamente, Idanha-a-Velha poderá derivar da denominação romana Civitas Igaedinorum, terminologia que viria dar Igeditania. O nome Egitania só surge em documento do século VI e deriva da forma visigórica Egitania e da forma árabe Idania. A povoação foi fundada no período de Augusto (séc. I a.C.) e a fundação deste núcleo populacional teve para Roma uma importância extrema entre a Guarda e Mérida. A ocupação romana desta zona está bem comprovada pela observação detalhada das muralhas edificadas entre os séculos III a IV, aquando do início das Invasões Bárbaras, é possível identificar os inúmeros vestígios materiais de habitações e templos romanos existentes na povoação, cuja pedra foi reaproveitada na construção destas. De facto, esta muralha só cercava parte do que terá sido a magnífica cidade do Alto Império.
Com a devida vénia à Câmara Municipal de Idanha-a-Nova publico alguns dados referentes a Idanha-a-Velha, uma localidade cheia de história e de encanto.
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Desta freguesia nunca será tudo dito. A florescente cidade Romana documentada desde o ano 16 A.C. é das povoações mais antigas de Portugal, com uma forte carga histórica, com um vasto património e de incalculável valor arqueológico. Em todos estes aspectos estão registadas as mudanças lentas e rápidas que transformam as civilizações. Falamos de uma verdadeira aldeia Museu, onde lendas e narrativas estão de constante mão dada com a história.
Idanha-a-Velha ergue-se onde foi edificada a gloriosa cidade de Egitânia (com milhares de habitantes) e inúmeras vezes invadida e saqueada. Aqui encontramos vestígios que remontam a diversos períodos, como:
- Pré-História;
- Celtas;
- Classicismo Romano;
- Suevo;
- Visigótico;
- Árabe;
- Idade Média Portuguesa;
- Construções do período Manuelino.
Dos inúmeros percursos arqueológicos possíveis, destacamos a Sé Catedral, primitivamente construída sobre um Templo Paleocristão e posteriormente construída a primeira Catedral Visigótica edificada na Península Ibérica. No seu interior, podemos observar a maior colecção de epigrafia Romana da Europa, alguma vez encontrada num só lugar. Outra parte deste espólio, faz parte das colecções do Museu Tavares Proença Júnior, Castelo Branco, e Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, Lisboa.
A Primitiva Egitânia
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Conhecida pela sua beleza natural e pelos vestígios históricos que encerra, a aldeia de Idanha-a-Velha ocupa uma área de 4,5 hectares em duas pequenas elevações, abraçadas a sudoeste e oeste por um apertado meandro do rio Ponsul, tributário do rio Tejo. A sua implantação faz com que apareça denominada paisagísticamente pela fortaleza de Monsanto.
Idanha-a-Velha - capital da civicas Igaeditanorum da época romana - foi possívelmente fundada no período de Augusto (séc. I a.C.) e terá sido o resultado da política de apaziguamento e ordenamento do território, por parte de Roma, e da necessidade de criar um ponto de paragem intermédio entre a Guarda e Mérida. Torna-se, assim, credível que os primeiros habitantes da cidade tenham sido oriundos de um núcleo populacional pré-romano fortificado, localizado nas imediações, designado por Cabeço dos Mouros. Fortalece esta hipótese o facto de, até ao momento, não terem sido encontrados materiais arqueológicos que sugiram uma ocupação do sítio anterior à época romana.
Do nome da cidade pouco se conhece. As fontes mais antigas apenas a referem enquanto a circunscrição administrativa Cívicas Igaeditanorum, nome derivado da designação do povo pré-romano que habitava a região onde a nova cidade se implantou (os igaeditani). A forma actual deriva da forma visigótica Egitania e da árabe Idania. Também pouco se conhece da história da cidade durante o período romano, embora ela deva ter tido um período de grande prosperidade durante o Alto Império.
No seu período de maior florescimento a cidade estendia-se seguramente desde a actual entrada norte até às margens do rio Ponsul, ocupando praticamente toda a área interior do meandro do rio. Alguns vestígios de uma rica habitação detectados na margem esquerda, no Olival das Almas, sugerem mesmo uma extensão ainda maior. No centro da cidade encontrava-se o forum, certamente uma construção do séc. I, eventualmente do tempo de Augusto. Trata-se de um espaço rectangular definido por um muro a toda a volta, hoje praticamente irreconhecível, com a entrada a leste. Na cabeceira oeste encontra-se o podium do templo, provavelmente dedicado a Vénus. Para sul do forum encontravam-se as termas.
As dimensões das estruturas já escavadas sugerem tratar-se de um edifício público. Os abundantes elementos de construção romanos, reaproveitados na muralha, indicam a existência de numerosos edifícios. Porém, as escavações arqueológicas até agora realizadas nada mais deram a conhecer do núcleo urbano da cidade.
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Nos séc. III-IV o perímetro urbano contraiu-se com a construção de uma forte muralha que cercava apenas uma pequena parte daquilo que foi a cidade do Alto Império. As muralhas mostram, aliás, nitidamente terem sido reconstruídas e modificadas ao longo do tempo. As portas actuais não parecem corresponder às romanas. Antes se devem atribuir ao período muçulmano, como sugere o investigador histórico Cláudio Torres, ou mesmo ao período da Reconquista. Com as invasões germânicas peninsulares do início do séc. V a cidade passou a integrar o reino dos suevos. Deste período também pouco se sabe. A informação disponível respeita à criação da diocese da Egitania, com sede em Idanha-a-Velha, talvez por determinação do rei Teodomiro. Em 569 a cidade fez-se representar no Concílio de Lugo.
Em 585 o reino dos suevos foi integrado no reino visigótico. Idanha-a-Velha terá ganho um novo impulso económico e político-administrativo. A cunhagem de moeda em ouro parece ser uma demonstração inequívoca daquele período de prosperidade. Os abundantes elementos de construção ricamente decorados corroboram também esta tese.
(A chamada Catedral de Idanha-a-Velha) O edifício actualmente designado por Sé Catedral é tradicionalmente atribuído àquele período. No entanto, o mais provável é que as suas estruturas assentem sobre um edifício Visigótico que pouco terá a ver com o actual. O baptistério, datável dos séc. Vl-VII, junto à porta sul da Sé, deve ser interpretado como o vestígio da primeira basílica paleocristã. Como a sua planta parece discordante da planta do actual edifício, é de admitir que corresponda ainda ao primeiro templo suevo, sobre o qual os bispos visigóticos erigiram a nova catedral que, sucessivamente reconstruída, deu o actual templo. Idanha-a-Velha foi tomada ao reino visigótico pelos muçulmanos no ano de 713.
Durante o período de ocupação muçulmana a cidade terá atingido uma grande dimensão, se comparada com outros importantes centros urbanos da época como Silves, Beja ou mesmo Lisboa. Alguns autores contemporâneos referem-se-lhe como sendo uma cidade "rica". Nesse período a Sé visigótica foi adaptada a mesquita, com obras de algum vulto. A Porta Norte deve ser atribuída àquela época, assim como os torreões de planta circular adoçados à muralha.
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Em 1114, D. Teresa faz a doação de Idanha a D. Egas Gosendiz dizendo «que há muito está deserta». Afonso Henriques mandou ocupar Idanha e doou-a a Gualdim Pais, da Ordem dos Templários. Tendo sido novamente ocupada pelos mouros, é reconquistada aos muçulmanos no reinado de Sancho I que a volta a entregar aos Templários. No entanto, dada a sua posição, novamente cai nas mãos dos muçulmanos. No tempo de D. Sancho II, Idanha-a-Velha encontrava-se já numa situação de decadência e despovoamento de tal ordem que D. Sancho manda, em 10 de Março de 1240, que «fosse todo o povoado até ao último dia do próximo mês de maio, sob pena de perderem o que seu fosse os que não viessem povoar». Em 1244 foi doada novamente à Ordem dos Templários.
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A Ordem efectuou algumas obras militares das quais a mais conhecida é a torre que assenta sobre o podium do templo do forum. Porém, a deslocação da fronteira cada vez mais para sul e para leste, juntamente com a pouca aptidão defensiva do sítio, provocou um inexorável processo de decadência. Depois de sucessivas tentativas de fixação da população em Idanha, através da concessão de múltiplas benesses, D.Manuel I concede-lhe Foral Novo, em 1 de Junho de 1510, tendo esta sido uma última e frustrada tentativa régia de devolver à cidade o seu prestígio e importância.
Conhecida pelo vasto património histórico que se encontra no interior das suas muralhas, Idanha-a-Velha tem sido campo de estudo de diversos investigadores, principalmente no domínio da arqueologia, atraindo também, por esse motivo, cada vez mais visitantes. Reconhecida a sua importancia no contexto da história regional, e mesmo nacional, o interesse histórico e científico do sítio tem vindo a ser redescoberto e amplamente revisto ao longo dos últimos anos.
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Ao interesse das ocupações romana e visigótica -períodos que quase exclusivamente atraíram os primeiros investigadores - parecem equiparar-se, por justiga e fidelidade à história, as ocupações muçulmana e medieval, a que os investigadores nos tempos mais recentes têm dado realce. De qualquer modo, o interesse histórico-científico da aldeia reside precisamente na sucessão das ocupações de diferentes povos e culturas e não na hegemonia e superioridade de uma determinada ocupação.
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O interesse em estudar Idanha-a-Velha remonta ao Renascimento, já que a abundante colecção de inscrições latinas desde cedo recebeu a atenção de diversos humanistas. Foi, no entanto, entre finais do século passado e inícios deste que José Leite de Vasconcelos e Félix Alves Pereira redescobriram e divulgaram a aldeia, nomeadamente nos aspectos relacionados com a sua ocupação romana. A estes dois investigadores devem-se os primeiros estudos monográficos com carácter científico. Foram também os primeiros a recolher materiais arqueológicos, actualmente depositados no Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia. Ainda naquele período, Francisco Tavares de Proença Júnior, um dos mais ilustres investigadores regionais, publicou alguns estudos sobre materiais arqueológicos de Idanha-a-Velha.
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Nos anos seguintes a aldeia caiu novamente no esquecimento, interrompido esporadicamente por uma ou outra referência ou pequeno artigo em revistas de arqueologia. A investigação arqueológica só viria a ser retomada no início dos anos 50, por intermédio do investigador Fernando de Almeida, a quem se deve a projecção de que o sítio goza actualmente. Com efeito, este investigador compilou toda a informação dispersa e recolheu no terreno uma massa considerável de dados. A obra Egitania - História e Arqueologia, publicada em 1956, resultado daquele trabalho académico,constitui a primeira, e até agora única, síntese sobre o sítio. Em 11 de Agosto de 1982 a Catedral e as ruínas envolventes, classificadas como «Imóvel de Interesse Público» desde 1956, ficaram afectas ao então Instituto Português do Património Cultural (IPPC).
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Os comentários do IGESPAR:
«Os vários povos que passaram por Idanha-a-Velha (a antiga Egitânia romana) deixaram diversos vestígios monumentais. Com efeito, Idanha-a-Velha foi a capital da civitas Igaeditanorum, que parece ter sido fundada por Augusto. Não tendo existido oppidae anteriores, este facto teve, provavelmente, como consequência imediata um maior investimento na área construtiva do que nas povoações onde aquelas estruturas já existiam. Estas edificações eram dirigidas pelos magistri eleitos, que governavam a sua respectiva civitas por não possuírem o ius Latii. Entre outras características construtivas, constatamos que Idanha-a-Velha não possui acrópole, como sucederia normalmente noutras cidades romanas, talvez por ter sido erguida numa ligeira ondulação de terreno. Todavia, tal facto não impediu que o seu principal centro cívico fosse instalado num dos seus pontos mais elevados, coroando a povoação, embora de uma forma menos evidente e monumental. Embora não detenhamos, ainda, todos os dados necessários à possível reconstituição abrangente e fiel do forum (tal como sucede em Conímbriga), os vestígios arqueológicos de Idanha-a-Velha possibilitam, contudo, localizá-lo. É o caso do podium do templo romano que lhe pertencia, perfazendo aquele que era considerado um verdadeiro centro cívico e religioso da cidade romana.
Sobre esta estrutura foi posteriormente erguida uma torre de menagem pelos templários, encontrando-se a Sul do forum vestígios de uma construção romana, provavelmente reportáveis às termas da cidade do século III d.C.
Das diversas igrejas existentes, sobressai a imponente basílica paleocristã, de três naves (convertida mais tarde em basílica visigótica), eventualmente fundada no século IV, quando Idanha-a-Velha foi sede de bispado e, por conseguinte, uma das povoações mais importantes de toda a região da Beira interior. Esta "basílica" foi sujeita a uma campanha de remodelação durante o século IX, sendo posteriormente adaptada a outros estilos entre os séculos XIV e XVI. No entretanto, era erguida a "Torre dos Templários" precisamente sobre o embasamento de um templo romano, na antiga zona do forum, sobre a qual seria construído um templo medieval. Para além destes edifícios, existia um vasto circuito de muralhas eventualmente subsidiário de uma primeira fortificação datada do século II, e que foi sujeito a remodelações ao longo do século IX, e a reforços durante o período dionísio.
Desde alguns anos a esta parte que decorre um projecto integrado de conservação e valorização dos diversos edifícios históricos constitutivos do conjunto monumental de Idanha-a-Velha, promovido pelo IPPAR, baseado na estratégia de valorização de toda a povoação. Assim, entre outras intervenções, criou-se um passadiço de visita no coroamento da muralha na zona da "Porta Norte", reconstruindo-se os torreões aí existentes e projectando a reconstrução de uma antiga casa de fundação manuelina para instalação do posto de turismo de Idanha-a-Velha, realizado no âmbito da filosofia de intervenção nos monumentos arqueológicos visitáveis, tendente a criar infra-estruturas imprescindíveis ao melhoramento da interpretação dos sítios visitados, ao mesmo tempo que a regular e disciplinar os fluxos de visita» In IGESPAR, A. Martins.
Cortesia da Camara Municipal de Idanha-a-Nova/IGESPAR/AMartins/JDACT